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Agronegócios
Quinta - 29 de Abril de 2004 às 19:25
Por: Agrojornal

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As negociações comerciais entre Mercosul e União Européia precisam incluir rapidamente propostas mais ousadas de abertura de mercados por ambos os blocos econômicos, caso contrário o processo de conversações poderá estancar, deixando de gerar efeitos positivos para os países dos dois grupos.

A avaliação foi apresentada pelo presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gilman Viana Rodrigues, ao Comissário Europeu para Assuntos de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Franz Fischler. "Eu, que sou do setor privado, entendo que o Mercosul deve ter uma oferta para a área de serviços, investimentos e compras governamentais, mas, ao mesmo tempo, exigir acesso amplo para produtos em que somos competitivos, como açúcar e álcool, suco de laranja, carnes, leite, tabaco, café solúvel e calçados", disse Rodrigues.

O dirigente da CNA argumentou que o Brasil não pode, entretanto, abrir o mercado para compras governamentais, serviços e investimentos e receber, em contrapartida, o estabelecimento de cotas de envio de produtos para a União Européia. "Cotas são fixas, e mesmo que pareçam hoje estabelecidas em bons patamares, podem atingir um teto. O mercado de serviços, por outro lado, é elástico.", disse Rodrigues. Ou seja, conforme entendimento do dirigente da CNA, há sim bom espaço para negociar um acordo de livre comércio entre Mercosul e UE, mas dentro de regras equânimes. "Abrir o mercado de investimentos, serviços e compras governamentais não faz mal a ninguém. O que faz mal é uma regra errada, mal-feita.", afirmou.

O protecionismo brasileiro em relação a investimentos está impedindo o País a obter melhores índices de crescimento da economia, disse Rodrigues, lembrando que os setores público e privado nacionais não têm hoje recursos em volume suficiente para realizar obras, por exemplo, na construção de estradas e portos. E é em boa parte devido à deficiência em infra-estrutura que o agronegócio nacional, responsável por exportações de US$ 30,6 bilhões em 2003, perde espaço no mercado internacional, disse Rodrigues. Dessa forma, argumentou que seria vantajoso para o Mercosul abrir espaço para investimentos, ganhando em infra-estrutura; mas simultaneamente obtendo livre acesso para produtos agropecuários, setor no qual os países da região são competitivos. "Se queremos crescer, vamos ter de importar mais, para aprimorar a nossa infra-estrutura, para ter acesso a melhor tecnologia; e para isso vamos precisar de mais divisas, com saldo na balança comercial. E o setor que tem gerado superávits é o agronegócio. Por isso é importante a abertura de mercados para o setor.", disse Gilman Rodrigues.

Fischler e sua comitiva visitaram a sede da CNA dentro da agenda oficial que o grupo cumpre no País, com o objetivo de estabelecer um contato direto com representantes do setor privado nacional. No encontro realizado nesta terça-feira estiveram presentes dirigentes do agronegócio brasileiro dos mais diferentes setores produtivos. Fischler afirmou que na semana passada, durante reunião das delegações do Mercosul e União Européia, não ocorreu uma troca de ofertas melhoradas, como chegou a ser cogitado. Segundo o Comissário, as negociações efetivas de ofertas melhoradas entre os dois blocos devem ocorrer durante as próximas duas semanas. Fischler indicou que o setor privado precisa estar efetivamente presente nos debates do acordo comercial entre Mercosul e União Européia, demonstrando o real efeito positivo que a abertura de mercado pode gerar para a economia dos dois blocos.

"Por enquanto, estamos apenas no meio do caminho", disse Rodrigues, avaliando que a visita da comitiva da União Européia ao Brasil demonstra um sinal de boa vontade na conquista de resultados conclusivos quanto ao projeto de abertura de mercados. "Mas não podemos perder de vista que o negócio internacional é um negócio de troca, de mão dupla", afirmou o dirigente da CNA. Durante o encontro não foram discutidas propostas efetivas de trocas comerciais, pois os dois blocos ainda não apresentaram oficialmente a lista de ofertas melhoradas.




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