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Meio Ambiente
Quinta - 22 de Março de 2007 às 13:09

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Envolto em uma guerra que completou quatro anos na última terça-feira (20), o Iraque convive, além da violência sectária e da fragilidade política, com mais um problema que aflige a população: o acesso cada vez pior à água potável.

Segundo o coordenador da unidade de água e saneamento para o sudeste da Ásia e Oriente Médio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) , Evaristo Oliveira, 40, o país árabe é o que apresenta as piores condições nos trabalhos para melhorar o acesso da população à água limpa, entre as mais de 40 nações atendidas pela organização.

A causa para a liderança no ranking é uma só: insegurança. Além do risco para a população que se desloca até as fontes de água, e da destruição de parte da infra-estrutura do país, Oliveira, relata que os engenheiros e técnicos do CICV mal conseguem chegar até os locais em que o trabalho da ONG é necessário para ajudar os iraquianos.

"A situação está muito difícil devido à falta de segurança", afirmou o coordenador, por telefone, de Genebra (Suíça), em entrevista à Folha Online.

O cenário do Iraque não é incomum. O coordenador afirma que o acesso à água é sempre dificultado quando ocorre um conflito armado.

Mais de um bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à água limpa, e entre elas, 300 milhões estão em zonas de conflito.

"No Chade e nos territórios palestinos, além do Iraque, o problema é grave", diz Oliveira.

A relação entre o conflito e a falta de água é fácil de entender: para se ter água, tanto no meio rural quanto no urbano, é preciso investimento financeiro e de recursos humanos, e dentro de uma zona de guerra esse investimento freqüentemente não é prioritário.

"Dois problemas se misturam --a falta de desenvolvimento das estruturas de abastecimento em um contexto de investimento militar e o uso da água como instrumento de pressão", afirma o coordenador.

Para piorar, a água é bastante cara nessas regiões. "São as populações mais pobres que pagam mais caro pela água no mundo", diz Oliveira.

Refugiados

Além das guerras dificultarem o acesso à água, segundo o CICV, o recurso natural é cada vez mais um fator motivador de conflitos armados. Durante os conflitos, os recursos hídricos podem ser negados à população civil por diversas razões, como para levar à desidratação ou obrigar deslocamentos.

É um círculo vicioso: conflitos levam a deslocamentos, e refugiados são vulneráveis a disputas por acesso à água. Para estes, a situação é crítica: além de serem obrigados a deixar lugares onde o caminho até as fontes é conhecido, eles aumentam a pressão sobre a oferta de água nos locais para onde vão, que recebem um aumento súbito na demanda sobre os recursos naturais.

É o que ocorre no Chade, onde a insegurança já forçou mais de 120 mil pessoas a fugirem de suas casas, provocando pressão sobre os recursos hídricos numa das regiões mais áridas do planeta. Na região de Bardé, no leste, os 7.500 moradores receberam recentemente mais de 12 mil refugiados, triplicando a população em menos de uma semana.

Foi necessária a construção de 20 poços no país em 2006, e o CICV espera construir pelo menos outros 20 em 2007.

Apesar dos esforços dos 800 técnicos e engenheiros da unidade de água do CICV, os prognósticos não são positivos. "Há hoje uma corrida entre uma população que não pára de crescer e as fontes de água que permanecem estáveis. A poluição vem para desequilibrar mais ainda a equação", afirma Oliveira.





Fonte: Folha Online

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