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Cultura
Sexta - 28 de Julho de 2006 às 06:46
Por: Yuri Gomes

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As cores vivas, a maquiagem e as poses das drag queens viraram artesanato na mão da artesã Idalba Reiners e do ceramista Clóvis Graciano. São 20 bonecas feitas exclusivamente para a 3ª Parada da Diversidade Sexual de Mato Grosso, mais conhecida como Parada Gay. Elas estarão expostas na boate ZumZum nesta sexta-feira (28), dia em que é realizado o evento.

"Alguém faz boneca drag? Não. E eu sempre quis fazer isso. Elas (drag queens) são pessoas que admiro, de presença forte. O colorido delas me motiva", disse Idalba, que faz questão de lembrar que o trabalho é uma forma de homenageá-las. E enquanto estiverem expostas, as bonecas estarão à venda.

A artesã trabalhou em conjunto na produção com Ariovaldo Morais Dutra. Após uma pesquisa sobre o assunto e muita observação, foram feitos os desenhos. As ilustrações traziam os traços característicos de cada boneca como ombros mais largos, rosto mais masculino. "Por mais femininas que sejam, elas têm características masculinas transformadas em mulher, mas de uma forma expressiva e colorida", explicou Idalba.

Feitos os desenhos, o próximo passo foi dar profundidade aos traços - já que nos desenhos não é trabalhada a questão da perspectiva. É Clóvis quem transforma o barro nas bonecas. E tudo é artesanal, da coleta da argila à pintura. Segundo Idalba, esse caráter "feito à mão" é o que diferencia cada peça, tornando-a única - mesmo se tratando de uma produção em série. "Não trabalho com o tradicional. As pessoas buscam coisas diferenciadas", disse.

O fazer - Primeiramente a argila é molhada, depois pisada e dela são retiradas as sujeiras, como pedras e pequenos galhos. Como se preparasse um pão, Clóvis amassa a argila e no torno - uma máquina movimentada com os pés - as bonecas começam a nascer de fato. "Não tem molde. São peças únicas. Podem até ter um rosto muito parecido, mas são exclusivas", disse o artesão.

Antes de passar para a próxima etapa, as bonecas precisam de um tempo para secar. Só então são levadas a um forno a lenha cuja temperatura chega a 700 graus centígrados. Elas ficam 12 horas "queimando" antes de receber o tratamento final que envolve pintura, colagem e até o uso de bijuterias.

Seguindo esses passos, em uma semana é possível fazer dez peças. "Se Idalba me dá os desenhos de manhã, à noite ela já tem a peça pronta. Cada boneca eu fiz em duas horas", disse o ceramista.

Os artistas - Idalba se forma este ano no curso de Educação Artística na Unic. Ela pretendo continuar na busca de informações, de técnicas, enfim, tudo que envolve e que pode ser agregado ao artesanato. "Eu tenho um estilo que mescla várias tendências e o antigo com o novo", definiu a artesã. Os próximos trabalhos envolverão figuras tradicionais da história de Cuiabá como Maria Taquara e Mãe Bonifácia.

Clóvis é ceramista há 30 anos. A facilidade é tamanha que ele chega a fazer peças em um minuto - e outras podem lhe ocupar o dia inteiro. O que ele faz hoje foi passado por seu pai. E essa tradição, que é de família, já começou a ser passada para a sua filha de oito anos. Clóvis também ministra aulas. Idalba trabalha com Clóvis há cinco anos. E a união se deu de forma um tanto quanto inusitada: Clóvis veio, a convite do marido de Idalba, ministrar um curso de artesanato na cidade de Dom Aquino. "Era um curso de dois meses e já tenho sete anos por aqui", lembrou.

A origem - Segundo um estudo na área de psicologia, de autoria de Maria Teresa Vargas Chidiac e Leandro Castro Oltramari, as drag queens se caracterizam pelos exageros no figurino, maquiagem e gestos. "J. S. Trevisan (autor de Devassos no Paraíso: a homossexualidade no Brasil da colônia a atualidade - Ed. Record), ao relatar a história da homossexualidade no Brasil, considera a década de 90 como o momento de efetiva emergência das drag queens.

Porém, relata que o fenômeno já vinha ocorrendo desde a década de 70, em casos raros, como o da transformista Laura de Vison. O autor ressalta que a atuação e inserção das drag queens foram facilitadas por causa dos componentes lúdicos e satíricos que envolvem suas performances. Com isto, elas conseguiram se inserir em âmbitos políticos, sendo presenças marcantes e fundamentais nas Paradas do Orgulho Homossexual, realizadas em São Paulo e Rio de Janeiro. Nas eleições para governador de São Paulo, em 1998, elas chegaram a comandar coro em prol da candidatura de Marta Suplicy, durante seus shows em boates gays. As drag queens fazem uma explícita manifestação do gênero feminino em suas personagens, mas no cotidiano mantêm-se masculinos", diz o texto.




Fonte: A Gazeta

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