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Quarta - 14 de Novembro de 2018 às 16:04
Por: Sandra Carvalho/Da Assessoria

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A 1ª Corrida Contra a Escravidão, prova nacional que acontece dia 20 de novembro em Cuiabá (MT), vai ter a participação de 19 trabalhadores resgatados por Auditores-Fiscais do Trabalho (AFTs) do trabalho forçado. Os egressos estão passando por qualificação ofertada pelo Programa Ação Integrada (PAI) em Santo Antônio do Leverger, município da Baixada Cuiabana.

A prova faz parte da programação do 36º Encontro Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Enafit) que será realizado de 18 a 23 de novembro no Centro de Eventos do Pantanal.

Um dos egressos inscritos na 1ª Corrida Contra a Escravidão é Nubes Reis Alves marinho, 36 anos, morador de Porto Alegre do Norte, (MT), já na divisa com o Estado do Pará. Nubes foi resgatado em 2009 quando trabalhava na limpeza de uma barragem no município de Caçu, em Rio Verdinho (GO).

Ele e mais 69 trabalhadores foram levados para lá por agenciadores e ‘alojados’ em uma casa abandonada onde dormiram em redes nos primeiros 15 dias, passando muito frio. Depois, passaram a dormir em beliches improvisados com pedaços de madeira e colchões velhos. “A condição de dormir era péssima e às vezes a comida chegava duas horas da tarde em caixas de isopor após balançar por horas na carroceria de uma caminhonete”, lembra.

Por necessidade, ele voltou a trabalhar nessas mesmas condições, porém a situação não chegou ao conhecimento do Ministério do Trabalho porque a empreita foi rápida. “Aí eu acabei sendo fichado em uma empresa com carteira assinada, conheci o Programa Ação Integrada e nunca mais voltei a essa situação”, conta Nubes, que volta ao PAI para mais um processo de qualificação em parceria como Senai.

“Estamos estudando e ouvindo os Fiscais-do Trabalho, juízes, técnicos que estão explicando sobre os nossos direitos, carteira de trabalho, e inclusive sobre cuidados pessoais, e isso é muito importante para nós”, reconhece. O PAI, criado em Mato Grosso por auditores-fiscais do trabalho e que hoje é referência internacional, oferece qualificação e reinserção de egressos no mercado de trabalho decente.

Reginaldo dos Santos Almeida, 52 anos, também se preparada para a 1ª Corrida Contra a Escravidão. Ele mora no município de Ribeirão Cascalheira (700 km de Cuiabá), localizado na região do Araguaia, e foi resgatado há 6 anos de uma fazenda onde trabalhava numa carvoaria em situação análoga à escravidão.

“O trabalho era bem forçado. Eu passava o dia enchendo os fornos e à noite cuidava da carvoaria e ia ensacando pra poder mandar o carvão pra fora”, relata Reginaldo, que executava o serviço sem nenhum equipamento de proteção.

O dinheiro que deveria receber pela jornada era anotado em um caderno, mas acabava ficando com o patrão porque, segundo ele, dava apenas para cobrir a despesa com alimentação. “Uma vez por semana o dono da carvoaria trazia mantimentos, mas na hora de acertar ele fazia conta como se trouxesse compras pra nós todos os dias”.

Havia cinco trabalhadores nestas condições na carvoaria, mas no dia em que Reginaldo foi resgatado por Auditores-Fiscais do Trabalho apenas ele estava no local com a esposa seu filho recém-nascido.

Após o resgate Reginaldo fez curso de pedreiro em Paranaita, já na região Norte de Mato Grosso, onde passou a exercer a nova profissão em melhores condições de trabalho. Comprou um terreno, construiu sua própria casa e seguiu trabalhando por conta própria. Na época foi acolhido pelo PAI, recebeu orientações sobre seus direitos trabalhistas, e nunca mais voltou à situação de escravidão.

“Se não existissem os Auditores-Fiscais a questão da escravidão seria muito mais degradante no país. No meu ponto de vista, o PAI está fazendo algo muito importante para nós, porque não é só tirar o trabalhador da situação de escravidão, mas dar condições de nos colocar no mercado de trabalho e é o que o programa faz”, reconhece.

Reginaldo ainda nutre uma grande preocupação: “Será que outros terão esta chance que nós estamos tendo. A lei trabalhista está mudando muito e se amanhã outros não tiverem esta mesma oportunidade que o PAI nos dá?”, questiona.

Valdiney de Arruda é presidente da Delegacia Sindical do Sinait em Mato Grosso, um dos idealizadores do PAI e da 1ª Corrida Contra a Escravidão. “O PAI nasceu em 2009 patrocinado e coordenado pelo Ministério do Trabalho por meio da Superintendência Regional do Trabalho em Mato Grosso com o objetivo de acolher as vítimas do trabalho escravo”, pontua o AFT.

As fiscalizações, relata Valdiney, ocorriam, mas os egressos muitas vezes retornavam a essas condições por não terem superado algumas vulnerabilidades como elevação educacional e profissional.

“O programa veio com o propósito de fazer com que o trabalhador superasse essas principais vulnerabilidades através de ações numa parceria entre instituições públicas e privadas que pudesse proporcionar a capacitação, o empoderamento e a qualificação desses trabalhadores para galgarem novos postos, mas de trabalho decente”.

Ainda presente nas zonas rural e urbana, o tráfico de trabalhadores, de acordo com o AFT, dá mais lucro do que o tráfico de drogas. Esse lado econômico é assustador e assusta também a persistência dele para se lucrar em cima do ser humano sem que a sociedade perceba isso, muito embora o combate tenha avançado muito. “Por isso seguimos com a nossa bandeira: quem procura trabalho não pode encontrar escravidão”.

A Corrida

A 1ª Corrida Contra a Escravidão tem por objetivo dar muito mais visibilidade à luta incessante dos Auditores-Fiscais contra todas as formas de trabalho forçado e ganhar a adesão ao movimento de parcela da sociedade que ainda não se deu conta deste grave problema.

A largada será às 7h na Rua Estevão de Mendonça, nas imediações do Parque Mãe Bonifácia, um símbolo de luta contra a escravidão. A corrida contará com as distâncias de 5 e 10 Km e caminhada de 2,5 km.

As inscrições podem ser feitas por este link . Acesse o Facebook da prova e fique por dentro de todas as informações. Participe! https://www.facebook.com/naoaescravidao/.





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