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Agronegócios
Domingo - 16 de Abril de 2006 às 07:41

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O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja), Rui Ottoni Prado, adverte que caso uma providência não seja tomada urgentemente pelo governo Federal, com intuito de recuperar a renda no campo, os sojicultores vão “jogar a toalha” e deixar de plantar a safra 06/07 no Estado.

“Temos até o mês de agosto para decidir o nosso destino. Se a União fizer alguma coisa de concreto para socorrer o setor e repor parte da renda perdida nestes dois últimos anos, poderemos plantar. Caso contrário, não estaremos dispostos a correr o risco de ficar mais uma vez à mercê da sorte. Seremos obrigados a abandonar a atividade”, alerta o presidente da Aprosoja.

No ano passado, o “complexo soja” (grãos, farelo e óleo) respondeu por 78,71% das exportações mato-grossenses, com um volume exportado de US$ 3,26 milhões. Deste total, US$ 2,13 milhões foram obtidos pela comercialização do grão.

O secretário de Desenvolvimento Rural do Estado, Clóves Vettorato, reconheceu que, se a decisão de não plantar for tomada pelos produtores, a economia estadual poderá sofrer um forte revés. “Não fazemos a dimensão deste prejuízo, por isso preferimos aguardar”.

Vettorato afirma que, apesar de amarga, a decisão dos produtores é correta. “Ninguém vai plantar para colher prejuízos”, pondera.

E completa: “Se com a soja não der, vamos partir para outras atividades que nos dêem sustentação e resultado. Por isso é que o governo de Mato Grosso está buscando outras alternativas aos produtores”.

Ele lembrou que, não havendo uma solução para a questão da renda dos produtores de soja, uma das alternativas será migrar para outras culturas, como o algodão e a cana-de-açúcar. “Podemos pensar também no biocombustível e no reflorestamento, que também são atividades que dão mais lucro e oferecem menos risco ao produtor”, exemplifica.

O presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá), José Nardes, confirma que os produtores estão dispostos mesmo a parar de plantar caso o governo Federal não tome uma medida urgente.

“O governo só pensa na questão da prorrogação das dívidas. Na verdade, o nosso problema está na perda de renda que vem corroendo o patrimônio do produtor ano a ano e deixando-o insolvente e sem possibilidades de plantio”, afirma Nardes.

A saída para minimizar a situação dos produtores, segundo o presidente do Sindicato Rural de Sinop (503 quilômetros ao Norte de Cuiabá), Antônio Galvan, será recorrer às ações judiciais. “Já estamos nos preparando para encaminhar três ações contra a União. Pedimos a anulação de cobrança de dívidas da securitização rural e a prorrogação das parcelas do custeio e investimento da safra 04/05”.

Ele sugere ainda uma ação que garanta preços mínimos e indenização das perdas sofridas pelos produtores em função do descumprimento das normas do Estatuto da Terra.

FALTA RENDA - Na avaliação dos produtores, o problema crucial na sojicultura está na perda de renda. “Atualmente os preços não cobrem sequer os custos de produção”, exclama o presidente da Aprosoja.

Segundo ele, para se produzir uma hectare (ha) de soja o produtor gasta, em média, R$ 1,1 mil. Neste mesmo pedaço de terra, a renda obtida pelo produtor gira em torno de R$ 600, levando-se em conta uma cotação média de R$ 14 por saca e um rendimento médio de 43 sacas/ha.

Só na região de Primavera do Leste, de acordo com levantamento do sindicato rural do município, as perdas com a safra este ano podem chegar a R$ 250 milhões, considerando uma área plantada de 500 mil hectares e um prejuízo de R$ 500 por hectare.

“Não há como continuarmos na atividade tendo que bancar este prejuízo”, diz o presidente do sindicato, José Nardes”.

O presidente da Aprosoja informa que nos próximos dias os produtores vão ingressar na Justiça contra a União para reaver os prejuízos e forçar o cumprimento do Estatuto da Terra, que prevê preços mínimos em patamares que garantam 30% de lucratividade para o produtor.

PACOTE – Na opinião do presidente da Aprosoja, o pacote agrícola divulgado pelo governo Federal na semana passada contempla basicamente a rolagem da dívida dos produtores.

“O governo teima em tentar uma solução só para esta questão. A prorrogação é apenas uma das medidas. Ela só ajuda, mas não resolve”, critica.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Famato), Homero Pereira, as medidas do pacote resolvem apenas 30% dos problemas dos agricultores. “Ainda assim não sabemos se as medidas serão eficazes e trarão todos os benefícios que o governo está anunciando. Na nossa opinião, o pacote é tímido e deixa o produtor confuso em relação ao seu futuro”.





Fonte: Diário de Cuiabá

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