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Saúde
Segunda - 27 de Março de 2006 às 08:09

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Consultar com um médico especialista pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Cuiabá não é uma tarefa fácil. Em algumas especialidades, como oftalmologia, neurologia e otorrinolaringologia, os pedidos de consultas se acumulam na Central de Regulação e a espera dos pacientes pode se arrastar por até seis meses.

Para oftalmologista, passa de mil o número de usuários na lista de espera por agendamento de consulta. Em otorrino há uma demanda reprimida de mais de 500 consultas, enquanto para neurologista são pouco mais de 70 pacientes na expectativa da abertura de uma vaga para consulta entre os cinco médicos credenciados em toda a rede.

Este ano, 13 especialidades médicas levaram usuários à Ouvidoria do SUS para reclamar da demora no atendimento. Até a primeira quinzena deste mês, 42 pessoas haviam formulado queixas no órgão. No mesmo período do ano passado, foram contabilizadas apenas 24 reclamações, o que mostra um aumento de 75% no período. O ano de 2005 terminou com um total de 222 reclamações.

Entre as pessoas que procuraram a Ouvidoria neste primeiro trimestre, está a dona de casa Silvana Batista Duarte, de 35 anos, moradora do Bairro São Roque, em Cuiabá. Silvana espera desde novembro de 2005 para consultar com um oftalmologista. Ele conta que foi encaminhada ao especialista pelo médico do Centro de Saúde vizinho de seu bairro.

O encaminhamento se deu após surgir um caroço sobre sua pálpebra esquerda e uma membrana fina começar a crescer no interior dos seus olhos e invadir as pupilas. Mas Silvana diz que se assustou quando soube por uma funcionária do centro de saúde que mais de 300 pessoas estavam à sua frente na fila da especialidade. Mesmo assim ela decidiu esperar.

Mas como estava demorando muito, semanas atrás Silvana ligou para a Ouvidoria na tentativa de saber se o que estava acontecendo era normal. De acordo com ela, a primeira informação recebida foi de que realmente há uma demanda superior à capacidade de atendimento do sistema, mas tanto tempo assim seria inaceitável.

Ela então formulou a queixa e, após a abertura de um procedimento administrativo, sua consulta finalmente teve data definida. Silvana deverá passar por uma avaliação oftálmica no próximo dia quatro de abril.

"Mas dificuldades para conseguir atendimento são tantas que a gente fica até constrangida de ter que procurar o serviço público", reclamou a dona de casa. "Só não desisti e paguei consulta particular porque não tenho dinheiro”, completa.

O drama do borracheiro Matias Batista da Silva, de 41 anos, que espera por uma consulta neurológica, já se transformou em revolta. Desde outubro do ano passado, Matias luta por uma avaliação de um neurologista.

O borracheiro que diz ter passado por duas cirurgias, na coluna e na cabeça, reclama de dores e dificuldade de locomoção. Aparentemente abatido pela doença e emocionalmente abalado com a peregrinação pelo SUS, a entrevista com Matias teve de ser interrompida pelo menos três vezes para que ele pudesse conter as lágrimas.

“Não choro de dor, mas de raiva”, repetia o borracheiro, que assim como dona Silvana recorreu à Ouvidoria do SUS. “Será que todas as vezes que precisar de um médico terei de apelar a esse órgão ou ameaçar denunciar ao Ministério Público?”, questiona.

Matias ganha R$ 360, é casado, tem dois filhos e está afastado do emprego desde outubro do ano passado, mas ainda não conseguiu receber o auxílio doença pelo INSS. “Não quero aposentadoria, quero me tratar, obter a cura e voltar a trabalhar”, esbraveja. Em função da queixa apresentada, a consulta dele está agendada para o final deste mês.

Ex-assentado em um gleba em Juína, João Gonçalves, de 60 anos, diz que teve de abandonar sua terra para sair em busca de tratamento médico. Desde 2003, fez três cirurgias e em uma delas retirou um rim.

Agora, na tentativa de passar por uma nova avaliação com um nefrologista e, possivelmente o encaminhamento para uma nova cirurgia, está há 42 dias em uma casa de apoio em Cuiabá. Ele diz que chegou a ter a consulta marcada, mas perdeu a vaga porque não teve o dinheiro da passagem para chegar à capital.





Fonte: Diário de Cuiabá

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