Repórter News - www.reporternews.com.br
Variedades
Segunda - 26 de Junho de 2017 às 07:26
Por: André Garcia Santana/Olhar Direto

    Imprimir


Sob os mesmos ares que anunciavam a intensa e revolucionária década dourada, Edalvino Antônio Pasi e Angela Fortuna Pasi, selaram, no dia 18 de novembro de 1950, um elo que transporia as barreiras do tempo e os traria a um destino de cumplicidade e amor. Gaúchos de Erechim e Lagoa Vermelha se conheceram em Aratiba, em uma festa de igreja. Com a religiosidade como pano de fundo, seguiram ao altar em Severiano de Almeida, tendo se mudado na sequencia para Três Arroios, onde tiveram os filhos. Duas gurias e dois guris, intercalados.




A longevidade da existência, quase uma, tecida ao molde antigo do matrimônio, chama atenção por si só: caminharam juntos rumo aos quase 70 anos de casados. Foi no momento da partida, no entanto, que o apelo íntimo a presença do outro ficou evidente. Edalvino e Angela faleceram no mesmo dia, com algumas horas de diferença. Ela primeiro, em decorrência de complicações renais, e o marido em seguida, por não agüentar saber da notícia. Quase que em acordo, recusaram-se ao luto.

O destino que os trouxe a Mato Grosso há pouco mais de três meses, deixa em Severiano de Almeida, também no Rio Grande do Sul, as marcas de grande parte de sua história. No município interiorano, de pouco mais de 50 mil habitantes, o marceneiro e a dona de casa passaram a maior parte de suas vidas. Foi ali que montaram um hotel, mantido por muitos anos até ser vendido para a segunda filha, Sirley e o genro, Antônio.

Foi também no endereço antigo que se construíram as memórias da família. “No quintal da casa deles tinha uma pedra enorme, chata em cima, que os netos gostavam de subir. Minha avó tinha mania de achar que a gente comia pouco. Se preocupava muito com o que a gente ia comer. O prato ainda cheio e ela dizendo: ‘nena pega um pouco disso ou aquilo’”, conta Eliane Pasi, uma, dos 11 netos do casal.



Sob rigorosa rotina, o tempo para eles passava adiantado. O almoço era servido no máximo às 11h30. O jantar, às 17h30, antecedia a última atividade do dia. Depois dele, ouviam o terço na rádio e iam se deitar. “Ele passava o tempo todo assoviando, quando você chegava na casa deles, se ouvisse o assovio, sabia que ele estava lá”, lembra a neta, que continuou morando na cidade mesmo depois da vinda dos pais para Mato Grosso, há mais de 10 anos.

Ao amanhecer, quase que instintivamente, as atividades se repetiam. Bem cedinho, aos sábados, Eliane, que hoje também mora aqui, ouvia passos da avó chegando ao seu apartamento para lhe levar pão de milho, um de seus quitutes preferidos. No início da tarde era a vez do avô, que não falhava a visita à bisnetinha, sua primeira filha.

O período, dividido também entre o bar de seu antigo empreendimento, era utilizado por Edalvino para os jogos de baralho, aos quais dedicava duas horas do dia, uma de manhã, outra à tarde. Angela, por sua vez, dedicava-se à visitar as amigas e tomar chimarrão na porta de suas casas. Imagens simples de um cotidiano acolhedor, típico das pequenas cidades.



Atualmente morando em Água Boa (730 km de Cuiabá), Sirley e Antônio os receberam durante o curto período que passaram no Estado. “Nós queríamos que eles ficassem mais perto, pra gente poder cuidar e porque éramos muito apegados. Tem outros dois tios que moram aqui em Mato Grosso também, então ficava mais fácil.”

Perto de completar sete décadas casamento, Angela e Edalvino faleceram na segunda-feira (18), com algumas horas de diferença. Após saber da morte da esposa, internada em Primavera do Leste (240 km de Cuiabá), o idoso, que estava em Água Boa, se mostrou bastante agitado, tendo o óbito constado pela família momentos depois, de se deitar para descansar. Juntos desde 1950, eles completariam 67 anos de casamento em novembro.

“Nós só contamos para ele depois que já estava tudo providenciado, no final da noite. Na hora ele pareceu não assimilar, ficou meio aéreo. Depois foi pro quarto pra deitar e enquanto eu estava no velório da minha avó, eles ligaram dizendo que tinha algo errado.”Além de Sirley, eles também são pais de Rui, Remir Augusto e Ivani Solange. Soma-se a lista da família 16 pequenos bisnetos que ouvirão por muito tempo as histórias de atenção e cuidado dedicados pelo nono e pela nona, como são carinhosamente chamados.







Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/425084/visualizar/