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Nacional
Terça - 23 de Outubro de 2007 às 23:35

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A polêmica provocada pela declaração do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, nesta terça-feira (23), ao declarar que “um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na favela da Coréia ou do Alemão, é outra”, provocou reações de especialistas da área. Mas a afirmação, para esses estudiosos, é uma constatação de que o governo não consegue mudar uma realidade desigual para quem mora em comunidades carentes.

“Essa manifestação do secretário confirma uma situação histórica, de uma política preconceituosa que está se perpetuando. Mas ele faz parte do governo. Portanto, tem a obrigação de mudar essa realidade, e não aceitar que isso permaneça como está. É evidente que não há planejamentos homogêneos para as ações das polícias na Zona Sul e nas favelas. Todo mundo sabe disso. Mas o governo só evolui quando consegue mudar isso”, analisou o sociólogo Ignácio Cano.

Para Luiz Eduardo Soares, o secretário fez um exercício de análise sociológica e constatou que a população da favela recebe uma proteção menor do que as pessoas das camadas médias da Zona Sul. “É um quadro de desigualdades, de tratamento diferenciado. É possível verificar isso nas 4.329 mortes provocadas por ações policiais no período de 2003 a 2006. A imensa maioria foi registrada em áreas pobres da cidade”, disse o antropólogo e secretário municipal de Valorização da Vida e Prevenção da Violência de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, uma das regiões mais violentas do estado.

Luiz Eduardo participa do livro “Brasil tem jeito 2”, que será lançado nesta quarta-feira (24), com o artigo escrito com Miriam Guindani que tenta responder à pergunta “A segurança tem jeito?”.

Tragédia provocada pelos confrontos

No texto, os dois professores apresentam um quadro da tragédia provocada pelos confrontos em áreas de risco no Rio entre policiais e criminosos. De acordo com os dados, em 2003, 1.195 pessoas foram mortas pela polícia, 65% delas com sinais claros de execução. Em 2004, as vítimas fatais foram 984. Já em 2005, o número subiu para 1.087. No ano de 2006, só no primeiro semestre, 1.063 civis morreram em ações policiais. Entre 2004 e 2006, as mortes de policiais chegaram a 110.

Na resposta instigada pelo artigo, Luiz Eduardo acena com um projeto compartilhado a médio prazo. “Isso só será possível quando houver responsabilidades entre as instituições das áreas de segurança pública. Mas, infelizmente, por enquanto, não é isso que se ver. Cada uma das 56 polícias no Brasil fala uma língua e possui especialidades diferentes. Não há troca de informações. Cada um analisa seus dados da sua maneira. Existe uma individualidade primitiva. Para mudar isso é preciso existir um pacto político dos governadores, principalmente”, conclui.




Fonte: G1

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