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Internacional
Segunda - 09 de Outubro de 2006 às 10:21

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As forças de Saddam Hussein enterraram uma família curda ainda viva numa vala comum durante uma operação militar contra essa etnia na década de 1980, disse uma testemunha na segunda-feira ao tribunal que julga o ex-ditador por genocídio.

A corte também ouviu um sombrio depoimento sobre as condições de Nugrat Salman, uma prisão no deserto do sul do Iraque, onde a falta de comida e a contaminação da água mataram vários curdos para lá enviados. Duas testemunhas falaram que um cachorro preto cavava o chão e comia os corpos dos presos mortos.

Uma curda disse, por meio de um intérprete e protegendo sua identidade atrás de uma cortina, que sua família foi enterrada viva. "Gostaria de fazer uma pergunta a Saddam: qual era a culpa de mulheres e crianças?"

A mulher não contou como soube que seus parentes foram enterrados vivos, mas legistas disseram que algumas vítimas retiradas das valas comuns ainda estavam vivas quando foram sepultadas, apesar de terem sido baleadas, algumas à queima-roupa.

Milhares de curdos, muitos deles mulheres e crianças, foram retirados das suas vilas, executados e então jogados em valas comuns no norte e no sul do Iraque, segundo promotores.

O julgamento de Saddam foi retomado na segunda-feira, após duas semanas de interrupção.

Saddam e os outros seis réus do caso estavam presentes na segunda-feira, mas seus advogados continuaram boicotando o tribunal, em protesto contra a demissão do juiz-chefe, Abdullah Al Amiri, punido por ter dito que não considerava que Saddam fosse um ditador.

ONGs jurídicas dizem que a demissão do juiz pode abalar a credibilidade do julgamento. Um cunhado do novo juiz-chefe foi morto no dia 29 de setembro, no que segundo o governo foi um ataque dos seguidores de Saddam ao tribunal.

Saddam e os outros réus são acusados de crimes de guerra e contra a humanidade por causa da chamada Campanha Anfal, de repressão aos curdos, em 1988. Todos podem ser condenados à morte. O ex-ditador e seu primo Ali Hassan Al Majeed, o Ali Químico, também são acusados de genocídio. Em um depoimento anterior, Saddam disse que teve de atacar os curdos porque estes seriam "agentes do Irã e do sionismo".

A testemunha de segunda-feira disse que o Exército iraquiano queimou sua aldeia em abril de 1988 e que ela foi presa junto com oito parentes. Ela, que na época tinha 13 anos, disse que as mulheres eram obrigadas a se banhar nuas na frente dos soldados da prisão.

"Eu vi com meus próprios olhos muita gente, inclusive uma criança, que morreu por causa da falta de comida e da água poluída", afirmou.

O agricultor curdo Abdul-Hadi Abdullah Mohammed disse ao tribunal que sua mulher grávida, sua mãe, dois irmãos, duas irmãs e quatro sobrinhos desapareceram depois da destruição da sua aldeia pelas forças iraquianas em 1988.

Ele soube depois que sua mãe adoecera e morreu em Nugrat Salman, enquanto os documentos de um irmão e uma irmã foram achados em valas comuns de Samawa.

Mohammed afirmou que sua sogra, que também foi presa, contou que o corpo da mãe dele havia sido comido pelo cachorro preto, que também aparecia no primeiro depoimento do dia.

"O destino da minha família continua desconhecido até agora. Quero fazer uma queixa contra Saddam Hussein, Ali Químico e todos os que participaram no crime", afirmou.

Saddam aguarda o veredicto de outro julgamento, pela morte de xiitas numa aldeia onde ele havia sofrido um atentado, em 1982. A corte que julga Saddam nesse caso deve voltar a se reunir no dia 16.





Fonte: Reuters

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