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Opinião
Quarta - 23 de Junho de 2021 às 11:27
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Quando costumamos dizer que já presenciamos de tudo no que diz respeito à discriminação e violência contra as mulheres, ainda não. Em meio à vacinação contra a Covid-19, determinado secretário de saúde de certo município foi entrevistado quanto ao horário de vacinação da população por idade.

E a resposta dele, ao vivo, foi surpreendente.

Repórter se aproxima do entrevistado, cumprindo com as normas de segurança e protocolo para evitar a contaminação da doença e pergunta: “Quais serão as idades para amanhã?

E ele responde: “54 e 55 anos”. E segue o entrevistador: “E aí não tem a questão de horário, não é, para quem tem 54 ou 55 anos, vai todo mundo lembrando somente aquela tática de mulheres pela manhã e homens à tarde, é isso?’’ E entrevistado responde: “É isso, que é para as mulheres voltarem logo para fazerem a comida mais cedo. Segue essa regra, por aí, mulher tem prioridade, vai de manhã e homem à tarde’’.

E a pergunta que fica: é isso mesmo? E outra pergunta: quem se alimenta? Quem trabalha fora de casa? De quem é a casa? E os filhos e filhas, nasceram apenas com a presença materna, devendo a obrigação ser apenas delas em alimentar?

Quanto mais caminhamos, e abrimos espaços para reflexões em torno do que é ter liberdade, viver em paz, dividir papeis e tarefas do lar, outros tantos passos acabam acontecendo, com a finalidade de dizer a elas que o espaço de casa é o delas. Seria isso mesmo?

Em certa ocasião, realização de audiência de oitiva de uma testemunha do sexo masculino e que se entende do gênero masculino. O homem adentra a sala de audiências e se depara com uma juíza, uma defensora pública e uma promotora de justiça reunidas para ouvir respectivo depoimento. O que se ouve dele assim que se depara com as três profissionais: “Três mulheres, estou enrolado!”.

Outra ocasião, certo homem, em processo civil, onde lhe é demando o pagamento de pensão alimentícia para duas filhas e um filho, todos menores de idade.

A reação do homem é inimaginável! Aos prantos afirma que não pagará pensão alimentícia para ninguém. Afirmando, ainda, que tem vontade de se matar, para não efetuar o pagamento de pensão para os seus rebentos.

Não aceitar é a forma de agir! Resistência é a palavra!

O que esses fatos possuem em comum? O de serem todas de órbita a ditar que são homens privilegiados pela condição de gênero, e que são intocáveis por isso.

O lance de acharem que devem chegar e encontrar casa, comida e roupa lavada, sem que movam sequer um dedo para que isso aconteça. A situação de entenderem que não podem ser questionados por mulheres, ainda que elas estejam exercendo função pública. E, por último, do entendimento de que nenhuma mulher o obrigará a efetuar o pagamento de pensão alimentícia para filhas ou filhos, mesmo sendo por ele registrados e registradas como filhos e filhas.

O que dizer de tudo isso? O que pensar, quando mulheres são corpos extremamente sensualizados pelo fato de serem mulheres? O que dizer quando as suas vozes devem se calar, quando eles começam a falar? Até onde tolerar? O que é certo ou errado nessas manifestações que trazem discriminações ao gênero?

Não aceitar é a forma de agir! Resistência é a palavra!

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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