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Internacional
Terça - 20 de Dezembro de 2005 às 21:00

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Um grupo de celebridades que foram criadas nos bairros periféricos franceses estimulou hoje os jovens dessas regiões a se inscreverem nas listas eleitorais para poder votar e expressar seu descontentamento nas urnas, em 2007. O rapper Joey Starr, o jogador de futebol Lilian Thuram e o humorista e ator Jamel Debbouze são alguns dos rostos mais conhecidos da iniciativa criada depois da onda de violência urbana que estremeceu a França há poucos meses.

O objetivo é convencer todos os jovens, especialmente os que vivem em bairros carentes e enfrentam com desesperança um futuro incerto, de que seu voto é importante e de que, com ele, podem contribuir para mudar uma sociedade da qual se sentem excluídos.

"Votar é existir, é criar um contrapeso. Amanhã, terão com o que contribuir para vida política. Despertem", disse hoje Joey Starr a uma centena de jovens de Clichy-sous-Bois (arredores de Paris) com os quais conversou junto com Debbouze e o ator Jean-Pierre Bacri.

Padrinhos do grupo Devoirs de mémoire-Devoirs d''agir ("Deveres de memória, deveres de agir") os três participaram hoje à tarde de um debate, por vezes tenso, com os jovens da área, que saiu do anonimato - como mais um dormitório nos arredores da capital francesa - para o debate internacional por ter sido o foco da revolta.

Os dois adolescentes que morreram eletrocutados no último dia 27 de outubro ao se esconderem da Polícia em um transformador elétrico eram de Clichy-sous-Bois.

Foi na cidade que começaram os distúrbios que se espalharam por outros bairros conflituosos da França, onde cerca de 10 mil veículos, duas centenas de edifícios públicos (escolas, creches, ginásios, bibliotecas e escritórios para desempregados) e milhares de metros quadrados de imóveis comerciais foram incendiados.

É a partir de Clichy-sous-Bois, habitado majoritariamente por franceses descendentes de imigrantes, que o grupo quer promover um "despertar cívico" dos jovens e dos cidadãos em geral.

Para conseguir isso, Joey Starr, antigo "bad boy" de Seine-Saint-Denis que se tornou famoso com a música "Mais qu''est-ce qu''on attend pour foutre le feu", tenta mobilizar seus colegas.

Muitos deles, como o próprio rapper, têm em comum o fato de e terem crescido nas "banlieues" (bairros periféricos) e, portanto, a vantagem de conseguir mobilizar melhor os jovens da região.

Assim como ele, todos decidiram dar um passo à frente diante do avanço das idéias da extrema direita.

"O título de eleitor é a única forma de se proteger das idéias de extrema direita", disse o ator Guillaume Depardieu. Enquanto isso, Debbouze afirmou que "votar é a única barreira útil" contra essas idéias, que, segundo denunciam, é encarnada pelo "número dois do Governo" e ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, que chamou de "racaille" (gentinha ou escória) os protagonistas dos distúrbios.

Há alguns dias, o jogador de futebol da Juventus e da seleção francesa Lilian Thuran se reuniu com Sarkozy, do qual apareceram cartazes com sua foto e o lema "vote Le Pen" na região parisiense, em referência ao líder ultradireitista francês.

"Disse a ele que seu discurso era perigoso, pois despertava o racismo latente", disse Thuran, que estimulou os jovens a "votarem para existir" e considerou que os incêndios dos carros "eram um tipo no pé", disse em declarações ao jornal Le Parisien.

Após o debate desta tarde em Clichy-sous-Bois, Starr, Debbouze e Bacri acompanharam os jovens à prefeitura da cidade para que se inscrevessem nas listas eleitorais.

Desde 2003, os eleitores são inscritos automaticamente nas listas eleitorais quando alcançam a maioridade, mas para poderem votar têm que validar o registro em suas respectivas prefeituras.

O prazo aberto no último dia 1º de setembro termina dentro de 11 dias, em 31 de dezembro.

Quem tiver essa oportunidade poderá validar sua inscrição de 1 de setembro a 31 de dezembro de 2006. Mas quem não fizer isso não poderá votar, mesmo se quiser, nas eleições presidenciais e legislativas previstas para 2007.

Entre as eleições presidenciais de 1995 e 2002, as duas vencidas por Jacques Chirac, a participação dos jovens de 18 a 24 anos caiu em 10 pontos percentuais.

Segundo dados oficiais, um em cada 10 franceses em idade para votar ainda não está inscrito nas listas eleitorais.

Todos os partidos políticos observam com interesse, mas não se pronunciaram sobre a iniciativa, exceto o Movimento pela França (MPF, de direita) de Philippe de Villiers, que criticou hoje violentamente o que chamou de "desculpa aos arruaceiros" e favorecimento à esquerda.




Fonte: Terra

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