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Comportamento
Sábado - 14 de Maio de 2022 às 07:12
Por: Aline Almeida/Gazeta Digital

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Mato Grosso é o segundo estado com maior índice de mortes violentas contra a população LGBTQIA+. O dado foi divulgado pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBT no Brasil, nesta quarta-feira (11). O índice considera o número de mortes a cada milhão de habitantes em 2021. No Estado são 3,36, atrás apenas do Alagoas (4,75). Em quantitativo de mortes, Mato Grosso ocupa o 11º lugar no Brasil, com 12 vítimas fatais. Já entre os municípios, Cuiabá está na 7ª posição, com 6 registros. Dentre as causas mais comuns das mortes estão esfaqueamento, tiro e espancamento.

Entre as vítimas está o chef de cozinha João Guilherme Velasco, assassinado em 28 de abril de 2021, em Sinop (500 km ao norte de Cuiabá). Ele foi morto quando saia do trabalho, foi encontrado caído na rua, na frente do estacionamento de um hotel, e tinha ao menos duas perfurações de arma de fogo na região da cabeça.

Reprodução

João Guilherme Velasco

Rose Velasco e o filho, assassinado em 2021

A jornalista Rose Velasco, mãe de João Guilherme, cita o descaso do poder público e luta por justiça. Para que mais pessoas não tornem parte da triste estatística, Rose pondera que a necessidade é por ações imediatas. “Muitos filhos e filhas LGTQI+ acabam sendo renegados e ficam à margem dos serviços públicos e da sociedade. Marginalizados, acabam sendo vítimas fáceis da crueldade e da violência. É preciso dar dignidade a esses filhos e filhas para que sejam incluídos socialmente e não excluídos”, diz.

Leia também - Mães de LGBTQIA+ assassinados relatam dor e desrespeito aos filhos

Defensor Público Vinicius Hernandez reforça que a homofobia mata, tanto que o Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis do mundo. “Vivemos num Estado extremamente homofóbico, homotransfóbico, machista e com culturas interioranas que desvalorizam as pessoas por serem o que elas são e por viverem sua própria verdade”.

É preciso, segundo Vinicius, que o Estado se reconheça como homotransfóbico para poder lutar contra esse tipo de crime. “A assustadora realidade é de pessoas torturadas e assassinadas todos os dias sem nenhuma explicação e nem apuração criminal das condutas, pelo simples fatos delas serem homossexuais, transexuais, bissexuais. Talvez nosso maior desafio seja o social e cultural enquanto nação brasileira e enquanto Estado”, confirma o defensor.

João Vieira

Conselho Municipal / Leis LGBTS / Orgulho Gay / Consciência LGBTS / Clovis Arantes

Presidente da Associação da Parada LGBTQIA+ em Mato Grosso, Clóvis Arantes

Menos de 1% dos assassinos estão presos

Presidente da Associação da Parada LGBTQIA+ em Mato Grosso e membro da Ong Livremente, Clóvis Arantes assevera que a LGBTFobia tem crescido assustadoramente no Brasil. Chama a atenção para a realidade de Mato Grosso onde menos de 1% dos assassinos estão presos. Cita ainda que os crimes adotam requintes de crueldade.

A exemplo, um registro em 22 de abril deste ano. Roger André Soares da Silva, 29, foi brutalmente assassinado no bairro Parque Cuiabá, na Capital. Ele levou mais de 30 facadas e o suspeito ainda usou o sangue da vítima para desenhar diversas cruzes nas paredes do local do crime. A vítima era homossexual. “As pessoas se sentem autorizadas a matar por conta da impunidade”.

Clóvis diz que é muito comum jovens e até pessoas acima de 60 anos que dizem ter medo de andar na rua ou até mesmo de assumir a orientação sexual. Também alerta para os dados de suicídio LGBTQIA+, apontando 3 registros em menos de um mês. “O ódio está muito presente. Em pleno 2022 as pessoas terem que ‘ficar no armário’ por medo. Parece até um filme de terror”, avalia.

Dados

O Dossiê revela que em 2021, foram 316 mortes de pessoas LGBTI, sendo 262 homicídios, 23 latrocínios e 26 casos de suicídios. A idade das vítimas variou de 13 a 67 anos em 2021. Em termos quantitativos, as duas causas mortis mais frequentes foram esfaqueamento, com a morte de 91 pessoas (28,80%), e armas de fogo, com 83 mortes (26,27%). Em seguida, foram registrados 20 óbitos por espancamento (6,33%), dentre outras.

Arquivo

Tenente-coronel Ricardo Bueno

Tenente-coronel Ricardo Bueno destaca que há longo caminho para avançar

Registrados 27 casos de homofobia este ano

Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) apontam que, em 2021, Mato Grosso registrou 209 ocorrências ligadas à homofobia. Neste ano, de janeiro a abril, foram 27 registros. Responsável pelo Grupo Estadual de Combate aos Crimes de Homofobia (GECCH -MT), tenente-coronel Ricardo Bueno enfatiza que o número não reflete a realidade, mas traz uma ideia dos crimes.

Explica que é por meio das estatísticas que identifica que há pessoas ainda sofrendo a discriminação na família, nas escolas e também nos serviços públicos e privados. “Há pessoas que estão sendo discriminadas e, às vezes, nem sabem. Já as que sabem, muitas vezes não denunciam por medo, culpa, vergonha e temor de serem julgadas”.

O tenente-coronel ressalta que o GECCH, órgão ligado à Sesp, atualmente trabalha a capacitação, exatamente para possibilitar o acolhimento às vítimas. Destaca que existem mais pessoas encorajadas a denunciar e conhecedoras dos direitos, mas há um longo caminho a se avançar. “A desconstrução e enfrentamento ao preconceito é um esforço coletivo. Requer ações na educação, na assistência social, segurança e outros. O debate antes era negligenciado e o cenário está mudando. Ainda existem pessoas com discurso deturpado da diversidade humana e por isso precisamos avançar”.





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