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Copa 2014
Segunda - 08 de Julho de 2013 às 11:57

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Os estádios Mané Garrincha (DF) e Maracanã (RJ) custaram cerca de 10% do orçamento previsto para a Copa do Mundo de 2014. Essa é apenas uma das muitas semelhanças das arenas, as quais também contam com dois dos assentos mais caros de todos os tempos dos Mundiais. É o que aponta um estudo realizado por dois consultores do Senado Federal, divulgado na última semana. Pior do que isso: o torneio pode alcançar os R$ 50 bilhões.


 
O artigo intitulado “Ainda temos tempo de economizar 42 Maracanãs”, conduzido por Marcos Mendes e Alexandre Guimarães, mostra que o preço médio do assento nesses dois estádios está entre os cinco mais caros da história das Copa. Enquanto cada lugar no Mané Garrincha custou R$ 19,9 mil, no Maracanã a média é de R$ 17,4 mil. Os dados foram compilados com base no relatório da ONG dinamarquesa Play the Game.


 
O documento põe o estádio de Brasília, com custo estimado de R$ 1,2 bilhão, e a arena carioca (R$ 1,3 bilhão) atrás dos japoneses Sapporo Dome e Nissan Stadium, além do sul-africano Cape Town Stadium. Tal fator não diminuiu o problema das construções brasileiras, ambas feitas exclusivamente pelos respectivos governos estaduais. Coincidentemente, são os dois estádios mais caros para a Copa de 2014.


 
Levando em conta o valor do assento em relação às últimas Copas do Mundo, o custo no Brasil já supera em 10% o gasto na África do Sul há quatro anos, 14% além do custo por assento na Copa de 2002, realizada no Japão e Coreia do Sul, e quase 40% além do valor no Mundial de 2006, na Alemanha. A média que leva em conta os 12 estádios do País atinge a impressionante marca de R$ 13,3 mil por assento.


 
— Ainda que diferenças no poder de compra das moedas possa afetar essa comparação, é surpreendente que o Brasil não tenha gasto muito mais que Japão e Coreia do Sul, que são países muito mais produtivos e com processo de engenharia mais avançada. Todos aqueles que conhecem o Brasil esperariam preços muito acima da média internacional, não só devido a uma percepção de alta corrupção e ineficiência, como também pelo fato de que o custo de investir no Brasil é elevado – aponta o relatório.


 
A Copa de 2014 também deixou clara a ausência de uma melhor infraestrutura no País.


 
— A grande diferença entre a Alemanha e as outras sedes de Copas se deve ao fato de que aquele país já dispunha de diversos estádios que atendiam ao padrão da Fifa, e que necessitavam de apenas alguns ajustes. Isso reduziu fortemente os custos de reforma e construção. Para a Copa brasileira todos os 12 estádios foram construídos do zero ou fortemente reformados. Um exemplo oposto ao do Brasil foi o da Copa dos EUA, para a qual não foi preciso construir um estádio sequer, pois bastou adaptar os já existentes campos de futebol americano.


 
A crítica ao orçamento da Copa do Mundo, que já ultrapassa os R$ 28 bilhões – dado divulgado pelo ministério do Esporte há 230 dias – e pode avançar nos próximos meses, sobretudo pelo atraso das obras previstas até a Copa, também respinga sobre o poder de negociação dos governantes, os quais já sabiam desde 2007 que o País receberia o Mundial, mas pouco fizeram em relação ao adianto das construções necessárias, além de acatar sem nenhum pudor praticamente todas as exigências da Fifa.


 
— Paira a dúvida se todos os estádios brasileiros realmente precisavam ser totalmente reconstruídos, ou se faltou capacidade de negociação de nossas autoridades junto à Fifa, no sentido de flexibilizar exigências. Principalmente no caso do Maracanã, que passou por ampla reforma há poucos anos.


 
Em relação ao que fora projetado em 2010, vários estádios brasileiros apresentaram estouro dos seus orçamentos. Os mais notórios foram justamente o Mané Garrincha e o Maracanã, conforme mostra o relatório. O Mineirão também superou a estimativa de custo inicial, mas isso aconteceu principalmente por mudanças enquanto a construção já estava em andamento. Assim como em Brasília e no Rio, o estádio de Belo Horizonte teve o projeto tocado pelo governo local, o que denota a ineficiência do poder público nas áreas técnicas e de execução das obras.


 
Já estádios realizados em PPPs (parcerias público-privadas), como os três da região nordeste - Arena Dunas, em Natal, Fonte Nova em Salvador, e Arena Pernambuco em Recife -, apresentaram custo final próximo ou inferior à previsão inicial de cada um dos seus projetos.


 
— O que diferencia o Maracanã e o Mané Garrincha dos demais estádios é que ambos foram reformados pelos respectivos governos estaduais, por meio de contratação de empreiteiras. Nos demais casos a execução da obra foi pela modalidade de PPP, em que as empresas que construíram as arenas serão responsáveis por sua gestão, contando com uma subvenção estatal. Tais empresas tinham, portanto, incentivos para reduzir os custos, pois quanto maiores fossem seus custos, menor o retorno que elas obteriam com a gestão do estádio. Já no caso do Maracanã e do Mané Garrincha esse incentivo não existia, pois as empreiteiras envolvidas na construção não iriam gerir os estádios posteriormente; estavam apenas recebendo pelo serviço de construção – detalha o estudo.


 
Outra preocupação que demonstra que o custo dos estádios vai além do presente é como a questão de construção e reforma de arenas no exterior leva em conta de maneira mais séria a possibilidade de surgimento dos chamados “elefantes brancos”, estádios com características para sediarem outros eventos além do futebol. No Brasil, a questão é bastante preocupante em vários Estados.


 
— Muitos estádios não gerarão receita suficiente para cobrir tais custos. Compare-se, por exemplo, o Mané Garrincha com o Saporo Dome, do Japão. Este é o estádio mais caro entre os elencados. No entanto, de acordo com o já citado relatório da Play the Game, o estádio japonês é intensamente utilizado e lucrativo, recebendo eventos tão distintos quanto competições de esqui, jogos de baseball e de futebol. Já o Mané Garrincha tem poucas possibilidades de utilização após a Copa, dada a fragilidade da liga brasiliense de futebol e a baixa flexibilidade do estádio para receber outros tipos de eventos.


 
A questão do legado é ameaçada não só em relação ao uso das arenas após a Copa de 2014, mas ainda pela ausência das prometidas obras de infraestrutura no País. Muitas sequer foram iniciadas, enquanto outras não ficarão prontas a tempo do Mundial de futebol. A situação expõe, segundo o estudo, a dificuldade de execução por parte dos governos estaduais, municipais e o federal.


 
— O excesso de otimismo em projetos de engenharia e a consequente apresentação de relação benefício-custo superestimada é um fenômeno muito comum em todo o mundo sendo, inclusive, objeto de estudos acadêmico. O excesso de otimismo em projetos de engenharia e a consequente apresentação de relação benefício-custo superestimada é um fenômeno muito comum em todo o mundo sendo, inclusive, objeto de estudos acadêmicos. O excesso de otimismo em projetos de engenharia e a consequente apresentação de relação benefício-custo superestimada é um fenômeno muito comum em todo o mundo sendo, inclusive, objeto de estudos acadêmicos.


 
Ruim com a Copa, pior sem ela em 2014


 
O clamor que se ouviu durante as manifestações em todo o Brasil pedia, entre muitas demandas, o cancelamento da Copa de 2014. Na visão dessas vozes, o evento futebolístico não vai melhorar a vida dos brasileiros. Contudo, a Fifa já indicou que a competição irá ocorrer conforme o planejado, ao mesmo tempo que o governo federal não deu atenção a tal pedido. Segundo o estudo, não realizar o Mundial seria a pior escolha até para o País.


 
— Com relação aos estádios brasileiros, o leite está derramado ou, como gostam de dizer os economistas, o custo dos estádios está “afundado”. Não há como recuperá-lo. Mas ainda há como a população brasileira tirar proveito da experiência e obter um legado efetivamente positivo.


 
Todavia, fiscalização com mais seriedade é preciso.


 
— As instituições públicas e privadas, tais como o TCU, o Ministério Público, as comissões temáticas do legislativo, as associações de classe, a imprensa e as ONGs precisam tomar consciência da existência do viés de otimismo e da deturpação estratégica. Cada vez que um planejador público apresentar um projeto de alto custo, é preciso questionar as estimativas de custos e benefícios que são apresentadas. Outra lição fundamental a ser aprendida pelos brasileiros é de que é fundamental elencar os investimentos por ordem de prioridade. Não é possível fazer tudo ao mesmo tempo, ainda mais com a restrição fiscal e a baixa capacidade de planejamento/execução do nosso setor público. O governo, ainda que conte com a participação da iniciativa privada, não consegue, ao mesmo tempo, construir estádios, ampliar metrôs, redesenhar corredores de ônibus, ampliar o saneamento básico, construir hospitais ou aperfeiçoar a educação. É imperioso ter uma lista de prioridades – completa o levantamento.


 
Segundo o mais recente dado do ministério do Esporte, o orçamento da Copa está em R$ 28 bilhões. O valor difere do que é apontado pelo estudo dos consultores, mas o próprio ministro Aldo Rebelo admitiu que a conta ainda não está totalmente fechada. Os números apontam que o custo do Mundial de 2014 pode seguir bem mais ao norte, alcançando a casa dos R$ 50 bilhões. Por isso, é preciso agir.


 
— Mesmo antes do início das obras, a estimativa de custo já pulou de R$ 18 bilhões para R$ 35,6 bilhões. Esse é o valor atualmente apresentado pelas autoridades, mas com a ressalva de que está a preços de 2006. Corrigindo-se tal custo pelo INCC (Índice de Preços da Construção Civil) chegamos a R$ 50 bilhões! São nada menos que 42 Maracanãs! Essa é a estimativa oficial, provavelmente subestimada, como analisado nos estudos acima citados, que apontam indícios de viés de otimismo e deturpação estratégica no projeto do trem de alta velocidade. Se a experiência negativa da sociedade brasileira com os estádios da Copa servir para que possamos definitivamente interromper o projeto do trem-bala, recanalizando os recursos para prioridades mais urgentes, isso valerá mais que um hexacampeonato - finalizou.




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