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Meio Ambiente
Terça - 14 de Maio de 2019 às 13:19
Por: Renato Grandel/Especial Diário de Cuiabá

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Eram 9h15m no dia 3 de maio de 2013 e dezenas de crianças brincavam no pátio da Escola Municipal São José do Pontal, em Rio Verde (GO). As brincadeiras foram interrompidas pelo barulho de um avião que voava baixo e jogava agrotóxico no local, onde havia uma lavoura de milho. Quase cem pessoas, entre alunos e professores, começaram imediatamente ase coça reter dificuldade para respirar. O diretor da instituição, Hugo Alves, tirou a camisa e começou abalançá-la, com os braços estendidos, para chamara atenção do piloto. A aeronave foi embora pouco depois.

“Foi um banho de veneno. Muitas crianças se jogaram no chão e pediam socorro. Todos foram levados a um hospital na cidade vizinha porque sentiam dor de cabeça e enjoo. Alguns alunos foram internados mais de dez vezes, porque a saúde melhorava por um tempo, mas logo depois voltavam a manifestar os mesmos sintomas”, lembra Alves.

Hugo Alves, os estudantes e os professores da escola rural encaixam-se em uma estatística alarmante. É cada vez maior o número de intoxicações causadas por agrotóxicos no país. As notificações dobraram desde 2009, passando de 7.001 para 14.664 no ano passado, segundo o Ministério da Saúde. Um relatório da pasta cogita que o fenômeno seria resultado do “aumento da comercialização dessas substâncias e da melhoria da atuação da vigilância e assistência à saúde”.

O governo Bolsonaro abriu as portas para 124 novos agrotóxicos. A avaliação sobre os produtos deve ser chancelada por Anvisa (que analisa o impacto à saúde), Ibama (efeito da substância no meio ambiente) e Ministério da Agricultura (responsável pela ciência agronômica). No entanto, ambientalistas denunciam a imposição de uma série de fatores que tentam fortalecer o papel do ministério e estrangular a influência dos outros entes. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não se pronunciou.

‘COMENDO VENENO’ - Membro do Grupo Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), André Burigo critica os cortes de orçamento no Ibama e diz que o Brasil está “vivendo uma crise sanitária".

“Estamos comendo veneno. Ao contrário do que ocorre na União Europeia, nossa legislação não impõe um prazo para que as substâncias usadas no campo sejam reavaliadas. Assim, perdemos noção dos casos de infecção e dos avanços científicos. Os relatórios da Anvisa de resíduos em alimentos, que eram divulgados anualmente, agora saem de três em três anos”, disse.

Os dados mais recentes da Anvisa referem-se ao período entre 2013 e 2015. O monitoramento incluiu 25 alimentos, que correspondem a 70% daqueles de origem vegetal consumidos pela população brasileira. Das 12.051 amostras, 80,3% foram consideradas satisfatórias, enquanto pouco mais de 19% apresentavam irregularidades, como o uso não autorizado ou acima do permitido de agrotóxicos.

Segundo Pedro Serafim, coordenador do Fórum Nacional de Combate ao Impacto dos Agrotóxicos, o país assume a “vocação de uma lixeira”.

“Somos um dos maiores produtores de grãos do mundo, mas estamos perdendo mercado, pois cada vez mais países restringem o comércio de produtos com agrotóxicos, para proteger a saúde de sua população. No Brasil, não há o mesmo cuidado, dada a forçado setor agrícola em nossa economia”, explica.





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