Repórter News - www.reporternews.com.br
Meio Ambiente
Terça - 18 de Setembro de 2012 às 17:33

    Imprimir


Lucas Garcia/Secretaria de Turismo de Cá
Em alguns pontos é possível atravessar o rio de uma margem a outra a pé
Em alguns pontos é possível atravessar o rio de uma margem a outra a pé

Um longo período de estiagem castiga o rio Paraguai, que banha o pantanal de Mato Grosso. Nesta terça-feira (18), o rio atingiu apenas 85 cm de profundidade, em alguns pontos, o segundo pior índice desde a década de 60, quando o rio chegou a marcar um nível de 75 cm, segundo apontou a Agência Fluvial de Cáceres, a responsável pelas medições do nível do rio.

Na última sexta-feira (14), uma chuva repentina quebrou a sequência de 87 dias sem chuvas em Cáceres, 204 quilômetros de Cuiabá, que está localizada às margens do rio. Mas, de acordo com a Defesa Civil do estado, choveu apenas 3,2 milímetros no município, o que foi considerado insuficiente para aumentar o nível do rio.

Considerado o maior rio da Bacia Hidrográfica do Paraguai, o rio de mesmo nome já não apresenta condições de navegabilidade para grandes embarcações. Ouvido pelo G1, o capitão da Marinha, Josinaldo Souza Sobrinho, informou que apenas embarcações de pequeno porte conseguem navegar na região. “É preciso ter cautela, pois as embarcações maiores correm o risco de encalhar”, salientou. O Ministério dos Transportes aponta que a profundidade recomendável para a navegação no rio Paraguai varia de 0,90 a 1,22 metro durante todo o ano.

Barco de turismo encalhado é rebocado por conta do baixo nível do rio (Foto: Cléris Tubino/Secretaria de Turismo de Cáceres)
Barco de turismo encalhado é rebocado por conta do
baixo nível do rio Paraguai na região de Cáceres
(Foto: Cléris Tubino/Secretaria de Turismo)


 

A situação é tão crítica, afirmou o capitão, que é possível atravessar a pé, em alguns pontos, de uma margem a outra do rio. Conhecida como uma cidade turística que atrai milhares de pessoas durante, principalmente, durante o festival de Pesca, o turismo de Cáceres é o mais prejudicado.

O setor estima um prejuízo de 50% na economia da cidade devido à seca. De acordo com a secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Cáceres, 2,5 mil empregos diretos e indiretos podem ser afetados caso a situação não seja contornada. O técnico da pasta, Claudionor Duarte, apontou que muitos barcos-hoteis repletos de turistas atraídos pela pesca esportiva não estão conseguindo retornar aos cais da cidade. “O prejuízo é ainda maior com os encargos referentes ao cancelamento de pacotes turísticos e com a diminuição de cerca de 40% da vinda de turistas à região"", disse Duarte.

Para contornar a situação, empresas de dragagem foram contratadas para retirar os sedimentos do fundo do rio e, assim, aumentar a calha para melhorar a navegabilidade. A presidente da colônia de Pescadores de Cáceres, Elza Basto Pereira, disse que a estiagem não afetou a pesca da comunidade ribeirinha.

Moradora na região há 35 anos, ela enfatizou que o rio vem secando ano após ano. “Conheço o Pantanal de ponta a ponta e acompanhei de perto as transformações do rio. Na década de 80 a 90 ele passou a abrigar embarcações de grande porte na época de cheia. As principais mudanças estão nos leitos do rio que vem sofrendo com os assoreamentos e com a construção das pequenas hidrelétricas que afetam diretamente as condições das águas"", relatou a pescadora.

Retorno da seca
A pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cátia Nunes, do Núcleo de Estudos Ecológicos do Pantanal, diz que imperou um período de seca na década de 1960. De 1974 em diante, segundo a pesquisadora, o Pantanal vivencia um ciclo úmido. Mas, ao que tudo indica, esse ano, marca o retorno da seca, que pode durar um, dois ou até 10 anos. “O problema no Pantanal não é a seca e sim o homem. A preocupação que se deve ter neste momento é com a vulnerabilidade da vegetação que passou por um longo período de cheias e deve passar por um período longo de estiagem e o acesso a elas ficará ainda maior”, revelou.

Rio Paraguai no nível normal com barcos atracados na baía de Cáceres (Foto: Pollyana Araújo/G1)
Rio Paraguai no nível normal com barcos atracados na baía de Cáceres (Foto: Pollyana Araújo/G1)

 

A pesquisadora explica ainda que a vegetação do Pantanal passará por um processo de readaptação. Vão sobreviver aquelas espécies que são resistentes à seca.“Vários estudos realizados na região indicam um iminente período de seca para compensar os 30 anos de intensa umidade. É preciso saber respeitar o tempo da natureza, que agora abre caminhos para a rica biodiversidade do cerrado. O pantanal é isso, marcado por períodos definidos de cheias e secas, e que precisa passar a uma situação de dificuldade, para voltar ao seu estado natural"", acrescentou.





Fonte: Do G1 MT

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/41109/visualizar/