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Opinião
Quinta - 16 de Outubro de 2014 às 10:23
Por: Roberto Boaventura

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No calor do segundo turno das eleições 2014, trato neste artigo da “chegada” das camadas populares ao ensino superior privado no Brasil, uma vez que no anterior, “Universidades e eleições 2014”, publicado na semana passada, falei do acesso dos brasileiros mais pobres ao ensino superior público.

As considerações aqui expostas pretendem reflexionar sobre o seguinte “mantra”: “...o Brasil nunca antes na história viveu tanta inclusão no ensino superior”. Isso foi dito em 11/09/14, durante um encontro, em Brasília, de reitores (das federais) com a candidata do PT à reeleição.

Antes, preciso dizer que ao ver a foto daquele encontro (que nem poderia ter havido, caso os reitores fossem democráticos), lembrei-me do beija-mão: uma cerimônia antiga entre os humanos. "De fato, nunca os mais pobres – cuja maioria estudou em escolas públicas, em geral, sem nível algum – puderam chegar em tão grande número ao ensino superior."

Em Portugal, sua origem está na Idade Média, que herda esse costume nojento à corte imperial brasileira. O “beija-mão” consistia em uma cerimônia em que o monarca permitia a proximidade do vassalo. Este, depois de puxar o saco do rei podia lhe pedir favores. Pasmem: o povo tinha orgasmo com tais encontros.

No Brasil, no tempo de Dom João VI, a pessoa se aproximava, ajoelhava-se diante daquela figura, e beijava-lhe a mão estendida; depois se levantava, fazia outra genuflexão e se retirava pelo lado direito.

Coincidências com roupagens novas à parte, e muita gente supondo, hoje, que está a sair pelo lado esquerdo, vamos às falsas inclusões nas privadas brasileiras.

De fato, nunca os mais pobres – cuja maioria estudou em escolas públicas, em geral, sem nível algum – puderam chegar em tão grande número ao ensino superior. Porém, a questão é saber: em que tipo de instituição chegaram?

Nas piores, com raríssimas exceções. Na verdade, nem poderiam ser chamados de estudantes, mas de clientes, pois foram jogados nas privadas. Em tais espaços, a picaretagem e o pacto da mediocridade reinam: os “incluídos” fingem estudar; as empresas fingem ensinar. Bola pra frente! É o país dos enganos e dos enganados!

Mas como financeiramente tanta gente foi parar nas garras desses farsantes da educação?

Com o desvio bilionário de recursos públicos a essas empresas de picaretas nacionais e internacionais. Pior: o desvio se dá de forma legalizada por meio de dois programas do governo petista: ProUni e Fies. Deste, por ser um financiamento, o estorno é algo que até pode ocorrer. Duvido, mas pode. Do ProUni, nem pensar; ele entra como bolsa, parcial e/ou integral.

Ambos os programas foram pensados não para qualificar intelectualmente nossa juventude, mas para 1º) salvar empresas do setor de inadimplências e 2º) angariar votos no futuro, que já chegou com força nessas eleições; dois coelhos com uma só cajadada.

Nesse cenário, claro que um ou outro estudante, mesmo portando diplomas sem lastro acadêmico, há de ter alguma ascensão social; afinal, a carência de mão de obra, por pior que seja, já nos é um problemão.

Todavia, isso não se sustenta por muito tempo; e tampouco essa mão de obra precária nos fará uma sociedade melhor. Ao contrário. Prédios e viadutos cairão ainda mais, médicos matarão mais, professores assassinarão seus alunos às toneladas... Futuro sombrio.

Sendo assim, qualquer governo que quiser incluir de verdade as camadas pobres no ensino superior, e é bom que o faça, só tem uma saída: construir mais universidades públicas, mas permitindo que elas tenham vida autônoma, tanto acadêmica quanto financeira.

Fora disso, sem chance. É repetir o mantra da falsa inclusão que não se sustentará por muito tempo.



Autor

Roberto Boaventura

ROBERTO BOAVENTURA  é doutor em jornalismo e professor de Literatura da  UFMT

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