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Saúde
Sexta - 13 de Março de 2009 às 14:29

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Quando Jo Symons descobriu que tinha câncer, houve uma complicação extra: os médicos não conseguiram determinar que tipo de câncer ela tinha. Foram encontrados tumores em seu pescoço, peito e nódulos linfáticos. Mas esses tumores haviam se espalhado a partir de outro lugar e os médicos não conseguiram determinar se o local de origem era o seio, o cólon, o ovário ou outro órgão. Sem saber disso, eles não puderam oferecer um tratamento adequado.

Estima-se que tais tumores misteriosos representem de 2% a 5% de todos os cânceres, ou pelo menos 30 mil novos casos por ano nos Estados Unidos, o que os torna mais comuns que os cânceres de cérebro, fígado e de estômago. Para os pacientes, tal diagnóstico pode gerar uma agonia em dobro - eles não apenas têm câncer, mas os médicos não são capazes de tratá-lo adequadamente.

"Você não acredita que, no século 21, seja possível para a profissão médica não saber de onde um câncer vem," disse o marido de Symons, John.

Mas agora a medicina do século 21 pode ajudar. Novos testes genéticos podem apontar a origem dos tumores misteriosos. Os testes, que custam mais de US$ 3 mil cada, ainda precisam de maior comprovação de que são eficazes, dizem os especialistas, embora alguns estejam esperançosos.

"Posso lhe dizer que houve diversos pacientes meus que tiveram a terapia alterada" com base nos resultados dos testes, disse o doutor F. Anthony Greco, diretor do Centro de Câncer Sarah Cannon em Nashville e especialista líder em câncer de tumor primário desconhecido, ou CUP na sigla em inglês, como a doença misteriosa é oficialmente conhecida.

Greco disse que, aparentemente, o tumor primário em muitos casos é pequeno demais para ser detectado e em outros casos ele pode ter desaparecido. "Não temos idéia do motivo pelo qual o tumor primário não cresce," ele disse.

Tais tumores são tipicamente encontrados no fígado, nódulos linfáticos ou ossos, mas também podem estar em outros lugares. Quando suas amostras, tiradas de uma biópsia ou extração cirúrgica, são examinadas com um microscópio, elas não se parecem com o câncer que se originaria nos lugares em que são encontrados. Nem as células claramente se parecem com as do câncer de mama, cólon e outros tipos de câncer.

O problema é que tratamos o câncer com base em sua origem. Se um câncer que se originou no seio é encontrado no fígado, ele ainda é classificado como câncer de mama e tratado com drogas para câncer de mama.

Sem tal classificação, os médicos podem usar drogas que funcionem para uma variedade de cânceres. Mas se presume que tal tratamento seja menos eficaz que aquele no qual são usadas drogas específicas para um tipo de câncer.

Por isso, a descoberta de um câncer não classificado freqüentemente gera uma busca frenética pelo tumor original.

"Fiz todos os testes possíveis - tomografia por emissão de pósitrons, por ressonância magnética, colonoscopia, mamografia - até engoli uma pílula com uma câmera" para tirar fotos do trato digestivo, escreveu Lori Young de Huntsville, Alabama, em um website para pessoas com câncer de tumor primário desconhecido. Mas seu tumor original não pôde ser encontrado.

Young, 39, mãe de dois filhos, descobriu que tinha tumores que haviam se espalhado para seu fígado em outubro de 2007. Ela está sendo tratada com drogas normalmente usadas para câncer de pulmão.

Pacientes dizem que a incapacidade de encontrar o tumor original aumenta a ansiedade. "Você está sempre na incerteza," disse Susan Droman de Akron, Ohio, que descobriu ter câncer de tumor primário desconhecido após o mesmo ter se espalhado para sua vértebra há um ano, causando uma dor severa. "Teríamos ficado mais contentes se fosse um tumor que conseguíssemos ver e remover."

Mark Kargul, ex-piloto de uma companhia aérea de San Clemente, Califórnia, que possui tumores misteriosos em seu fígado, associou a experiência à de ser incapaz de encontrar a fonte de um vazamento em casa. "Você pode enxugar o chão," Kargul disse, "mas no dia seguinte, a enchente vai estar de volta."

É até mesmo complicado para os pacientes explicarem sua situação a amigos e parentes, ou receber conselhos dos mesmos. Os novos testes podem solucionar alguns mistérios. Já existem quatro deles no mercado e pelo menos mais um está sendo desenvolvido.

Geralmente, os testes analisam quais genes estão ativos ou inativos em uma amostra de tumor. Eles comparam a impressão genética com impressões de tumores conhecidos, tentando encontrar correspondências.

O teste Tissue of Origin da Pathwork Diagnostics, de Sunnyvale, Califórnia, avalia a atividade de 1,5 mil genes. O CancerType ID, da BioTheranostics, de San Diego, checa 92 genes. O teste CupPrint da holandesa Agendia, analisa cerca de 500 genes. Este teste ainda não está disponível nos Estados Unidos.

O teste MiRview Mets da israelense Rosetta Genomics assume abordagem diferente, analisando microRNA, minúsculos fragmentos de material genético que contribuem para o controle das atividades dos genes.

Apenas o teste da Pathwork foi aprovado pela FDA, agência americana reguladora de medicamentos, embora a versão aprovada tenha sido substituída por outra mais prática ainda não aprovada. Laboratórios podem oferecer testes sem a permissão da FDA, mesmo aqueles sob avaliação.

Os testes têm geralmente precisão de 80% a 90%, de acordo com estudos publicados. Mas isso ocorre quando são usados em tumores cuja origem é conhecida. Na prática, os testes seriam usados em tumores de origem desconhecida. E esses podem ser, por sua própria natureza, mais difíceis de classificar, disse o doutor Lawrence Weiss, chefe de Patologia do centro de câncer City of Hope em Duarte, Califórnia.

Um estudo publicado em setembro no Journal of Clinical Oncology relatou que o teste da Agendia classificou corretamente 83% das amostras de tumores conhecidos. Mas só conseguiu classificar 64% dos desconhecidos.

E, naturalmente, se a origem do tumor é realmente desconhecida, como alguém pode saber se o teste genético traz a resposta correta? Uma forma, segundo Greco, são aqueles raros casos em que o sítio primário se torna conhecido meses mais tarde, como um paciente que de repente começa a sentir dor numa região.

Greco coletou as amostras de biópsia originais de alguns desses pacientes e descobriu precisão de 70% na classificação dos tumores no teste BioTheranostics, em comparação a apenas 10% a 20% das mais avançadas técnicas de patologia.

Esses testes ainda precisam provar seu valor. Algumas biópsias não fornecem material genético suficiente para análise. Droman, por exemplo, não conseguiu qualquer resposta do teste da Rosetta, nem Kargul do teste da BioTheranostics.

Weiss, do City of Hope, disse que patologistas agora usam anticorpos que podem se associar a proteínas reveladoras no tumor. Essa técnica de imunohistoquímica pode classificar cerca de dois terços dos tumores que seriam considerados primários desconhecidos a 30 anos atrás, disse Weiss. Isso significa que apenas um terço, ou 1% de todos os cânceres, pode se beneficiar dos novos testes genéticos.

No entanto, para esses pacientes, a despeito de quantos sejam, qualquer pista pode ser bem-vinda. O doutor Martin A. Martino, oncologista ginecológico do Lehigh Valley Health Network em Allentown, Pensilvânia, disse que usou recentemente o teste da Pathwork para classificar o tumor de uma paciente como câncer ovariano. Isso permitiu que ela se inscrevesse num ensaio clínico que testava uma nova droga contra o câncer de ovário.

A principal prova do valor dos testes seria mostrar que pacientes vivem mais após passarem por eles, presumidamente porque tendem a receber tratamento mais adequado a seu tumor.

"Essa é realmente a grande questão por enquanto," disse James Abbruzzese, chefe da junta de Oncologia Gastrointestinal do Centro do Câncer M.D. Anderson, da Universidade do Texas em Houston. "Os pacientes conseguem resultados melhores ao se submeterem a tratamentos que dão uma idéia mais clara sobre onde o câncer surgiu?"

O centro trata de 250 a 350 pacientes anualmente com câncer primário desconhecido. E usa os testes genéticos em circunstâncias selecionadas. "Procuramos nos perguntar, "essa informação vai mudar o tratamento que recomendamos ao paciente?'" disse Abbruzzese.

Jo Symons fez o teste da Agendia, mas não antes de passar por dois regimes diferentes de quimioterapia, ambos sem sucesso. O teste mostrou que ela tinha câncer pancreático, então lhe deram quimioterapia para esse câncer.

Mas o câncer pancreático é notoriamente difícil de se tratar, e ela morreu em setembro de 2006, apenas sete meses após seu diagnóstico inicial. Para ajudar outros pacientes, John Symons organizou a Cancer of Unknown Primary Foundation (Fundação do câncer primário desconhecido), também conhecida como Jo¿s Friends (Amigos da Jo), após a morte de sua esposa (www.cupfoundjo.org).

"Talvez tenha feito mais uma diferença psicológica do que em termos de tempo," Symons, que vive próximo a Oxford, Inglaterra, disse sobre o teste genético. "Nos deu conforto identificar de onde o câncer havia surgido. É muito desconfortável não saber de onde um problema no seu corpo surgiu."

Tradução: Amy Traduções





Fonte: The New York Times

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