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Opinião
Quarta - 12 de Maio de 2021 às 06:30
Por: Lucineia Soares

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Quem está acompanhando a recuperação, se é que poderemos chamar de recuperação, ou será na verdade um outro normal, irá compreender o título do artigo.

A ordem angustiante da pandemia se inicia com o medo de contrair a COVID ou que alguém próximo seja contaminado. No meu caso, meu pai, naquele momento, com o teste positivo nas mãos, tudo o que se sabia sobre a doença, informações científicas a partir de fontes seguras deixam de existir e a vida da pessoa passa a depender até mesmo passa a pertencer a uma equipe de profissionais.

A você cabe ficar atento aos remédios que estão sendo administrados, correr no Google, buscar a sua utilidade, contraindicações, pesquisar quais protocolos estão seguindo e a cada entrada do enfermeiro, da técnica, da médica, tentar educadamente um esclarecimento, um alívio, um alento. Afinal, os profissionais também estão nos seus limites.

E lá se foram 29 dias de internação, muitos exames para tratar o quê a COVID provoca no organismo. E agora já sabemos que o vírus provoca muitas outras coisas. Dentre elas, muitas foram provocadas pela desinformação largamente difundida e defendida, porque quem deveria agir com precaução, como o uso a Ivermectina que pode ter sido uma das causas de uma lesão no fígado. Sabemos que comprovadamente tratar vermes não tem nada a ver com o enfrentamento de um vírus.

Depois do medo de contrair, de morrer, você sai do hospital curado da COVID, somente dele, porque o pulmão não é o mesmo, o fígado, a força muscular, o ânimo, a disposição, a saúde mental, nada, nem do paciente e nem de quem está próximo dele.

E isso é terrível!!!

Não há mais um dia igual ao outro. Não há uma estabilidade, não há uma certeza de que tudo voltará, no mínimo, a ser próximo do que era.

E isso reafirma algo que muitos economistas dizem, inclusive, em outros artigo que escrevi, que não há dicotomia entre a vida e a economia. A economia depende da vida, da vida de pessoas saudáveis, com plena capacidade física e mental.

O meu pai tem 71 anos e é aposentado. O impacto da sua condição na economia é pequeno. Agora, imagine uma geração de jovens e adultos com sequelas que restringem a sua capacidade de trabalhar, de produzir, de ter renda, consumir, para além dos medicamentos, ter prazer pela vida e voltar a ter equilíbrio emocional

E isso tudo em um país onde é preciso trabalhar e contribuir por 40 anos para ter direito à aposentadoria.

Imagine!!!????

Esses trabalhadores precisarão mais vezes da Previdência Social, se estiverem no mercado de trabalho com a carteira registrada devidamente.

Se não estiverem nesta condição, o retorno à atividade laboral pós-Covid será no mercado informal, onde estarão desprotegidos e à margem dos direitos.

E em um cenário mais negativo, não conseguindo retornar ao mercado de trabalho formal ou informal, serão usuários da Política de Assistência Social.

Lembrando que a grande maioria das pessoas irá para o SUS em busca dos serviços de reabilitação pulmonar, muscular, vitaminas, medicamentos etc., não conseguindo, o seu quadro clínico não apresentará uma boa evolução.

Portanto, o mesmo Estado que é governado por um presidente que critica severamente as medidas de segurança sanitária, o país que mesmo tendo uma das políticas públicas de imunização mais eficientes do mundo e que não consegue avançar significativamente na vacinação contra a COVID, em um futuro próximo, virando a esquina, deverá, mas talvez não faça, a destinação de mais recursos para estas políticas públicas

À outra parte da sociedade que apoia estas críticas, peço que imagine o futuro da sua empresa que precisaria de trabalhadores criativos, ávidos, saudáveis fisicamente e principalmente mentalmente, terão à sua disposição no mercado de trabalho pessoas adoecidas, fragilizadas e muito distantes do que seria sua produtividade sem a COVID.

Após um mês de alta do hospital, o retorno ao médico, o resultado dos exames deixou claro que o período pós-Covid é terrivelmente amedrontador, porém, será o nosso normal e isso não é bom nem para a vida dos brasileiros e nem para economia.

Lucineia Soares é economista, mestra em Política Social e doutora em Sociologia.



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