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Cidades/Geral
Quinta - 28 de Abril de 2005 às 09:14
Por: Daniel Freitas

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Servidores aproveitam a paralisação de advertência para prestar serviços à população na Praça da Piedade

Servidores estaduais vinculados à saúde e à educação realizaram ontem uma paralisação de advertência, com a suspensão das atividades normais. O objetivo das categorias foi chamar a atenção para a necessidade de elaboração de um cronograma de reposição das perdas salariais referentes ao período de 1995 a 2005 (que os trabalhadores dizem ser de 88,32%) e da realização de concurso público para pessoal de apoio técnico administrativo, entre outras reivindicações. Sem professores nas salas, o dia foi ocioso para os estudantes da rede pública estadual em Salvador. No Colégio Central, na Avenida Joana Angélica, os alunos afirmaram que não concordam com a paralisação - que, no caso dos professores, foi nacional.

"Um dia sem aula atrasa o calendário, ainda mais uma semana antes das provas. Essas aulas serão repostas? De que forma? Fazendo a gente vir para cá aos sábados?", questionava Davi Santos, 23 anos, aluno do 2º ano do ensino médio e presidente do grêmio estudantil do Central. Somente ontem, foram cinco horários sem aulas para cada turma. Os alunos também não consideram justa a reivindicação por perdas salariais. "Pelo ensino que os professores dão, eles até ganham muito bem. É uma aula pré-histórica, ultrapassada... Só mandam fazer pesquisas em livros e são poucos os que fazem algo diferente", continuou o jovem.

Davi era apoiado por um grupo de alunos do 2º e do 3º ano que também integram o grêmio - Andréa Rocha, 20 anos, Renata Helena, 19, Mailane Silva, 16, Carine Amorim, 18, e Adriana Leite, 18. Segundo eles, os professores também não promovem aulas práticas nos laboratórios de informática e química existentes no colégio - algo que estimularia o aprendizado dos alunos. "Eles deviam valorizar mais os estudantes, pois nós sempre somos os mais prejudicados. Basta ver os resultados da greve do ano passado", disse Renata Helena. "Será que eles dariam para os filhos deles o mesmo ensino que dão para a gente?", questionou, mais uma vez, Davi.

Sem aulas, restou aos estudantes do Colégio Central ir para a escola preparar uma atividade lúdica - a organização de um desfile de moda que elegerá o mister e a miss Central, que acontece às 16h de amanhã na escola. Com a paralisação, o dia de ontem foi igualmente vazio de atividades pedagógicas em outros grandes colégios estaduais de Salvador, como o Instituto Central de Educação Isaías Alves (Iceia), no Barbalho.

Assinaturas - Enquanto isso, os professores e os servidores da saúde se concentravam, pela manhã, na Praça da Piedade, trazendo a público os seus argumentos. A diretora social da APLB/Sindicato dos Professores, Marinalva Nunes, afirmou que a data de ontem foi o Dia Nacional de Luta em Defesa e Promoção da Escola Pública. Na ocasião, um abaixo-assinado circulou entre a população, colhendo assinaturas para um documento que será enviado a Brasília, solicitando que o presidente Lula converta a dívida externa em recursos para a educação em todo o país.

Na Praça da Piedade, os servidores paralisados aproveitaram a oportunidade para prestar serviços à população. Os funcionários da saúde instalaram um posto de atendimento que oferecia aferição de pressão arterial e realização de exames de sangue. Já os servidores da segurança, que também divulgaram a intenção de suspender os trabalhos das 7h às 9h de ontem, montaram na praça a chamada Delegacia Cidadã para atender o público. Apesar da intenção dos policiais em paralisar, a Secretaria de Segurança Pública do estado da Bahia (SSP-BA) confirmou que não houve paralisação. Os servidores da saúde, por sua vez, levaram adiante a idéia de interromper o atendimento entre às 7h e às 9h em hospitais, centros e postos de saúde.

Em alguns locais, porém, a tentativa não vingou. No Hospital Especializado Octávio Mangabeira, em Pau Miúdo, o atendimento ao público prosseguiu normalmente durante toda a manhã, sem interrupções. Em frente ao Hospital Geral do Estado (HGE), os servidores promoveram um ato público entre às 7h e às 9h, mas a população que procurou a unidade também não chegou a ser penalizada, pois os atendimentos de urgência e emergência continuaram sendo feitos e um efetivo de 30% dos funcionários foi mantido durante este período.

Funcionários do HGE pedem concurso

Com o slogan O trabalho aumenta e o salário diminui, os servidores da saúde, em especial os cerca de dois mil que trabalham no Hospital Geral do Estado (HGE) e que estavam presentes no ato público de ontem, se queixam de que a categoria completa 13 anos sem a realização de concurso público para contratação de pessoal e de que os valores das gratificações incorporadas ao salário vêm decrescendo com o passar dos anos.

De acordo com o Sindsaúde, o plano de carreira implantado em 2003 ainda não foi regulamentado e os salários-base da categoria são os seguintes: R$411 para profissionais de nível superior (médicos, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas), R$277 para os auxiliares e R$267 para os funcionários técnicos-administrativos - com jornada de trabalho de 180 horas.

O Sindsaúde anuncia ainda que a categoria deverá se reunir novamente em assembléia geral no dia 10 de maio, havendo a possibilidade de novas paralisações de 24 horas ou 48 horas e até mesmo uma greve por tempo indeterminado. Por outro lado, a coordenadora de Recursos Humanos da Secretaria da Saúde do estado da Bahia (Sesab), Rosa Ceci, afirma que os valores dos salários-base anunciados pelo sindicato estão equivocados. De acordo com a Sesab, os pisos de hoje seriam R$414,33 (jornada de 120 horas) e R$621,35 (240 horas).

A Sesab diz ainda que a evolução salarial do grupo ocupacional saúde do governo do estado teve ganho real médio de 82,8% em suas remunerações entre 1995 e 2005, mesmo considerando a inflação de 143,2% registrada no período. O último aumento salarial dos servidores da saúde, por sua vez, foi equivalente a 5% e concedido em novembro do ano passado. Em relação a uma das principais reivindicações da categoria (a realização de concurso público), Rosa Ceci avisa que a proposta já foi encaminhada à Secretaria da Administração do estado da Bahia (Saeb) e deverá ser levada à Assembléia Legislativa ainda esta semana. Será um concurso para o grupo ocupacional servidores públicos da saúde, com cerca de 2,5 mil vagas e previsão de acontecer ainda em 2005, provavelmente em agosto.

A coordenadora Rosa Ceci também rebate as queixas dos Sindsaúde de que as gratificações incorporadas ao salário vêm decrescendo com o passar dos anos. "Não há como decrescer, pois as gratificações têm percentuais fixos. As de urgência e emergência são de 150%, a de infectologia é de 100% e a de insalubridade é de 30%. A única que é variável e decresce principalmente no final do ano, em função da pouca demanda nas unidades de saúde, é a gratificação de incentivo à melhoria na qualidade de assistência (GIC)".





Fonte: Correio da Bahia

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