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Nacional
Terça - 02 de Fevereiro de 2016 às 09:44

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A brasiliense Kelli Medeiros, de 37 anos, exibe com orgulho a cicatriz de 18 centímetros que ganhou na barriga após extrair um câncer do rim. A cirurgia aconteceu há pouco mais de um ano, e o tumor foi descoberto por acaso, depois de ela passar mal ao levar o filho ao hospital. A dona de casa diz que não se incomoda nem mesmo com os olhares curiosos.


"Em fevereiro viajei com meu marido e com meu filho para a praia e expus a cicatriz normalmente, não senti vergonha, não. Porém, senti muitos olhares para a cicatriz. As pessoas olhando. Mas não me incomodou, não, porque eu a vejo como uma nova chance de vida, porque foi por muito pouco que eu escapei", afirma.

Kelli conta que o filho tinha 1 ano quando ela descobriu a doença. Miguel havia apresentado uma série de convulsões. Ela então passou mal e precisou ser internada. O garoto foi liberado, e a dona de casa ficou sozinha no hospital, já que o marido se desdobrava para cuidar do bebê em casa e trabalhar.

Exames apontaram que ela tinha uma mancha no rim. Ela passou duas semanas internada até ser encaminhada ao centro cirúrgico para colocar um cateter. A mulher decidiu postergar a retirada do tumor porque queria passar o 36º aniversário com a família. "Eu não sabia o que poderia acontecer."

O procedimento aconteceu após alguns dias e durou quase seis horas. Só depois o material foi encaminhado para a biópsia. Os médicos disseram a Kelli que, se o tumor tivesse um centímetro a mais, ela precisaria passar por quimioterapia e radioterapia.

"Foi tudo muito rápido. Foi sofrido, senti muitas dores até descobrir. Até fazer essa cirurgia foram dores intensas todos os dias, tomando muita medicação, meu cabelo caiu muito, meu cabelo caiu muito por causa dessas medicações fortíssimas", lembra.

"Passei por tudo isso e aprendi muito, espiritualmente falando. Tive muita fé, tive sempre esperança de ficar bem, de que eu ia ficar curada. Fiz tratamento espiritual, fiz cirurgia espiritual. [...] Não levei pelo lado do sofrimento, não, minha única preocupação era meu filho", completa.

Depois de voltar para casa, Kelli passou mais alguns dias sozinha. O filho ficou na casa da avó paterna, porque ainda estava debilitado, e o marido precisou viajar a trabalho. Uma amiga a ajudou no período.

"Foram dias difíceis, dias complicados, dias de dores, mas sempre agradecendo a Deus estar curada, ter ocorrido tão bem essa cirurgia. Nunca maldizendo, nunca perguntando a Deus “por quê?“, “por quê?“, “por quê?“. Falava “Deus, manda o que tem que mandar, só não deixa acontecer nada com meu filho

Kelli conta que passou a fazer exames de acompanhamento de seis em seis meses desde então e que encara toda a situação como aprendizado. "[A experiência me ensinou a] Dar valor à vida. Que, para a gente merecer coisas boas, a gente tem que fazer coisas boas e mudar nosso íntimo, fazer uma reforma íntima."

"Foi uma lição de fé, de esperança, de acreditar. [De aprender que preciso] Fazer minha parte como ser humano, fazer o bem sem olhar a quem. Com certeza você sempre tem de volta isso, sabe. Se você faz o bem ao outro, esse bem retorna em dobro a você, a sua saúde. E foi isso que aconteceu comigo, graças a Deus. Com as pessoas próximas de mim também, minha família, acho que aprenderam junto comigo a ter fé."

Ela diz que, nos primeiros momentos depois da cirurgia, chegou a se assustar com o tamanho da cicatriz. A barriga estava inchada, e havia formação de queloide na cicatriz.

"[Era] Muito alta a cicatriz, mas hoje não me incomodo com ela, não. Olho para ela e vejo que foi um livramento mesmo, como dizem os evangélicos. Foi coisa de Deus mesmo", afirma a mulher. "Câncer. Quando você fala a palavra câncer, assusta qualquer um. Você ser curado de um câncer, então, é raríssimo. E meu marido ficou mais próximo do meu filho, eu fiquei mais proxima de todos e todos ficaram mais próximos de mim."

Vaidade

Para a dona de casa, as pessoas se envergonham das cicatrizes por verem nela apenas o lado estético. "As coisas físicas não me incomodam, não. Incomodam no sentido de ter que cuidar do meu corpo por causa da minha saúde, do cabelo, por causa da minha aparência, mas não é algo que eu levo ao pé da letra ou sou fissurada."


Kelli conta que o filho ainda é pequeno para entender a marca no corpo da mãe e que até há algum tempo ainda assoprava para "sarar o dodói". Ela diz que pretende explicar para ele o que toda a situação e mostrar o que de fato os 18 centímetros na barriga significam.

"Acho que as pessoas se apegam muito às coisas materiais e ficam com vergonha, ao invés de achar, pensar e ver aquela cicatriz como salvação, como uma nova chance de vida. Não é todo mundo que passa por uma cirurgia grande e sai ileso, curado. Às vezes até volta o câncer. [...] Ficou a cicatriz, fazer o quê? Vou fazer o quê?", questiona.

"As pessoas observam, as pessoas te olham. Olham para a sua cara, olham para a cicatriz, tipo “que coisa feia, o que é essa mulher com essa barriga de fora, essa cicatriz horrorosa, credo, por que não esconde?“. Acredito que, se você encontrou a cura, mas ficou uma cicatriz, deixa isso para lá. Exponha a cicatriz e pensa “Deus me curou“."





Fonte: G1

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