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Quinta - 26 de Março de 2015 às 13:36

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O pacato Eduardo Lages é parado nas ruas com frequência. Ganha beijos, os mais carinhosos abraços e tem sempre de se dedicar longas sessões de fotos com os fãs. O detalhe: a maioria nem sequer sabe o nome do ídolo. Essa é a rotina do "maestro do rei". "Tenho consciência de que eles me adoram apenas porque sou maestro do Roberto Carlos. Mas isso não me incomoda. Pelo contrário, tenho orgulho", diz ao UOL o músico carioca, parceiro de Roberto há 37 anos.


Atualmente com a agenda mais enxuta, Lages vem se voltando a projetos pessoais. O mais recente deles é o show "O Maestro do Rei", em que comemora com sua orquestra 50 anos de carreira. A turnê começou este mês em São Paulo e, entre um e outro compromisso de Roberto Carlos, passará pelas principais capitais brasileiras. No palco, ele toca sucessos pop e dá ares de musical a um repertório que praticamente todo brasileiro sabe de cor –nem que seja apenas um refrão.

Fluminense de Niterói, Lages deu início à parceria famosa em 1977, a pedido do próprio cantor, que havia botado na cabeça a ideia de se apresentar apenas com grandes orquestras. Na época, o maestro conduzia a banda do programa "Globo de Ouro", da TV Globo, onde Roberto costumava reinar.

Na conversa com o UOL, Eduardo Lages refuta as histórias excêntricas de Roberto Carlos, descrito como um sujeito normal, embora cheio de manias. Também fala da fidelidade canina, fruto de muito profissionalismo e respeito. Sobre a atual fase musical, diz que Roberto anda bem mais "relaxado" e "aberto" e que a velha alma roqueira ainda dita o gosto musical do cantor.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Como surgiu a ideia do musical?

Nos últimos dois anos, eu vinha pensando nisto. Tinha vontade de fazer um show de orquestra, que em princípio não seria musical. Mas eu queria que tivesse muita participação da plateia junto da orquestra. Que os músicos fossem participativos também. E queria tocar músicas da minha geração, músicas novas, sem muita preocupação com a performance.

Convidamos o Ulysses Cruz para dirigir. E ele veio com a ideia de que aquilo fosse meio que um musical também. Com bastante teatralidade. A gente conta com sete atores no palco, além da orquestra, de 20 músicos. É um musical, mas sem um formato rígido. Há muito improviso.


Como conheceu Roberto Carlos?

Começamos a trabalhar em 77. Já o conhecia antes, quando eu trabalhava na TV Globo, no programa "Globo de Ouro". Eu era maestro da banda e fazia os arranjos. E, por ser um programa de parada de sucesso, toda semana o Roberto estava lá, em primeiro, segundo ou terceiro lugar.

Até que fui convidado por ele. Ele havia decidido que, a partir daquela época, iria fazer todos os shows com grande orquestra. E ele achou que eu tinha o perfil certo. Estamos aí até hoje, graças a Deus. Já fizemos uns 3.000 shows.

Por que a parceria deu tão certo?

Eu sempre fui muito profissional e dedicado no que fiz. E eu me dediquei muito ao Roberto. Com o tempo, a gente foi se transformando em amigo. Nós nos respeitamos muito. E ele me incentiva muito com meus projetos paralelos.

Ele não era muito do meu estilo de música quando começamos a trabalhar. Mas posso dizer que ele tem sido muito importante na formação da minha personalidade profissional. Aprendi muito com ele. Não só musicalmente, mas principalmente na forma de administrar a carreira.

Ele é conhecido pela personalidade detalhista e controladora. Isso já te trouxe algum problema?

Não. Na verdade, ele é muito detalhista, sim. E, no começo, tive de me adaptar ao estilo dele. Mas hoje as coisas nem são tão assim. O tempo faz com que as pessoas fiquem mais "relaxadas", no bom sentido. Hoje ele relaxa mais em relação a tudo. Está mais aberto a coisas novas. E isso facilita muito meu relacionamento profissional com ele.

Roberto Carlos é minha prioridade. Sempre foi, desde que comecei a trabalhar com ele. E tenho certeza que será até o resto dos meus dias. Eduardo Lages, Maestro da orquestra de Roberto Carlos


Você nunca teve receio de arriscar, de mudar um arranjo, por exemplo?

Não. Nunca tive problema. Ele confia muito em mim. Inclusive, já gravei umas 50 músicas do Roberto nos meus CDs solo, que venho lançando há dez anos. E, normalmente, é muito difícil fazê-lo liberar as próprias músicas. Isso se deve muito à ligação profissional que a gente tem, a confiança no meu trabalho. E ao respeito que eu tenho em relação a ele.

Ele sabe que tenho consciência de que preciso fazer muito bem feito. Quem está ali não é Eduardo Lages, é o "maestro do Roberto Carlos".

Já ouvimos algumas histórias malucas, como a de que o Roberto leva o próprio assento de privada quando se apresenta em seu cruzeiro anual. Conhece alguma coisa assim?

Na verdade, não. E essa pra mim é nova (risos). Acho até muito engraçada. É coisa de brasileiro mesmo, que tem essa criatividade. Um absurdo (risos). O Roberto tem as manias dele, sim, como todo mundo tem, mas não há esses absurdos, de levar tampa da privada ou coisas assim. Inventam muita coisa. Roberto é um cara normal.

Acha que o Roberto arrisca pouco no repertório? Não poderia cantar menos músicas românticas e mais coisas da Jovem Guarda e da fase soul?

Não sei. Acho que, numa determinada época, toda pessoa se acomoda numa coisa mais comportada. Ele não tem mais aquele instinto rebelde da Jovem Guarda. Ele se acomodou. Mas o Roberto ainda gosta muito de rock, muito de Elvis.

Nos ensaios, tem sempre uma hora que ele vem e pede: "Vamos colocar uma música da Jovem Guarda, vamos colocar uma coisa mais alegre". E muitas vezes isso não acontece por culpa minha, porque fico preso a coisas da minha época para frente. Quando começamos a tocar, ele já estava em outra fase, já era o "rei". Mas ele me cobra muito para tocarmos rock. Ele gosta disso.

Você nunca recebeu convites tentadores para tocar com outros músicos?

Muitos. E já aceitei vários. Mas só quando são amigos mais próximos. Como foi o caso do Fábio Júnior, Zezé Di Camargo, Daniel. Mas vou apenas para acompanhar algum show, eventualmente. De forma alguma é uma opção, uma alternativa ao Roberto Carlos. Roberto Carlos é minha prioridade. Sempre foi, desde que comecei a trabalhar com ele. E tenho certeza que será até o resto dos meus dias.

Por causa dessa relação, você acaba sendo muito assediado, não?

É muito legal, mas tenho consciência de que eles me adoram porque eu sou maestro do Roberto Carlos. Muitas pessoas me chamam de "maestro do rei". Sou parado nas ruas. Querem me abraçar, me beijar, cumprimentar, tirar fotos. Quando acabam, perguntam: "mas qual é seu nome mesmo?". Mas isso não me incomoda, não. Pelo contrário. Eu tenho orgulho. Afinal, sou o maestro do maior artista popular do Brasil de todos os tempos.





Fonte: DO UOL ENTRETENIMENTO

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