NÃO SÓ LINHAS DE CRÉDITOS
José Adolpho enfatiza nova função da Desenvolve MT de abrir mercados aos produtos e atrair investimentos
A busca de novos mercados para os produtos de Mato Grosso e de atração de investimentos para os municípios do Estado têm condições de passar de R$ 1 bilhão, nos próximos anos, caso parcela considerável das prospecções iniciadas no atual governo sejam concretizadas. A projeção partiu do novo presidente da Desenvolve Mato Grosso, José Adolpho Avelino Vieira, que imprimiu medidas que permitem desburocratizar a concessão de créditos, acelerar alguns processos e reduzir prazos para geração de emprego e renda.
José Adolpho Vieira, 44 anos, é cuiabano com direito a títulos de cidadania de Cuiabá e de Mato Grosso, formado em Administração de Empresas, com pós graduação em Recursos Humanos e Inovação Tecnológica. Ele já foi secretário adjunto e titular da Chefia da Casa Civil, tendo saído em outubro do ano passado.
Ingressou no staff governamental em janeiro de 2015 e é considerado de confiança do governador José Pedro Taques (PSDB). É visto como arrojado na gestão e conciliador no diálogo, com forte vocação para administração pública – é servidor de carreira licenciado do Conselho Regional de Administração (CRA), uma autarquia federal.
Poucos dias após ser efetivado no comando da Desenvolve MT, sucessora da Agência MT Fomento (Lei Complementar 581/2016), ele recebeu a equipe de reportagem para conceder esta entrevista. A sala acanhada e de decoração simples é um claro recado da forma austera como imprime o seu modelo de gestão, na Desenvolve MT.
Olhar Direto – A Desenvolve MT possui ampla área de atuação e o senhor afirmou tratar-se de imenso desafio. Como recebeu o novo desafio?
José Adolpho – Creio que todos sabem que comecei no governo em janeiro de 2015, como adjunto da Casa Civil. A convite do governador Pedro Taques, aceitei assumir a Desenvolve MT. Certamente a maioria das pessoas se lembram que se chamava MT Fomento e tinha vocação para a concessão de crédito e, principalmente, para o micro-crédito. Depois, vieram os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social [(BNDES] e Fundo Constitucional do Centro-Oeste [FCO]. Portanto, aqui existem financiamentos grandes, também.
Olhar Direto – E o que mudou, na prática, com a Desenvolve MT substituindo a MT Fomento, com a sanção da Lei Complementar 581/2016?
José Adolpho – Trata-se de uma política de Estado, desde que, no final de 2016, o governador Pedro Taques sancionou a lei ampliando a competência da Desenvolve MT. Além das linhas de crédito, hoje existem mais dois focos: levar os produtos de Mato Grosso para o Brasil e para o mundo, e também atrais empresas, principalmente indústrias, para se instalarem em nosso território. Vejam o caso das riquezas do nosso subsolo: em 2017, estivemos na Feira de Mineração do Canadá, a maior do planeta. Todo o setor de Mato Grosso participou da Feira. E sabe-se que Mato Grosso possui um potencial fantástico, na área. Vale destacar que Mato Grosso é o maior produtor de diamante do Brasil e é um dos três maiores produtores de ouro.
Olhar Direto – E, então, quais os resultados práticos do prospecção mineral, no Canadá e outros países?
José Adolpho – Depois da viagem até o Canadá, a comitiva de Mato Grosso seguiu para a China. E muitas empresas chinesas já conheciam, porque viram nossos representantes em Toronto, no Canadá. É bom enfatizar que Cuiabá já recebeu sete delegações da China, procurando Mato Grosso para investir. Das sete delegações visitantes é bom que se diga: duas já se tornaram realidade.
Olhar Direto – Como são as linhas de crédito disponíveis oriundas do BNDES e FCO, por exemplo??
José Adolpho – São linhas normais do BNDES e do FCO. Todavia, na Desenvolve MT temos menos burocracia para dar acesso fácil ao crédito destinado ao micro, pequeno e médio empreendedor. Estamos buscando desburocratizar ao máximo para dar acesso aos micro e pequenos dispostos a gente emprego e renda. Como a gente consegue fazer isso? Fizemos uma experiência há pouco tempo fantástica com alguns pequenos produtores que planta arroz. Eram nove produtores e criamos o aval solidário. Eu [produtor] sozinho não conseguia avalizar o meu empreendimento. Porém, os nove – um avalizou para o outro. Eles, em conjunto, garantiram o empréstimo total. É uma inovação que a gente consegue fazer.
Olhar Direto – Isso significa que o Fundo de Aval vai mesmo sair do papel??
José Adolpho – Sim, vai sim. Buscamos junto ao Sebrae auxílio na constituição do Fundo de Aval, que é justamente o Fundo Garantidor de Mato Grosso. Vamos atender justamente o micro e o pequeno que não consegue comprovar a sua renda, que, apesar de ter capacidade de pagamento, tem dificuldade em provar. Temos regras para seguir ditadas pelo Banco Central, portanto, temos que fazer algumas exigências. Em sendo assim, o Fundo de Aval vai garantir esse empréstimo para o micro e pequeno empreendedor. Então, a gente consegue conceder o crédito, mesmo que [o pequeno empresário] não consiga demonstrar a quantidade de renda necessária, para ter acesso ao crédito. O Fundo garante a parte que o empreendedor não consegue comprovar.
Olhar Direto – Como a Desenvolve MT avalia os financiamentos concedidos para as cadeias produtivas de Mato Grosso?
José Adolpho – O impacto é gigantesco na economia de Mato Grosso. Não estamos falando de recursos vultosos. Porém, se a gente conseguir aplicar de forma a manter apenas uma cadeia produtiva e não somente de forma individual, temos dados significativos. E, se pulverizar isso, o impacto seria pequeno. Nossa determinação é atuar em cadeias produtivas. Falamos da importância da piscicultura, com inserção da tilápia. Se a gente conseguir financiar o pequeno proprietário rural que vai fazer dois tanques [de criação]. A gente fomenta a indústria da ração, fomenta o que vai criar uma micro-empresa responsável somente pela dispersão da ração – ao invés de a pequena empresa ter um funcionário só para dispersar a ração, firma consórcio de 10 ou 15 pequenos proprietários para contratar apenas uma pessoa. Talvez a Desenvolve MT possa fomentar a compra de caminhão frigorífico, para atender determinada região de Mato Grosso... Se a gente incentivar toda uma cadeia, faz uma diferença gigantesca, no contexto final. Poderia citar a cadeia do mel e outras cadeias produtivas.
Olhar Direto – É certo que o turismo necessita de um olhar clínico em Mato Grosso.
José Adolpho – Pois, é por exemplo, no turismo. O empresário tem a pousada dele, mas tem uma pequena lavanderia. A gente pode financiar reforma do hotel e melhorias na pequena lavanderia. E mais: o pequeno produtor que vai fornecer alimentação para essas pousadas. Podemos fomentar o guia turístico. Na hora em que fortalece toda a cadeia, faz uma diferença imensa em toda a economia.
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