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Economia
Segunda - 22 de Outubro de 2012 às 12:04

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A visão ao sobrevoar o sul da Bahia é de encher os olhos, com um verde vasto e denso que cobre boa parte da região. O que poucos sabem é que sob a copa daquelas árvores se esconde um sistema secular do cultivo de cacau, conhecido como cabruca. A prática de “cabrucar” o solo, como dizem os locais, já foi uma das atividades mais rentáveis do Estado, sendo hoje apenas uma lembrança dos tempos áureos no imaginário de quem viveu esse período. O Projeto Barro Preto, que vem sendo desenvolvido para revitalizar o setor, além de comprometido com a sustentabilidade e com o aumento dos lucros, tem o objetivo de resgatar o orgulho ao povo que desenvolveu uma atividade agropecuária que é modelo de preservação ambiental.

Investir na recuperação dessa economia regional é o principal desafio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 1957 para fomentar o desenvolvimento do setor. A instituição desenvolve pesquisas tanto para o controle da vassoura-de-bruxa quanto alternativas para aumentar a produção de cacau. Segundo o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, o trabalho é, atualmente, desenvolvido “com o esforço participativo dos cacauicultores”. “O trabalho da instituição vai além desse apoio, pois fomenta ainda a diversificação de culturas para oferecer fontes alternativas de renda”, explicou.

A participação dos produtores de cacau no trabalho da Ceplac resultou, em agosto de 2010, em um projeto de conservação produtiva, desenvolvido no município baiano de Barro Preto. A iniciativa conta com 12 técnicos envolvidos. O objetivo, além de capacitar produtores para o uso de tecnologias sustentáveis, é incentivar a diversificação de culturas e possibilitar a identificação via satélite, nas propriedades, das árvores ameaçadas de extinção, método conhecido como georreferenciamento.

A partir do manejo de árvores exóticas para aumentar a exposição dos cacaueiros a luz do sol, pretende-se ampliar a produção e a plantação de espécies ameaçadas de extinção. O produtor, segundo a proposta, repõe entre três e cinco árvores para cada uma que seja necessária retirar, georreferenciando as novas espécies plantadas. “É uma iniciativa que prova ser possível viabilizar não apenas a produção de cacau, mas também a exploração sustentável de outras culturas e a preservação de espécies nativas na Mata Atlântica, como o Pau-brasil e o Jequitibá”, explicou o diretor geral da Ceplac, Jay Wallace.

Resultados empolgam agricultores

O projeto, ainda em fase experimental, conta com o apoio da prefeitura de Barro Preto, do Sindicato Rural do município e do Centro Mars de Ciência do Cacau, empresa de pesquisa de uma das maiores fabricantes de chocolate do mundo, e conta com a adesão de 12 propriedades. Segundo superintendente da Ceplac da Bahia, Juvenal Maynart, a meta é expandir para 40 fazendas antes de finalizar o período de testes. “Após essa fase, pretendemos expandir a proposta aos demais agricultores da região. É uma iniciativa de interesse não apenas do produtor e da população, mas do setor que depende do cacau como matéria-prima”, afirmou Maynart. E o interesse do mercado é imediato. De acordo com pesquisas, a partir de 2020 vai faltar 1,6 milhão de toneladas ano de cacau, em todo o mundo.

As primeiras experiências do projeto já mostram resultados animadores. Na fazenda Bom Jesus, a produção em 2011 de 150 quilos por hectare deve aumentar para 450 Kg/ha, neste ano – a meta do projeto é atingir a produtividade de 900 Kg/ha. De acordo com Manoelito Rodrigues, administrador da fazenda, a expectativa na região não para de crescer.

“Sou líder de uma associação de produtores com mais de 68 membros, que antes pensavam em desistir das plantações de cacau e hoje estão entusiasmados com a possibilidade de aumentar a produção e diminuir os gastos, a partir da utilização das tecnologias que estão sendo testadas”, disse Manoelito. A julgar pela proposta e as consequências benéficas para o meio ambiente, o entusiasmo pode ser a solução para um povo acostumado a utilizar na prática a palavra “sustentabilidade”.

Saiba mais

O termo “cabruca” vem de “brocar”. Na prática, significa tirar a vegetação de menor porte e mantendo a vegetação de grande porte, onde as árvores mais altas da Mata Atlântica servem de sombra ao cacaueiro. Utilizado há mais de dois séculos, esse sistema está presente em 70% das lavouras da região sul da Bahia.

O processo resulta na manutenção da região de maior biodiversidade do planeta, conservando a água e recursos ambientais de valor inestimável, aliada aos ótimos resultados econômicos, pelo menos até a década de 1980. No período, a produção alcançou as 400 mil toneladas de cacau por ano, contribuindo com cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia.

Era uma região rica, imortalizada em obras do escritor Jorge Amado, mas que começou a declinar a partir da década de 1990. Com a chegada da doença conhecida como vassoura-de-bruxa, a produção de cacau diminuiu drasticamente, caindo para 120 mil toneladas por ano. Muitos produtores abandonaram as plantações, resultando em uma migração massiva de trabalhadores rurais para as áreas urbanas. Somente entre 1989 e 1994 foram extintos 250 mil postos de trabalho na região.






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