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Saúde
Segunda - 05 de Abril de 2004 às 14:45
Por: Reinaldo José Lopes

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Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) estão prontos para testar, em seres humanos, o potencial das células-tronco adultas contra mais uma enfermidade. Desta vez, o alvo é o AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico, uma espécie de derrame causada pela falta de fluxo de sangüíneo em regiões do cérebro.

"Nossos protocolos estão aguardando o parecer da Conep [Comissão Nacional de Ética em Pesquisa]", conta a médica Rosalia Mendez Otero, uma das coordenadoras do estudo. A equipe encerrou com sucesso a fase de testes do procedimento em camundongos.

Se tudo ocorrer conforme o verificado nos roedores, as células-tronco, retiradas da medula óssea do próprio paciente, deverão se diferenciar como neurônios (células nervosas), ajudando a reconstituir a região do cérebro afetada pelo acidente vascular cerebral.

O teste, que ainda não tem previsão de início, integra uma bateria de procedimentos experimentais usando células-tronco contra uma série de doenças no Brasil. O mais recente, coordenado por Júlio César Voltarelli, médico da USP de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), tem a intenção de combater o diabetes tipo 1.

Por enquanto, apenas um paciente recebeu as células-tronco nesse estudo, enquanto outro está na fila de espera. "Os níveis de insulina desse primeiro paciente ainda não estão normalizados, mas ele já apresenta melhoras", afirma Voltarelli, cujo grupo já aplicou a terapia com sucesso contra lúpus e esclerose múltipla.

Os resultados mais consolidados e impressionantes dessas células-curinga no país, no entanto, se referem ao tratamento de doenças cardíacas. Radovan Borojevic, também da UFRJ, e Hans Dohmann, do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, testaram a terapia celular em 20 pacientes com problemas cardíacos crônicos e quatro com infarto. "Todos melhoraram, e todos os 16 da primeira série já tiveram alta, inclusive aqueles que estavam na fila do transplante", diz Borojevic.

Mal de Chagas

Efeito parecido teve a implantação das células-tronco em pessoas que haviam sofrido os devastadores efeitos cardíacos do mal de Chagas, doença causada pelo parasita de uma só célula Trypanosoma cruzi.

"Todos os pacientes relatam melhora na qualidade de vida, e há melhora também na fração de ejeção [capacidade de bombeamento do coração] de vários pacientes", afirma Antonio Carlos Campos de Carvalho, da UFRJ. Ele coordena a terapia celular dos pacientes chagásicos ao lado de Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) da Bahia.

Apesar desses sucessos, uma reunião organizada pelo Ministério da Saúde na semana passada, da qual participou Carvalho, concluiu que ainda é muito cedo para começar a oferecer a terapia celular como tratamento para doenças cardíacas na rede pública de saúde. É que, apesar do sucesso encorajador na pequena amostragem de pacientes em testes, os pesquisadores ainda não têm certeza do mecanismo exato envolvido na regeneração cardíaca.

"Isso [o sucesso] ajuda a gente a continuar, mas tudo em caráter experimental", diz Carvalho. Até pouco tempo atrás, os cientistas supunham que as células-tronco da medula óssea teriam a capacidade de se diferenciar, ou seja, de assumir a forma e as características bioquímicas das células de diferentes órgãos e tecidos.

Trabalhos recentes feitos nos Estados Unidos e publicados na revista científica "Nature" (www.nature.com), no entanto, sugerem que o que realmente acontece é que elas apenas estimulariam a formação de novos vasos sangüíneos no coração. Eles, por sua vez, é que alimentariam a formação de novas células.

Esses estudos foram feitos em camundongos. Segundo Carvalho, as dúvidas devem acabar sendo resolvidas mesmo em estudos com animais, dada a dificuldade de "marcar" as células transplantadas e seguir seu caminho no organismo. "Não seria possível modificar geneticamente as células humanas para fazer isso, por questões éticas", afirma.

Outro caminho seria transplantar células-tronco de homens para mulheres, já que o cromossomo Y, exclusivo do sexo masculino, mostraria que certa célula cardíaca veio mesmo de um doador. Os testes brasileiros, no entanto, transplantaram células do próprio paciente para evitar riscos de rejeição, o que inviabiliza esse tipo de estratégia por enquanto.

Segundo Borojevic, um dos seus pacientes mostrou tanto a formação de novos vasos quanto a de novas células cardíacas. "É uma pergunta difícil [sobre a origem das novas células do coração]. Não creio que se trate das células-tronco injetadas, mas, possivelmente, de suas descendentes."




Fonte: Folha de São Paulo

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