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Saúde
Domingo - 07 de Setembro de 2014 às 20:52

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Hipersexualidade atinge 3% da população mundial
Hipersexualidade atinge 3% da população mundial

Hipersexualidade, vício, impulso ou compulsão sexual. Tanto faz o termo utilizado, já que o significado é o mesmo: obsessão incontrolável por sexo. O transtorno, que atinge cerca de 3% da população mundial e 80% deles são homens, traz prejuízos ao corpo e a vida social da pessoa. De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, o hipersexual abandona suas tarefas cotidianas, como o trabalho, e deixa de dormir e até de se alimentar corretamente, para praticar ou pensar em sexo.

A professora da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP, Carmita Abdo, explica que a hipersexualidade se demonstra quando a pessoa é “refém do sexo”, já que “não consegue mais ter o controle da situação”.

— A compulsão não é apenas pela relação sexual [penetração], mas sim por masturbações, acesso a sites pornográficos, entre outros. A pessoa passa o tempo todo pensando em sexo e buscando situações de cunho erótico. Por causa disso, muitas vezes, se expõe a situações de risco, como fazer sexo sem proteção, correndo risco de contrair DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), encarar uma gravidez indesejada. O hipersexual passa a ser fisicamente vulnerável, já que além de tudo isso, deixa de comer, não dorme o suficiente, se sente cansado e deixa as tarefas importantes de lado, como faltar no próprio trabalho.

Além das debilidades no corpo, o ginecologista, terapeuta sexual e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Amauri Mendes Jr, o vício proporciona uma “grande infelicidade e ansiedade, já que ele nunca se satisfaz”.

— A pessoa busca o sexo como forma de alívio e não prazer. Então, não importa o quanto ele transe ou o quanto se masturbe, ele sempre vai continuar ansioso e infeliz por não acalmar essa angústia que sente. É como se ele tivesse um calo em seu pé que o incomoda o dia inteiro. Muitos não conseguem parar em empregos, pois são pegos de olho em sites pornográficos. No âmbito familiar, também há preconceito e, muitas vezes, há falta de entendimento, já que os parceiros não entendem essa necessidade extrema em fazer sexo.

Para o psiquiatra Aderbal Vieira Jr., responsável pelo setor de tratamento de dependências de comportamentos do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) da Unifesp, as consequências da hipersexualidade na vida estão mais ligadas a valores e significados “que estes comportamentos têm em nossa cultura do que propriamente algum tipo de prejuízo diretamente decorrente de praticá-los”.

— Qual a consequência direta de se masturbar excessivamente? A pessoa fica cansada? Das pesquisas que fizemos com dependentes, a maioria relata que a dependência prejudica principalmente seu trabalho, já que, por causa do comportamento sexual excessivo, ela passa o muito tempo bolando como conquistar alguém, para de fazer tudo para se masturbar, falta ao trabalho para buscar sexo, envolve-se sexualmente com colegas ou clientes. Também é bastante citada a insatisfação pessoal com o próprio comportamento. Bem depois, questões ligadas à família, dinheiro e religião.

Traumas podem levar à compulsão

Uma das causas mais aceitas para explicar a hipersexualidade é o desequilíbrio dos neurotransmissores, que pode ter fundo genético ou simplesmente ser decorrente de um trauma, que provoca reações descontroladas temporariamente, segundo explica Carmita. Na maioria dos casos, a disfuncionalidade aparece já na adolescência, mas a tendência é que se torne mais intensa a partir dos 20 aos 30 e poucos anos de idade.

— Além da predisposição genética [que ainda requer confirmação por mais estudos], a compulsão por sexo pode estar ligada a algum trauma, como agressão física, quadro de ansiedade exagerada, perda afetiva, problemas tóxicos cerebrais. A demência, por exemplo, pode levar o indivíduo à hipersexualidade. Dizemos então que é algo multifatorial.

Tratamento

Geralmente, o paciente busca ajuda médica com amparo do parceiro ou de familiares que percebem as mudanças em seu comportamento. Carmita ressalta que, como o assunto é “muito estigmatizado”, o indivíduo sente vergonha de relatar o que realmente sente, além do próprio “autopreconceito”.

— Muitos pacientes trazidos pelo parceiro não contam diretamente sobre o impulso sexual. Antes, relatam outros problemas, como dificuldades de ereção. Por isso, é importante que o especialista faça a análise do caso. O que se deve entender é que não depende da pessoa desejar ou não. É algo que ela precisa controlar e não consegue. É um impulso mesmo.

A coordenadora do Prox explica que o tratamento deve ser combinado com medicação e psiccoterapia.

— Os medicamentos utilizados são do tipo antidepressivo, que ajudam a inibir a libido, e também utilizamos estabilizadores de humor. A terapia sexual vai investigar a buscar as origens do problema.

Já o psiquiatra da Unifesp afirma que a “espinha dorsal do tratamento” é a psicoterapia, já que busca compreender “o porquê de a pessoa agir daquela maneira”. Mas, dependendo do caso, associa-se o uso da medicação para baixar a libido.

— A terapia avalia a pessoa como um todo e como a vida dela se estruturou em relação ao sexo. Geralmente, a medicação só entra quando a pessoa tem, além desta disfuncionalidade, algum outro problema psiquiátrico, como a depressão ou transtorno de ansiedade [algo comum entre os dependentes de sexo]. Em casos mais graves, como pedófilos ou agressores sexuais, também utilizamos a medicação para tentar bloquear quimicamente alguns comportamentos.

* Colaborou: Luiz Guilherme Sanfins, estagiário do R7





Fonte: Do R7

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