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Internacional
Domingo - 09 de Dezembro de 2007 às 11:11

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Paris, 9 dez (EFE).- Os idosos com mais de 80 anos, que "poderiam ser nossos pais, ou nossos avôs, e que amanhã seremos nós", conquistaram o público do documentário "Qu'allons Nous Faire de nos Parents", que aborda o "arriscado tema tabu".

A diretora de documentários do "Canal Plus", Christine Cauquelin, disse à Agência Efe que temia o dia da estréia, na terça-feira às 20h30, o horário de maior audiência, mas as pessoas "estavam contentes por ver o filme".

O documentário acabou por incluir o tema no ciclo das questões sociais que devem ser resolvidas com urgência na França.

Quando se trata de uma televisão por assinatura, "a audiência não conta", mas sim a nota de satisfação, explicou Cauquelin. A nota, com máximo de 6, avalia os documentários e ficções francesas e estrangeiras que a rede produz ou co-produz dentro de sua linha editorial.

Contrariando todas as previsões, "Qu'allons Nous Faire de nos Parents" (Que faremos de nossos pais, tradução livre) obteve 6, a maior e melhor nota desde o início da temporada.

A favor de chamar "velho de velho" e "preto de preto", sem alternativas politicamente corretas, Cauquelin evocou a atual depreciação não só do termo, mas a fase inteira da velhice, que continua sendo vista "como um naufrágio", o que não surpreende, já que é a última antes da morte, que também não se sabe assumir.

A dramática situação atual na França de uma grande maioria de idosos "é uma questão de dinheiro", afirmou. Para ela, é preciso injetar recursos na ajuda aos mais velhos "porque a carga que recai sobre as famílias é muito grande, humanamente e financeiramente".

Os casais têm filhos cada vez mais tarde, "e estes ainda não saíram da adolescência quando já precisam cuidar dos pais", o que se une "à queda do nível de vida na França".

Faltam abrigos e pessoas bem formadas para cuidar, não só técnica, mas humanamente dos idosos, e para evitar maus-tratos, inclusive os mais sutis, tão freqüentes e traumáticos, como revela o documentário.

Encontrar uma maneira para terminar a vida o melhor possível "é uma prioridade nacional", à qual se deve dar atenção "para que esta parte da população seja tratada corretamente", disse.

Cauquelin lembrou que a população "ganha idade" e que, em 2050, um quarto da população francesa terá mais de 65 anos.

Em vez de ficarem felizes, os cidadãos vêem o fato como um drama. "Na realidade, essas pessoas são os nossos pais, somos nós", ressaltou.

Estes são alguns dos debates que Christine Cauquelin quis suscitar com a obra encomendada à produtora Laëtitia Moreau, consciente de que a velhice "é uma sorte, e uma etapa normal e necessária na vida", não uma praga.

Curiosamente, conseguiu-se prolongar a vida, "e, em vez de comemorar o fato, os velhos são considerados como um peso, porque oficialmente não consomem e custam caro". Em vez de ser uma boa notícia, "vê-se como uma catástrofe nacional", afirmou.

Na África, "os velhos ganham algo". Quando um deles começa a perder a cabeça, "diz-se que seu espírito vai para o mundo dos ancestrais e que ganhou acesso a algo a que os outros não têm, e continua sendo respeitado", enquanto na França se pensa que perderam faculdades e poder de compra.

"No filme, quisemos falar dessa faixa de idade, a partir dos 80 anos, que os demógrafos consideram velhos", afirmou.

A maioria dos protagonistas procede dessa classe média para a qual não existem muitas soluções quando voltam a ficar dependentes, explicou Cauquelin.



Não são tão pobres a ponto de entrar na assistência pública, mas suas mínimas pensões não são suficientes para custear uma residência digna, já que as mais baratas desta categoria custam 3 mil euros por mês e por pessoa, acrescentou.

Ela disse que ainda não há um "lobby de velhos, não existem grupos de pressão na França", mas que o momento vai chegar, "porque a chamada geração 'baby boomer' está envelhecendo, e, como são os mais numerosos, vão se ocupar deles mesmos".

A educação nacional, as prisões, a Justiça para os menores e a identidade nacional do ponto de vista das origens são alguns dos temas abordados neste ciclo de assuntos que a sociedade francesa "deve resolver com a maior urgência para poder viver".

Sobre os "velhos", o documentário lembra também, e antes de tudo, que, ao contrário de certas faculdades físicas, "o ser" de uma pessoa não perde consistência nem evapora com os anos, do mesmo modo que uma vela mantém sua chama até o final, e, inclusive, antes de desaparecer aumenta vigorosamente durante alguns instantes.




Fonte: EFE

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