Publicidade
Repórter News - www.reporternews.com.br
Educação/Vestibular
Terça - 28 de Novembro de 2006 às 13:57

    Imprimir


Parque Indígena do Xingu, MT – Apesar de ter sido criado em 1961, a primeira referência de processo educacional no Parque Indígena do Xingu – à época "Parque Nacional do Xingu" – é da criação, em 1976, de uma escola na qual as aulas eram dadas por uma professora não-índia no Posto Indígena (PI) “Leonardo”, localizado no Alto Xingu, no município de Gaúcha do Norte (a 595km de Cuiabá).

De lá para cá, já se passaram 30 anos e o cenário do processo educacional no Xingu mudou consideravelmente: a escola chegou para mais de 3,5 mil crianças índias de 14 etnias do parque e, em sua maior parte, o atendimento educacional é feito por professores-índios.

Somente o Governo de Mato Grosso possui no Parque seis Escolas Indígenas Estaduais Centrais: “Ikepeng” (no PI Pavuru); a “Leonardo Villas Boas” (no PI Leonardo)”; a “Diawarum” (no PI Diawarum); a “Karib” (na aldeia Kuikuru); a Kisedje (na aldeia Ngoiwere); e a “Kamadu” (na aldeia Tuba tuba), as quais têm salas anexas em mais 24 aldeias e juntas atendem 3,5 mil estudantes. A Educação também chegou ao Xingu por meio das redes municipais de Canarana, Paranatinga, São Félix do Araguaia, São José do Xingu, Gaúcha do Norte, Feliz Natal, Querência, União do Sul, Nova Ubiratã e Marcelândia.

O interesse pelo conhecimento teórico dos brancos é facilmente detectado ao se falar com uma criança, jovem ou adulto do parque: “Queremos aprender a somar, fazer porcentagens, falar e entender direito a língua portuguesa para não sermos mais enganados e termos boa convivência com os brancos”, disse o professor-índio Kemenha Marcelo Mehinaku, que percorreu sete horas de bicicleta de sua aldeia – a “Uyaipioku” - até o mesmo PI no qual há 30 anos tudo começou, para participar da 2ª etapa do curso de formação profissional em nível de Magistério: Haiyô, ocorrida de 1º a 25 de novembro.

“Esse curso nos dá a oportunidade de aprofundar nos estudos e a segurança de poder passar para nossas crianças o conhecimento teórico, como a gramática, por exemplo”, ressaltou Kemenha. Ele conta que, para participar do curso, além do longo percurso ainda teve que convencer o cacique da aldeia de sua importância. “O cacique entendeu a necessidade de termos mais informações. Agora posso até acompanhar as lideranças e ajudar em negociações”, destacou ele.

Kemenha estudou até a 8ª Série e se tornou professor de uma sala anexa da Escola Indígena Estadual Central “Leonardo Villas Boas”. No início de 2005, ele e mais 297 professores índios sem a qualificação adequada e no exercício da docência ingressaram no Haiyô, ofertado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em cinco pólos: Juína, Campinápolis, Canarana e Xingu (Baixo/Médio e Alto).

Empenho

A um custo de R$ 6,5 milhões, em dez etapas, os ensinamentos do Haiyô chegam até esses cursistas com o sacrifício e empenho, não só por parte dos índios, que chegam aos pólos após percorrer quilômetros barcos, canoas, ônibus e até bicicleta, mas também por parte dos técnicos e professores-formadores da Seduc.

O encerramento da 2ª etapa Haiyô nas duas sedes do Xingu – PI Leonardo e PI Pavuru - no último dia 25, contou com a participação do gerente da Educação Indígena da Seduc, Sebastião Ferreira, da técnica do setor, Erozina Pimenta Ando, e da assessora pedagógica de Canarana, Marlene Arens.

Para chegar até lá, eles percorreram oito horas de barco, pelos rios Kuluene e Xingu até o Posto Indígena “Pavuru” (localizado no baixo Xingu, dentro do Parque Indígena) e depois mais seis horas (rio Xingu abaixo e rio Ronuro, até o rio Tuatuari) para chegar no PI “Leonardo”.

E, apesar do PI “Pavuru” estar localizado no município de Feliz Natal (a 538km de Cuiabá), os técnicos da Seduc se deslocaram de Cuiabá até Canarana (a 838km de Cuiabá), de lá percorrem mais 120 km em estrada de chão até a fazenda Sayonara - à margem do rio Kuluene - e daí entraram no Parque Indígena.

As dificuldades enfrentadas para levar a educação até os povos do Xingu, relata a técnica Erozina, não tira o ânimo dos profissionais. “São mais de dois dias de viagem, contando ida e volta. Além do Haiyô, outros técnicos da Seduc fazem esse mesmo percurso em assessoramento periódico às escolas estaduais do parque para o repasse da merenda, a elaboração do calendário e a realização do Censo Escolar, entre outras funções. Mas a gratificação vem quando vemos que nosso esforço está surtindo efeito e ajudando a mudar a realidade nas aldeias”, observa Erozina.

“A escola na aldeia significa a preparação das nossas crianças para o futuro e aqui estamos aprendendo a ser educadores”, disse o professor graduado no 3º Grau Indígena e coordenador do Haiyô, Makaulaka Mehinako. De acordo com Iokore Kawarum Ikpeng, também graduado e auxiliar no Pavuru, é importante que a formação seja ofertada dentro do parque. “Meu irmão saiu da aldeia para estudar na cidade e acabou não terminando os estudos, por sentir dificuldade em se enquadrar no ambiente. Com o curso aqui, a gente preserva a cultura, a tradição e dá a certeza da conclusão dos estudos”.

3ª etapa

Ao encerrar a 2ª etapa do Haiyô, no Posto Indígena “Pavuru”, da qual participaram 33 índios de 23 aldeias da região Baixo e Médio Xingu (das etnias Karib, Suyá, Waura, Trumai, Kamauira, Tapayura e Ikepeng), o gerente de Educação Indígena da Seduc informou que a 3ª etapa – que acontecerá em 2007 - já começou a ser preparada.

“Devido às dificuldades e para atender às especificidades de cada etnia, a realização de cada etapa demanda tempo e muito planejamento. Queremos ofertar o curso a cada etapa com maior qualidade”, afirmou Sebastião Ferreira.

A 3ª etapa do Haiyô, ressalta ele, será baseada na avaliação, em conjunto entre técnicos da Seduc e de instituições parceiras, da segunda etapa, levando em consideração as propostas e sugestões levantadas pelos professores-índios.

“As mudanças feitas no projeto pela Seduc, com a colaboração dos segmentos indígenas [como o Conselho Estadual Indíegana], trouxe bons resultados para os cursistas nessa segunda etapa. Isso reafirma nossa intenção de trabalhar sempre atendendo às especificidades desta modalidade de ensino e de acordo com os anseios das comunidades”, concluiu Sebastião.

O Haiyô é ofertado graças a uma parceria do Estado com o Ministério da Educação (MEC), Fundação Nacional do Índio (Funai), Funasa, Conselho Estadual Indígena e municípios.





Fonte: Da Assessoria

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/257827/visualizar/