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Opinião
Terça - 08 de Junho de 2021 às 06:35
Por: José Pedro Rodrigues Gonçalves

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Um dos mais importantes livros já publicados, “Ciência com consciência”, de Edgar Morin, chama atenção para o fato de que, muitas vezes a ciência não tem consciência de seu papel na sociedade. Ainda mais, em tempos bicudos como os de hoje, onde o proselitismo idiossincrásico que tenta endeusar alguns personagens em busca de notoriedade, mesmo que ela seja irresponsável.

Em tempos de pandemia provocada por um vírus quase desconhecido, cujas manifestações no ser humano doente ainda estão em fase de detecção e identificação, a ciência ganha contornos de uma necessidade que deve ser atendida de forma célere, para evitar tantas mortes ou, no caso de superação da doença, recuperar os doentes quando restam muitas sequelas que atormentarão os sequelados por tempo ainda indeterminado.

Uma representante da ciência aspeada, aética, desprovida de conteúdo técnico científico, assumiu um triste papel de defender o indefensável

Mais do que nunca, a ciência deve ter um caráter absolutamente correto, ético e pautada em métodos cientificamente acreditados por instituições nacionais e internacionais. Esta deve ser, sempre, a pauta da ciência. A bioética principialista já antecipava, de há muito, que a não maleficência, ou seja, não produzir nenhum mal além daquele já provocado pela doença, é imperativo impostergável e deve ser seguido por todos que se debruçam sobre a ciência ou que a praticam profissionalmente, como os médicos.

A história da humanidade traz muitos exemplos de como se comportar quando se lida com vidas humanas e até mesmo com os animais, pois a vida, seja ela de que forma se manifesta, é algo que deve ser considerado como portadora de uma sacralidade inquestionável. Assim, temos que cuidar de seres vivos, e cuidar não é apenas observar, olhar, expectar passivamente o outro, seja ele qual outro for. Cuidar é impedir que algo de negativo possa ocorrer com qualquer pessoa, porque somos ontologicamente cuidadores, assim, cada um deve cuidar do seu próximo, seja ele quem for.

Se cada ser humano tem a obrigação primeva de cuidar do outro, e o simples respeito pelo outro já é uma forma de cuidar, pois respeito quer dizer re expectar, ou seja, olhar outra vez, e quem olha duas vezes observa melhor e poderá perceber que o outro é minha própria semelhança física, antropomorficamente falando.

Essa é a ideia. Pensar o outro como meu semelhante, com o qual participo na minha condição de ser humano. A condição humana é toda característica que nos iguala em eventos que fazem parte de nossa existência comum, como nascimento, crescimento, as emoções que todos sentimos, as nossas aspirações e também os nossos conflitos. Também, a mortalidade inexorável, claro.

Então vejamos. Se conflitos fazem parte de nossa condição humana, fica evidente que todos nós, sem nenhuma exceção, tivemos, temos ou teremos conflitos em algum momento de nossas vidas. Logo, todos nós devemos ter consciência disso e, por todas as formas, envidar esforços para superar essas situações conflituosas que podem ser extremamente negativas, não só para os envolvidos nela, mas para muitos outros que sequer fazem parte desse jogo. Quando os personagens envolvidos no conflito são autoridades públicas que têm o dever de cuidar da sociedade, a dimensão desses conflitos torna-se nacionalmente abrangentes. Como o que assistimos hoje no Brasil.

De um lado, uma parcela do Poder que adotou um viés perigoso no âmbito de uma ciência cercada de aspas, que não possui nenhuma consciência de sua responsabilidade e passou a adotar uma terapia para a Covid 19, planetariamente não recomendada, e teimosamente quer adotá-la compulsoriamente para toda a sociedade médica nacional.

Dessa corrente insidiosa despontam alguns subalternos que lubrificaram as dobradiças da coluna vertebral para facilitar o momento de se dobrarem diante do potentado e acatarem as suas ordens. O que resulta disso é a imposição por decreto da efetividade terapêutica de um produto sabidamente utilizado para outras doenças não virais. E insistem, insistem, como se desejassem impor por exaustão a aceitação desse remédio que o mundo inteiro já demonstrou que não funciona para a Covid 19. Aqui a ciência assume o papel da própria maleficência e passa a causar danos a todo mundo.

Na CPI da Pandemia, essa falsa ciência, sem nenhuma consciência de sua responsabilidade fez de tudo para se impor. Só se esqueceram de dizer que quem trabalha com sapato não conhece metodologia científica e que ciência não é uma verdade definitiva e, por ser assim, ela já deixou cristalinamente evidente que cloroquina não cura vírus e, portanto, deixou de ser verdade. Os seus defensores, entretanto, negando o que seja ciência, permanecem enclausurados nessa visão anacrônica e perversa. Toda sorte de embusteiros, encobertos pelo manto de um mandato político partidário continuam apunhalando pelas costas a ciência e o respeito pelo ser humano.

Uma representante da ciência aspeada, aética, desprovida de conteúdo técnico científico, assumiu um triste papel de defender o indefensável, em argumentações de labirinto, vaporizando o seu currículo ao desempenhar um papel subalterno para atender interesses viesados por uma ideologia excludente e subordinados a um projeto de poder autoritário.

Eis que, a ciência maiúscula, sem aspas, ética, rica em conteúdos acreditados por instituições científicas internacionais, assoma o espaço da política para dizer que a consciência científica não tergiversa de seu dever de honestidade, explode em argumentos sólidos, límpidos, sem rodeios, diretos e luminosos para soterrar de vez, com a sinceridade plena de uma mulher empoderada pelo conhecimento técnico científico inquestionável.

E o papel da ciência e seu compromisso com a vida retoma a cena e garante a eterna busca da verdade, mesmo que temporária, mas ética e honesta.

JOSÉ PEDRO RODRIGUES GONÇALVES é doutor em Ciências Humanas.



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