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Educação/Vestibular
Domingo - 11 de Abril de 2004 às 10:41
Por: Alecy Alves

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Por causa das péssimas condições das estradas, alunos das escolas rurais próximas de Cuiabá passam entre três e quatro horas – quase o mesmo tempo de sala de aula – dentro de ônibus enfrentando o sono e os riscos de acidentes para estudar. Em algumas comunidades, as aulas chegam a ser suspensas devido aos riscos de acidente ou porque os coletivos não chegam nos sítios, fazendas, assentamentos e acampamentos em que moram os estudantes.

Na ausência do poder público, são os pais, alunos e professores que fazem obras para amenizar a situação nos trechos mais críticos. Na comunidade Córrego do Ouro, no município de Santo Antônio de Leverger, a 85 quilômetros de Cuiabá (na região da serra de São Vicente), este ano o ônibus atolou duas vezes e furou dois pneus numa única noite, quando retornava com os alunos.

Em outra ocasião, as aulas foram interrompidas por dois dias depois que o coletivo, lotado de alunos, ficou preso num buraco a dois quilômetros da escola. O diretor, Marcos Peixoto, lembra que a comunidade teve que improvisar reparos em cinco pontos, como cabeceira de pontes e ladeiras, usando equipamentos cedidos por sitiantes e materiais recolhidos nas margens da estrada para que os alunos voltassem a freqüentar a escola.

Aluno do 2º ano do ensino médio, Jhony Alves, 18, ainda não se esqueceu da noite em que chegou em casa às 3h30 porque o ônibus caiu num buraco e furou o pneu. Todos os alunos, lembra ele, tiveram de ajudar o motorista Adenilson Dantas de Matos para não amanhecer o dia no caminho. No outro dia, reclama Jhony, nem ele nem os colegas conseguiram ajudar os pais na roça.

Aos 7 anos, Adriano Oliveira, aluno da primeira série que todos os dias acorda às 5h30, reclama que não dá para dormir na viagem de volta. “O ônibus pula muito, se a gente dormir machuca a cabeça. Já aconteceu comigo”, conta. Miquiele da Silva, 13, diz que gosta da escola, mas fica triste de pensar que precisa sofrer tanto para estudar, enquanto na cidade outras crianças atravessam a rua e já estão na aula.

Já Sadraque Mateus Barbosa, 11, estudante da 4ª série, diz que tem vontade de encontrar o prefeito para fazer-lhe o seguinte convite: “Entra aí e vamos até a escola”, ensaia. Rauni Capela Pacheco, 12, diz que têm dias que só de pensar nos buracos dá vontade de ficar em casa. Empolgado com o que disse o colega Sadraque, Rauni vai além: “Aposto que se o filho dele estudasse aqui essa estrada estava arrumadinha”.

A única escola que oferece ensino fundamental e médio na região, onde estão matriculados 220 estudantes nos três turnos, não recebe a atenção não apenas da Prefeitura de Santo Antônio de Leverger, que teria a responsabilidade de manter a estrada em boas condições de tráfego, mas também do Estado.

Há quase três anos a comunidade espera pela conclusão das obras de ampliação da escola. Mas por falta de espaço começou a usar uma das duas salas que só têm as paredes e uma instalação elétrica inacabada e improvisou outra sala de aula no centro comunitário. O diretor Marcos Peixoto explica que de escola rural de Cuiabá, em 2001 a Córrego do Ouro foi transferida para Santo Antônio de Leverger e um ano depois para o Estado. Nesse período nenhum tijolo foi acrescentado à obra.




Fonte: Diário de Cuiabá

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