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Opinião
Quinta - 13 de Novembro de 2014 às 16:31
Por: Roberto Boaventura

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Cá estou novamente falando do nem antemão, digo que “Nem-Nem”, segunda parte do título deste artigo, não se refere ao neném, do sexo feminino, que uma adolescente de dezessete anos deu à luz – isso ainda é comum acontecer em nosso país – durante a realização da prova do Enem último domingo; isso já é inusitado.

“Nem-Nem” é um dos nomes dados a uma parte de nossos adolescentes e jovens. Resumidamente, refere-se àquele que não está “nem aí para o estudo, nem aí para o trabalho”.

Conforme pesquisas, estimam-se que, dentre dez, dois adolescentes e jovens estão “se lixando” para a vida. No formato das pesquisas feitas, a maior parte concentra-se entre as meninas, justamente por conta de gravidezes precoces.

De minha parte, ainda que na condição de mero observador do comportamento social das pessoas, penso que explicar a “Nem-nem” apenas pelo descaso aos estudos e trabalho é pouco, é não ir ao âmago da questão.

Qual seria esse âmago? "Em outras palavras, está havendo uma onda de exagerada flexibilização da educação (em todos os sentidos) de nosso povo, acentuadamente de nossas novas gerações. "

A amplitude do “nem-nem”. Como, para mim, ele não se circunscreve à falta de dedicação aos estudos e ao desinteresse pela busca de um posto de trabalho, penso que há muito mais “Nem-Nem” por aí do que o que as pesquisas apontam como tal.

Como assim?

O desdém a tudo, por parte desse segmento social, atinge até as normas básicas de convivência, de tal forma que estamos consolidando a ideia do “país das delicadezas perdidas”.

Em outras palavras, está havendo uma onda de exagerada flexibilização da educação (em todos os sentidos) de nosso povo, acentuadamente de nossas novas gerações.

Sendo assim, e agora tudo agravado pelo comportamento de gente ensimesmada que os celulares, os fones de ouvido e congêneres provocam – ainda que no plano ideológico se queira vender o contrário –, a maior parte dos jovens passou a “c... e andar” para o que acontece ao seu redor.

Essa onda comportamental vai relaxando e comprometendo todas as regras sociais.

Para muitos professores, p. ex., tem sido um inferno dar aula a esse tipo de público, cada vez em maior número. Para muitos patrões tem sido um teste aos nervos suportar um jovem trabalhador com os olhos grudados numa tela o dia inteiro, sem o menor foco para a atividade que está a exercer.

Pior: trocar um jovem por outro pode significar, em muitos casos, a troca do seis por meia dúzia.

Que situação!

Situação que estamos alimentando.

Como?

Flexibilizando tudo que diz respeito ao processo de maturidade psicológica de nossas novas gerações. Com receio de sermos opressivos, faltamos com o rigor da cobrança das responsabilidades sociais das crianças, adolescentes e jovens. O resultado está aí: “nem-nem” e “beijinho no ombro”.

Mas o que o Enem tem a ver com isso?

Muita coisa. Esse exame, junto com o SiSu (Sistema de Seleção Unificada) trabalha na mesma lógica da irresponsável flexibilização geral desta nossa época.

Ex.: a pontuação do Enem não dá para o curso escolhido? Sem problemas. Opte por outro qualquer. Não dá pra uma federal? Bobagem! As privadas te esperam. O Fies e o Prouni estão aí pra quê?

No mais, em cada esquina há uma faculdade. Uma pior que a outra, mas o que importa isso? Desde que reconhecido pelo MEC, diploma é diploma.

Isso tudo deseduca. Retira a obrigação das escolhas responsáveis. Compartilha com a falta de foco das novas gerações.

A dobradinha Enem/SiSu vai ajudando a consolidar nas mentes dos mais jovens uma atitude social descompromissada com a própria vida. “Nunca antes...” fomos tão irresponsáveis com o nosso futuro.

Aonde chegaremos como isso?

No limbo.

Quando?

Logo.



Autor

Roberto Boaventura

ROBERTO BOAVENTURA  é doutor em jornalismo e professor de Literatura da  UFMT

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