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Internacional
Sexta - 20 de Janeiro de 2006 às 22:30

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Apesar dos rumores em contrário, a Igreja Católica informou que não pretende reabilitar Judas Iscariotes, o homem que traiu Jesus Cristo. Seu nome, os 30 dinheiros que recebeu e o beijo que deu em Jesus para identificá-los aos soldados romanos, são ainda hoje, dois milênios depois, símbolo de traição na cultura ocidental.

Mas o dúbio apóstolo desperta uma difícil questão para os teólogos: se Jesus deveria morrer na cruz, como parte de um plano divino maior, Judas não teria simplesmente feito o seu papel no drama, ao entregar o filho de Deus aos ocupantes romanos? E, além disso, o perdão não seria uma das bases do Cristianismo?

O jornal The Times, de Londres, disse na semana passada que Walter Brandmueller, historiador do Vaticano, pretendia reabilitar Judas, aceitando a versão de que ele "fez sua parte no plano de Deus".

"Isso não tem fundamento", reagiu Brandmueller, diretor da Comissão Pontifícia de Ciências Históricas. "Não posso imaginar de onde surgiu essa idéia", afirmou ele nesta semana à agência católica de notícias Zenit.

Judas era um dos 12 apóstolos de Jesus. No Evangelho de São Mateus, parte do Novo Testamento, consta que ele se arrependeu prontamente da traição, devolveu as 30 moedas de prata ao sacerdote judeu que lhes dera e se enforcou.

Uma razão para o súbito interesse pela figura de Judas é um evangelho apócrifo atribuído a ele, que deve ser publicado neste semestre. Como os demais evangelhos, este texto, sem autenticidade, narra a vida de Jesus.

O Novo Testamento contém quatro evangelhos— de Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas vários outros foram escritos nos 200 anos que se seguiram à morte de Jesus, atribuídos a apóstolos como Tomás e Felipe ou a sua seguidora Maria Madalena.



Muitos deles foram escritos por gnósticos, hereges cristãos dos primórdios que viam no conhecimento secreto a chave para a salvação eterna. O manuscrito grego original do Evangelho de Judas passou muito tempo perdido, mas uma antiga tradução para o copta, achado no Egito, está sendo usada agora por uma fundação suíça.

Há especulações de que qualquer texto atribuído a Judas deveria revelar mais sobre sua identidade e levar a uma reavaliação da sua reputação, mas especialistas no Novo Testamento adotam cautela.

"Até vermos o texto, não saberemos exatamente o que ele diz, mas parece ser um escrito gnóstico e dificilmente mudará nossa opinião sobre o que aconteceu na época", disse Richard Dillon, professor de Teologia da Universidade Fordham, de Nova York.

Alguns especialistas argumentam que reabilitar Judas ajudaria nas relações entre o Vaticano e o Judaísmo, pois os anti-semitas às vezes usam sua história para condenar todos os judeus, embora Brandmueller discorde. "O diálogo entre a Santa Sé e os judeus continua de forma proveitosa em outras bases", disse ele ao Zenit.





Fonte: EFE

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