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Opinião
Sexta - 15 de Julho de 2016 às 19:14
Por: Eduardo Mahon

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Duas declarações antecipam o nível do processo eleitoral da capital.

De um lado, Valtenir Pereira afirma que “Mauro Mendes não sabe se é prefeito, empresário ou garimpeiro”.

De outro, Suelme Evangelista, uma espécie de procurador para responder pelo alcaide, dispara: “os opositores são petistas enrustidos” e “farinha do mesmo saco”. Se for verdade, Suelme querendo defender, acabou por atacar, colocando o prefeito nesse balaio.

Cá do meu lado, vejo que, de fato, todos se merecem.

Cuiabá chega aos 300 anos com cara de 300 anos: arrasada, decrépita, sem nenhuma esperança. Procura-se prefeito...

O eleitor vê-se num drama de votar no prefeito que é capaz de abandonar Cuiabá em pleno aniversário da cidade ou optar por franco-atiradores, cada qual com uma aliança mais esdruxula do que a outra.

Mauro Mendes foi desmontado. A imagem de empresário arrojado e responsável caiu por terra com a recuperação judicial de suas empresas.

E mais: a blindagem da honestidade de cristão-novo na política está seriamente comprometida pela ação que apura o comportamento empresarial num leilão entre sócios-compadres, cambalacho responsável por aposentar compulsoriamente dois juízes trabalhistas.

A agressiva tropa de choque do prefeito deve se acostumar a responder não apenas o que se diz politicamente sobre o chefe, mas judicialmente o que acusa o Ministério Público Federal. Nos tempos atuais, uma acusação deste calibre derruba até presidente da república.

Na conta do prefeito, ainda está a incapacidade de ajudar a questão da mobilidade urbana. Esse é outro tema que ainda não foi explorado pela oposição, mas será.

As obras de Silval Barbosa foram licenciadas e acompanhadas pelo poder público municipal. Onde fica a comunhão de responsabilidades? Não se sabe.

A saúde municipal continuou sobrecarregada e incapaz de responder ao cidadão que mendiga atendimento. Não serão os pouquíssimos leitos do Hospital São Benedito capazes de justificar quatro anos de paralisia quanto ao Hospital Municipal de Cuiabá, ambos erguidos com dinheiro alheio.

O mesmo se diga quanto à falta de pulso em tomar uma atitude em tempo hábil contra a CAB.

Mas quem estará apto ao cargo? Julier Sebastião, o ex-juiz com a base de esquerda alinhada ao petismo?

Em meio ao fenômeno de rejeição política ao partido mais execrado do país, Julier Sebastião tentará replicar a imagem de “intocável” e “paladino” como já o fez Pedro Taques.

Ocorre que o modelo também é manjado. No caso do ex-magistrado, há o problema adicional de ter ele se batido contra muitas áreas que poderiam auxilia-lo: construção civil, produtores rurais, distribuição da água e uma base da tradicional cuiabania ressentida pelo cheiro de perseguição movida com a toga contra alguns dos mais ilustres filhos da terra.

Quem poderá conduzir Cuiabá aos 300 anos? Valtenir Pereira?

Dificilmente. O parlamentar é um profissional da oportunidade. Cavando a tragédia familiar, comoveu milhares de eleitores com uma história de vida, de fato, admirável. Criado com dificuldade, ele e seus irmãos são vencedores.

É um fato. Mas um fato desgastado e a ternura de uma narrativa chorosa é insuficiente para eleger alguém prefeito.

Valtenir esquivou-se seguidamente no caso do impeachment até que optou ladear-se de Dilma Rousseff, a presidente mais impopular da história brasileira.

Mato Grosso tem um placar largo de rejeição ao petismo. Não bastasse o peso do PT, há ainda o nada juvenil Carlos Bezerra, o mesmo que enterrou a candidatura de Julier Sebastião, na vez passada.

Quem sobra? Lamenta-se pela condenável omissão do tucanato cuiabano que deve estar incomodando Dante de Oliveira e Paulo Ronan.

O PSDB tem o atual governador e o atual presidente da Assembleia Legislativa. Ainda assim, o partido não consegue ter a competência de se unir em torno da candidatura própria, nem sequer para expor seus projetos – pelo jeito, inexistentes – em favor da administração municipal.

Partido forte é o que tem plataforma e candidato. É uma vergonha que os tucanos estejam sujeitos aos caprichos do atual prefeito, mendigando a metade da gestão que ele deixará pelo caminho.

Pior: mesmo com o governador e com o presidente do parlamento estadual, o tucanato é esnobado por Mauro Mendes, seduzido por outras possibilidades mais atraentes.

Esse é o cenário. Pequenos, minúsculos, inexpressivos não demandam tinta. De radicalismos, estamos cheios. A retórica estatizante não nos faz nada bem.

Escuto cada discurso que só caberia em circo. Estamos mal. Muito mal.

A falta de opção ganhará a eleição. Se Mauro Mendes for eleito, foi pela incoerência de uns e pela incompetência de outros.

Seria melhor a Justiça Eleitoral anunciar o cargo nos classificados. Para nós, eleitores, todas as opções são péssimas.

Cuiabá chega aos 300 anos com cara de 300 anos: arrasada, decrépita, sem nenhuma esperança.

Procura-se prefeito...

EDUARDO MAHON é advogado em Cuiabá.



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