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Domingo - 18 de Dezembro de 2011 às 07:25

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Descobrir que o que estava matando os abutres era uma droga veterinária, e não uma doença contagiosa, foi um "alívio" para pesquisadores e ambientalistas, "pois era uma causa que podíamos eliminar", relembra Chris Bowden, da Sociedade Real para Proteção de Aves (RSPB, na sigla em inglês).

 

Desde a publicação do estudo na revista Nature que identificou o diclofenaco como causa de morte, em 2004, Índia, Nepal e Paquistão baniram a produção e comercialização da droga em seus territórios - mas apenas para o uso veterinário.

O diclofenaco continua a ser produzido para uso humano nesses países, e muitos se aproveitam dessa brecha na legislação para continuar a aplicar a droga em animais. A fórmula é a mesma, só muda o rótulo.

Como substituto para uso veterinário, passou-se a indicar o meloxicam, um anti-inflamatório equivalente que é inofensivo para os abutres.

Convencer as pessoas a trocar de droga, porém, não tem sido fácil. O diclofenaco é barato, eficiente e tem a confiança de veterinários e fazendeiros. "É um produto testado e aprovado há vários anos", diz Sagar Paudel, veterinário da Bird Conservation Nepal (BCN). "Por isso é tão difícil convencer a pessoas a mudar."

Ainda mais quando a razão para mudar é proteger uma espécie que não inspira muita simpatia na população. Um dos maiores desafios de salvar os abutres é convencer as pessoas de que eles merecem ser salvos.

"Todo mundo sabe que os abutres estão desaparecendo, mas nem tudo mundo os quer de volta", reconhece Ishana Thapa, diretora de Conservação da BCN.

Preconceitos culturais e religiosos à parte, os abutres prestam um serviço ecológico essencial aos seres humanos e ao meio ambiente, alimentando-se das carcaças de animais mortos antes que elas se tornem vetores para a disseminação de doenças.

Só na Índia, segundo Bowden, estima-se que os 40 milhões de abutres que existiam no país até o início da década de 90 consumiam 12 milhões de toneladas de carniça por ano.

Prognóstico complicado. Com a proibição do diclofenaco, alguns sinais positivos começam a aparecer. "As populações não estão se recuperando, mas pelo menos o ritmo de queda diminuiu", diz, cauteloso, o pesquisador Munir Virani, diretor de programas da organização The Peregrine Fund para o sul da Ásia e a África.

Em 2009, o governo do Nepal lançou um plano de ação de cinco anos para proteção dos abutres, com ênfase em conscientização, fiscalização e a criação de "áreas livres de diclofenaco", onde aves selvagens ou nascidas em cativeiros possam viver sem risco de intoxicação.

Pesquisas indicam que basta uma quantidade muito pequena de diclofenaco para dizimar populações inteiras de abutres, já que centenas de aves podem se alimentar de uma mesma carcaça. Estatisticamente, ainda que só 1% das carcaças no ambiente estivesse contaminada com a droga, isso já seria suficiente para causar toda a mortandade registrada nos últimos 15 anos na região. Então, todo cuidado é pouco. "Com tão poucos abutres restantes, se deixarmos um pouco de diclofenaco "escapar" na natureza ele já poderá matar todos eles", alerta Ishana, da BCN.

No Brasil. O diclofenaco é autorizado para uso veterinário no Brasil desde os anos 1990, para aplicação em bovinos, suínos e equinos, segundo informações do Ministério da Agricultura e Pecuária. A restrição é para cães e gatos, para os quais o diclofenaco é altamente tóxico. Os abutres Gyps não ocorrem no País e não há registro de problemas de intoxicação com urubus ou outras espécies de aves nacionais.






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