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Educação/Vestibular
Terça - 10 de Abril de 2007 às 10:14

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Crianças da zona rural do norte do Estado se arriscam para exercer um direito básico de todo cidadão: o acesso à educação. Elas passam horas viajando em ônibus superlotados, com condições precárias de segurança para chegarem às salas de aula.

As crianças, na companhia dos pais, ficam à espera do ônibus para levá-las à escola antes mesmo do sol nascer. É uma rotina para as famílias de uma comunidade localizada em Nova Ubiratã, médio norte de Mato Grosso. "A gente tem que trazer os meninos porque não podemos deixá-los sozinhos na estrada. Se deixar é perigoso até uma onça pegar", disse Virgínia Salles, mãe de um aluno.

A estudante Mayara Chagas levanta ainda de madrugada para pegar o ônibus. Como a energia elétrica ainda não chegou até o local, ela arruma os materiais com a ajuda de uma lamparina. "É ruim. Tem que acordar cedo e não dá tempo de fazer nada. Tem vez que estou no meio do caminho e o ônibus passa reto", lamentou.

"A gente levanta 3h30 para eles poderem pegar o ônibus. Aí eles voltam aqui às 14h30. Isso quando o ônibus não quebra. Aí eles chegam 14h, 14h30 para almoçar", comentou a agricultora Maria Chagas, mãe de Mayara.

Durante a madrugada, o ônibus pára várias vezes na estrada para pegar outros estudantes e levá-los à escola. Quando o dia amanhece, o veículo fica lotado. O ônibus, com capacidade para 40 passageiros, leva o dobro de passageiros. O trajeto para a escola demora pelo menos duas horas. As crianças ficam amontoadas nos bancos e no corredor do veículo. A tampa do motor e o painel do ônibus viram assentos.

Quem entra no ônibus se acomoda como pode. "Tem 98 alunos nesse ônibus lotado", disse uma das estudantes. "[O ônibus] chacoalha bastante, é muito quente e tem muita gente que passa mal", reclamou outra aluna.

Além da precariedade do veículo, as más condições da estrada deixam a viagem mais desconfortável. "É sofrido mesmo. Muito calor, as crianças amontoadas assim. Não é fácil não. Mas como a gente mora num lugar desse, tem que encarar. Eles estão prometendo mais um ônibus, mas acho que não vem não ", disse Luis Carlos, motorista do veículo.

As crianças passam mais tempo na estrada do que na sala de aula e por isso apresentam dificuldade na hora de aprender. "A gente nota o cansaço no rosto deles, devido a esse transporte. É muito longe. Eu acredito que atrapalha um pouco", ressaltou a professora Romilda Domingos.

Em uma outra comunidade na região, as aulas nem começaram e as carteiras estão empilhadas. Como os ônibus não conseguem chegar aqui, 58 crianças estão sem estudar. "Estudaram aqui no ano passado. Algumas já evadiram, os pais estão querendo levar essas crianças embora daqui e a gente está batalhando pra tentar manter essas crianças aqui", frisou Eunice Carvalho, agricultora da região.

Em Peixoto de Azevedo, extremo norte de Mato Grosso, os ônibus velhos não circulam, mas agora servem de salas de aula. Em lugares apertados e quentes, os estudantes passam em média quatro horas por dia. Eles sabem que precisam de um lugar melhor para estudar. "Vai ser melhor para escrever. É melhor pra gente pintar e ia ser menos calor", comentou a estudante Bruna Ferreira.

Segundo a secretária de Educação de Nova Ubiratã, Rosimeira Marakim, serão colocados três novos ônibus para atender os estudantes. Em Peixoto de Azevedo, a representante do Estado, Leide Lorena, informou que os ônibus vão servir apenas como sala de vídeo para complementar as aulas dadas nas escolas construídas na cidade.





Fonte: TV Centro América

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