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Cultura
Domingo - 22 de Maio de 2011 às 12:50

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Em 1978, no Brás (centro de SP), um sobradinho construído no início do século 20 chamou a atenção de Diana Dorothèa Danon pela singela geometria do balcão. Hoje, ele é o único que sobreviveu às descaracterizações na estreita rua Melo Barreto.

"De tudo que eu tenho desenhado, muitas coisas já não existem", lamenta a desenhista documental, que fez mais de mil registros da arquitetura paulistana.

imagens e edição: Inara Chayamiti

A partir da década de 1960, formada em belas artes, Diana, começou suas andanças, quando desenhava "até o anoitecer", e notou que alguma coisa na cidade estava mudando. "Eu passava pela Paulista, pelos Campos Elíseos, estavam destruindo tudo. Quando percebia que algo podia ser demolido, eu corria pra desenhar".

Para acompanhar a velocidade das demolições --ela desenhou os casarões que vieram rapidamente abaixo nos anos 1970 na Paulista--, Diana, 81, adotou a canetinha no lugar do nanquim. "A secagem é mais rápida e eu voltava com inúmeros desenhos no final do dia."

Uma seleção dos desenhos de Diana foi comprada pela Biblioteca Mário de Andrade. Entre eles, 32 que registram as décadas de 1920 a 1940, quando ganharam força o art déco e o modernismo, banindo o estilo "bolo de noiva".

Desses, 15 imóveis seguem em boa forma, mas 17 existem hoje só no papel. Um deles é o prédio da rádio Cultura, projeto de Elisiário Bahiana.

"Esse prédio era muito significativo do art déco", explica Diana, em frente ao número 1.285 da av. São João, hoje um terreno baldio.

Enquanto faz um esboço do sobrado do Brás, Diana reflete. "Se esse sobrado estivesse em um bairro nobre, não duraria muito tempo. Nos Jardins, você demole três casinhas e faz um edifício."

Na ativa --ela documenta a evolução das obras do metrô desde os anos 70--, Diana tem uma queixa particular.

"Quando alguém começa, "mas a senhora ainda trabalha!", esse "ainda" mexe com os meus brios." E cita o arquiteto Oscar Niemeyer, 103, para dizer que está com "um crédito bastante largo".

Na volta para casa, nos Campos Elíseos (centro), Diana dá uma dica do que move seu trabalho. "Quando desenho --não é pieguice-- eu sinto um amor pela cidade em que eu nasci." E aponta para um conjunto de sobrados moderninhos, da década de 1920. "Olha aí, olha aí, você viu? É daqueles que você gosta, que parecem um navio."

O desejo de registrar a cidade também está no apartamento de Diana, projeto de Gregori Warchavchik (pioneiro do modernismo no Brasil).

Enchendo as prateleiras de um dos quartos, pedaços de azulejos, ornamentos, papéis de parede. Peças que recolheu de demolições. E uma lista, do que ainda precisa desenhar. "Eu não vou pendurar a chuteira. Mas é a nova geração que tem que se preocupar com isso."






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