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Nacional
Quinta - 27 de Outubro de 2011 às 09:37
Por: Marcos Coutinho

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A ação judicial movida pelo jornal Folha de São Paulo, de segunda maior tiragem do país, contra o microblog Falha de São Paulo, que descaracterizou matérias publicadas pelo periódico paulista durante a campanha eleitoral, foi motivo de debate na audiência da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados. A ação resultou na suspensão do blog, numa situação considerada como um "clássico de censura". 
 
Convocada para debater o "silêncio da mídia no caso de censura imposto pelo jornal Folha de São Paulo ao blog Falha de S. Paulo", a audiência contou com a participação de parlamentares de diversos partidos políticos, que  compareceram à sessão "em uma demonstração de que essa não é uma discussão partidária, conforme tentou induzir o diário paulista nos últimos dias".

Os deputados alertaram para a abertura de um precedente perigoso que pode ser criado no país, dependendo da compreensão da justiça sobre o episódio, sobretudo se a censura imposta ao microblog for mantida em instâncias superiores.

A Folha alegou, na ação, que a Falha usava seus caracteres e tipologia de letras, fato que constituiria um plágio. O próprio ombudsman da Folha de São Paulo criticou a iniciativa do jornal no editorial e avalia que houve excesso na iniciativa.

Autor do requerimento para o debate, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) enfatizou, via assessoria, que a linha adotada pela Folha de S. Paulo coloca em risco um direito constitucional: de livre expressão.

“Estão corretos os que entendem que esse episódio não é algo menor. Como essa é uma ação inédita no Brasil, a decisão da justiça em favor da Folha de S. Paulo criará uma jurisprudência de restrição à liberdade de expressão. No futuro, os próprios meios de comunicação serão julgados com base nesse entendimento”, enfatiza o parlamentar petista.

Criador do blog Falha de S. Paulo, Lino Bochini criticou a ausência de representantes da Folha na audiência, mas afirmou que o jornal paulista “mostra sua verdadeira face” ao fugir do embate público. Ele classificou a ação da Folha com “absurda” e “truculenta”, e rebateu as alegações do proprietário e diretor de redação, Otávio Frias Filho, segundo o qual o microblog não seria sátira nem independente.

“É muito bom quando temos o dono do jornal deixando cair sua máscara, o jogo fica mais claro. A Folha mente, o nosso blog era sátira e era independente! A Folha é um jornal que cobra transparência, responsabilidade dos órgãos públicos – o que está correto – mas que foge do debate por meio de uma carta autoritária”, contestou Lino, desafiando que não há, na blogosfera, nenhum site defendendo a Folha, além do portal do próprio jornal.

“A Folha tem pouco a acrescentar no debate sobre liberdade de expressão. Isso explica a ausência de seus representantes”, avalia.

O 1º Secretário da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Antônio Paulo Santos, afirmou que o que os grandes grupos de comunicação querem é a “liberdade de empresa”. O dirigente da Fenaj também criticou o Congresso Nacional, pelo fato de no Brasil o setor de comunicação não ter regulação nenhuma.

“As tradicionais famílias que dominam a mídia em nosso país trabalham unidas pela desregulamentação do setor. Conseguiram, a partir de muita pressão, que o Congresso arquivasse o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo, e, por fim, há dois anos, derrubaram o diploma de jornalismo”, resumiu.

A Folha, por meio de nota, já havia antecipado que “declinaria” do convite por “discordar da temática da audiência”. Sobre ausência do jornal paulista, o deputado Pimenta disse que a “Folha de S. Paulo tem pouco a acrescentar no debate sobre liberdade de expressão”, o que, segundo ele, explica a ausência de seus representantes.

Ivan Valente (PSOL-SP) considerou que a Folha desrespeitou o Legislativo ao contestar na carta a temática da audiência. “O jornal pode fazer o juízo de valor que quiser sobre o fato, mas não pode deslegitimar a atuação da Comissão de Legislação Participativa e do Poder Legislativo”, criticou.

“A estrutura das empresas de comunicação no Brasil é familiar e secular, isso é ruim para a democracia brasileira. A propriedade cruzada, essa concentração da informação que em outros países não existe, aqui no Brasil pode! A Folha erra ao fazer a defesa da liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que não consegue suportar as críticas de um blog. Se um jornal quiser ter respeito pelo seu público, deveria ter o rabo preso com a verdade, e não com o leitor (referindo-se ao antigo slogan da Folha ‘de rabo preso com o leitor’). Lamento que a justiça brasileira, às vezes, tenha definições impróprias sobre alguns temas, daí a necessidade da regulamentação dos meios de comunicação, para não termos um vazio legislativo, que possa, de alguma forma, ameaçar a liberdade de expressão no país”, pondera Valente.

“Esse tema não se esgotará, pois não há, aqui, a outra parte. Se não pudermos usar a marca para satirizar, como defende a Folha, o Zorra Total deveria sair do ar, pois faz ma sátira a presidente Dilma. Se, por acaso, a presidente pedisse para tirar o quadro do ar, certamente, a Rede Globo reagiria, e a Folha e os grandes jornais do país dariam capa para o assunto. O PCdoB, meu partido, poderia processar a revista Época que trouxe em sua edição desta semana uma montagem com nossa bandeira. Esse episódio criará um parâmetro para as decisões judiciais. Não podemos tratar o caso como se fosse algo isolado, um processo da Folha contra um blog. É errado minimizarmos essa ação de censura, porque ela é muito grave”, avaliou a deputada. Manuela d´Ávila (PCdoB-RS)

“Chama a atenção que a Folha diz que a decisão da justiça de primeira instância é soberana e que o assunto está superado. Não está e o parlamento tem o dever de acompanhar os próximos desdobramentos”, salienta Luiz Couto (PT-BA)

Universitários de Brasília, representantes do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal e do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social também acompanharam a audiência.

“Está claro que, quando o espaço para os dois lados estão garantidos, a Folha prefere silenciar. Liberdade de expressão e liberdade de imprensa têm que conviver com as demais liberdades. Assistimos a grandes grupos fazendo mau uso da liberdade de expressão, o que não se configura no caso do blog Falha de S. Paulo. São os blogs, hoje, que nos garantem a pluralidade da informação, e mesmo assim os gigantes se nsurgem contra os pequenos que exercem o direito à crítica”, assinala. Mariana Martins – Grupo Intervozes

Convidadas, Associação Nacional dos Jornais (ANJ) não compareceu, e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que havia confirmado o nome de Claudismar Zupirolli, presidente do Tribunal de Ética e Disciplina (OAB-DF), não enviou representante, pois hoje no Supremo Tribunal Federal estava em julgamento a constitucionalidade do exame da ordem dos advogados. Com informações compartilhadas pela assessoria.






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