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Nacional
Sexta - 18 de Março de 2005 às 12:04
Por: Mylena Fiori

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Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, chega nesta sexta-feira a Nova Delhi, na Índia, para participar de Reunião Ministerial do G-20 - grupo de países em desenvolvimento criado há dois anos, às vésperas da última Conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Cancun, para defender interesses comuns no setor agrícola junto às grandes potências. Após o fracasso de Cancun, o grupo, liderado pelo Brasil, vem promovendo reuniões de forma a fortalecer posições para a próxima Conferência da OMC no final deste ano, em Hong Kong.

Em Nova Delhi, porém, a discussão de estratégias conjuntas em agricultura será apenas um dos itens da pauta do G-20. O encontro marcará, também, a adesão ao G20 do Uruguai, único país do Mercosul que não fazia parte do grupo e que inclusive vinha defendendo posições contrárias ao G-20 na OMC. Por fim, paralelamente à reunião ministerial será selado um Acordo de Comércio Preferencial entre Índia e Mercosul.

Nesta entrevista exclusiva à Agência Brasil, na Inglaterra, onde se encontra a convite da Universidade de Cambridge, o cientista político José Luis Fiori fez alguns comentários sobre a atual política externa do governo brasileiro.

Para Fiori, o fortalecimento do G-20 é uma vitória da diplomacia brasileira no sentido de internacionalizar os problemas sul-americanos sem bater de frente com os Estados Unidos. Ele acredita que o Brasil também marca pontos - e ganha um aliado em sua campanha por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU - com a entrada do Uruguai no G-20. Fiori avalia como particularmente interessante para o Brasil o acordo Mercosul-Índia. "A Índia, a China e o Brasil, ao lado da velha Rússia, aparecem em todas as previsões dos especialistas como as quatro grandes baleias que terão que ser assimiladas pelas grandes potências nas próximas décadas ou meio século", afirma.

Agência Brasil: Além de coordenar estratégias conjuntas para a abertura de mercados agrícolas, os países do G-20 devem discutir em Nova Delhi temas como serviços, para que ambições individuais não se sobreponham aos interesses comuns na próxima Conferência da OMC. Dá para um grupo tão diversificado negociar em bloco questões além da agricultura?

José Luis Fiori: A força comercial do G-20 está ligada, neste momento, a alguns temas relativos à agricultura e às exportações de alguns grandes produtores de alimentos destinados aos países centrais. É muito difícil hoje estabelecer qualquer tipo de parceria mais duradoura fora dessas questões tópicas, em geral ligadas à exportação de alimentos ou a alguns temas econômicos bem detalhados. Para o Brasil, no entanto, além da defesa de interesses comerciais na área agrícola, o G-20 permite levar a frente uma estratégia que vem sendo adotado pelo Itamaraty: tirar da alçada exclusiva dos Estados Unidos os temas do continente sul-americano. Trata-se de internacionalizar as questões continentais sem entrar em conflito direto com os Estados Unidos, que sempre tiveram hegemonia completa na área e jamais permitiram que os temas continentais fossem discutidos fora daqui.



ABr: Na prática, o que representa a adesão do Uruguai ao G-20?

Fiori:O Uruguai tem operado nesses anos mais recentes como um aliado mais direto e explícito dos Estados Unidos dentro do Mercosul. Assumiu uma posição reticente com relação ao G-20 na última reunião da OMC e tem um candidato à presidência da instituição (Carlos Pérez Del Castillo), que está concorrendo com o brasileiro (embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa) contra o europeu (o francês Pascal Lamy). É obvio, neste contencioso, que a candidatura do uruguaio estava enfraquecendo a do diplomata brasileiro.

Além disso, a aproximação do Uruguai do G-20 sinaliza para os meios diplomáticos de todo o mundo que o novo governo uruguaio de Velasquez pode vir a apoiar o Brasil para o Conselho de Segurança da ONU, abandonando uma posição reticente que vinha mantendo sobre o assunto, igual que a Argentina. Neste tópico, o Brasil passa a ter, com toda a certeza, mais um voto dentro do Mercosul. Este é um jogo regional complicado, que segue regras mais ou menos constantes desde a Guerra do Paraguai, na década de 1860. Mas além de aumentar o poder de fogo do Brasil, a nova posição do Uruguai aumenta, sobretudo, a força do eixo estratégico Buenos Aires-Caracas-Brasil, que vem sendo trabalhosamente construído pelos três paises.

ABr: Em paralelo à reunião ministerial, será formalizado um acordo de preferências fixas entre Índia e Mercosul. À parte discussões sobre a efetiva relevância econômica deste acordo, qual a importância diplomática de um acordo desses para o Brasil? Fiori: Alem das convergências entre os dois países associadas à agricultura e às suas exportações alimentícias em geral, essas novas negociações permitirão aumentar a aproximação entre Brasil e Índia, baseada em interesses comuns, por conta da candidatura dos dois ao Conselho de Segurança da ONU e de parcerias no campo tecnológico. Os indianos estão na ponta em matéria de computação e controlam tecnologias sensíveis no campo armamentista, em particular em balística, em que o Brasil tem necessidades prementes de atualização. Mas o Brasil tem dado passos importantes no campo aeronáutico e isto pode se completar com os avanços indianos. Por fim, e mais genericamente, a Índia, o Brasil e a China, ao lado da velha Rússia, aparecem em todas as previsões dos especialistas como as quatro grandes baleias que terão que ser assimiladas pelas grandes potências nas próximas décadas ou meio século.




Fonte: Agencia Brasil

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