Repórter News - www.reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 25 de Fevereiro de 2005 às 10:03
Por: Mata Furtado

    Imprimir


No dia 1º de março, pela primeira vez na história do Uruguai, a presidência do país passará a ser ocupada por um socialista, Tabaré Vázquez, que terá maioria absoluta no Parlamento, liderado por ex-guerrilheiros Tupamaros.

A transcendência política do momento será constatada na prática pela grande lista de presenças confirmadas para a posse, na qual estarão 160 delegações e os principais líderes da esquerda latino-americana.

Já está confirmada a presença do cubano Fidel Castro e dos presidentes de Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Equador e Venezuela.

A visita de Fidel tem um duplo significado. No mesmo dia, após Vázquez assumir o cargo, os dois governantes assinarão o reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, suspensas em junho de 2002 após uma série de discussões entre o cubano e o atual presidente, Jorge Batlle.

Bisneto, sobrinho neto e filho de presidentes, Batlle passará a presidência do país ao primeiro presidente de esquerda da história do Uruguai com a responsabilidade de representar um partido, o Colorado, que governou o país quase que ininterruptamente durante 170 anos - alternando-se com o Partido Nacional (Blanco) - e que nas últimas eleições obteve apenas 11% dos votos.

Batlle enfrentou a pior crise econômica da história do Uruguai. No primeiro semestre de 2002, foram sacados 47% dos depósitos bancários, quatro bancos quebraram, o dólar se desvalorizou, milhares de cidadãos perderam tudo e o desemprego chegou ao nível recorde de 20%.

O país ainda está se recuperando da crise e 20% da população se encontra em situação de pobreza.

O primeiro ato do governo depois da formação do gabinete ministerial será a assinatura do Plano de Emergência Social que, com um orçamento de 100 milhões de dólares, pretende atenuar as necessidades básicas dos mais necessitados.

O reatamento das relações com Cuba, a assinatura do Plano de Emergência e a habilitação do voto de uruguaios que moram no exterior em eleições realizadas no país são as três primeiras iniciativas do governo Vázquez.

Um editorial da revista Búsqueda desta quinta-feira, o meio de comunicação mais influente do país, diz que o Plano de Emergência mostra que "a prioridade da nova administração são os setores marginalizados".

O novo governo enquadra as iniciativas em um processo de mudança de prioridades: atenção à marginalização social e à potencialização da relação com seus vizinhos, muito abandonada pelo Executivo atual.

Um dia depois do ato de posse, Vázquez e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, assinarão um acordo pelo qual o Uruguai obterá petróleo venezuelano através de créditos suaves e a Venezuela comprará produtos agropecuários do vizinho brasileiro do sul.

Vázquez chega ao governo liderando a coalizão de esquerda Frente Ampla, criada em 1971 com a intenção de unir todas as forças de esquerda para conseguir chegar ao poder.

Seguindo o princípio de que, no Uruguai, nada é feito repentinamente, durante seus 34 anos de existência, a Frente Ampla foi ganhando adeptos e crescendo ininterruptamente até que, nas eleições de outubro, conseguiu 50,7% dos votos.

A coalizão terá maioria absoluta nas duas câmaras do Parlamento - o que não acontecia há 40 anos -, ambas presididas por ex-guerrilheiros tupamaros: José Mujica e Nora Castro. A última será a primeira mulher a assumir a presidência da Câmara Baixa.

A chegada ao poder dos ex-tupamaros foi mostrada com todo seu simbolismo e magnitude no dia 15 de fevereiro, quando o Parlamento foi constituído sob a presidência de Mujica, ex-líder guerrilheiro que esteve preso durante os 12 anos da ditadura (1973-1985).

Um dos fatos mais simbólicos do dia foi quando, na qualidade de presidente das duas câmaras, passou em revista ao Batalhão Flórida, a unidade do exército que o prendeu.





Fonte: EFE

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/357372/visualizar/