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Saúde
Quarta - 19 de Outubro de 2011 às 15:47
Por: Alline Marques

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Aline Marques-OD

A dignidade das pessoas foi esquecida pelas autoridades da saúde que deixam a população desassistida, justamente num dos momentos mais difícil de suas vidas. Os pacientes precisam se acomodar nos corredores superlotados do Pronto-Socorro de Várzea Grande, alguns até mesmo no chão. O número de atendimento aumentou mais de 50% após a interdição da ala de urgência do pronto-socorro de Cuiabá e pacientes de todo o estado estão sendo encaminhados para o hospital que depende até da boa vontade dos funcionários para conseguir atender a demanda.

Pessoas no chão ainda agradecem pelo fato de estarem sendo atendida, como é o caso do casal Isabeth e Edimar Benites. Eles, que são moradores do bairro Parque Cuiabá, estão no pronto-socorro desde ontem (18) e Edimar foi “gentilmente” acomodado ao chão após sofrer um começo de infarto.

A esposa conta que o marido foi levado para a policlínica do Coxipó, onde recebeu os primeiros atendimentos, mas devido a complexidade do caso foi encaminhado para o pronto-socorro de Cuiabá, onde o casal aguardou por mais de uma hora e depois foi levado para o município vizinho. “Aqui nós fomos muito bem atendido”, afirmou Edimar.

Isabeth destaca que nessas horas o sentimento é de impotência e critica as autoridades políticas que apenas “prometem, mas não melhoram a saúde”. Relatos como o do casal não é difícil encontrar pelos corredores.



O jovem Henrique Fernando de 20 anos levou um tiro no braço, após uma briga no bairro Vila Boa Esperança, em Várzea Grande, e aguarda desde ontem para fazer a cirurgia de retirada da bala que está alojada. No entanto, ainda não conseguiu nem mesmo fazer um exame e aguarda no chão apenas com um curativo no local onde foi atingido. A mãe Naide Francisca aguarda ansiosa junto com o filho e nem cogita a possibilidade de transferência, já que não há vagas em outros hospitais.

Isa Baracha é de Barra do Garças (503 km de Cuiabá) está com o marido Luis de Moraes no hospital aguardando por uma cirurgia no fêmur. Ele sofreu um acidente no dia 15 de outubro e o pronto-socorro da cidade onde moram cuidou do encaminhamento dele para a capital, já que a cirurgia é de alta complexidade e não é feita no município.

“Fomos informados lá em Barra que a cirurgia dele estava marcada para hoje às 7h, mas ele está até agora aqui no corredor e só fomos informados que não tem condições de realizar esta cirurgia”, afirmou Isa, que ainda tenta a transferência do marido para o recém-inaugurado Hospital Metropolitano, sem saber que a unidade não realiza atendimento de alta complexidade.

Esses são apenas alguns dos casos das mais de 40 pessoas espalhadas nos corredores. Os funcionários do pronto-socorro informaram que existem pacientes no centro cirúrgico que já concluíram o procedimento, mas têm para onde serem levados.



Em meio a este caos, uma comitiva de entidades como Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindmed) e Conselho Regional de Medicina (CRM), além de representantes do Ministério Público Estadual (MPE) e Defensoria Pública, chamaram a imprensa para tentar chamar a atenção das autoridades para que uma solução seja encontrada rapidamente.

Enquanto o pronto-socorro sofre com a superlotação e com a falta de equipamentos e materiais, o Hospital Metropolitano atende à porta fechada. Este foi o principal questionamento dos funcionários, Sindmed e CRM. Apesar da administração municipal de Cuiabá afirmar que apenas pacientes de urgência e emergência seriam levados para o município vizinho não é o que está acontecendo.

De acordo com informações dos funcionários, no dia de ontem os carros das policlínicas de Cuiabá levaram mais de 20 pacientes com casos dos mais simples até os mais complexos. Além disso, três pacientes do Adalto Botelho e mais três do Carumbé também foram levados para o hospital. Hoje, uma van com as presas do presídio Ana Maria Couto também chegou no local.



O promotor Rodrigo Arruda, da Promotoria de Cidadania de Várzea Grande, disse que o Ministério Público já propôs diversas ações para que sejam tomadas as devidas providências, mas não há resposta do Poder Judiciário, que parece julgar apenas as liminares de casos isolados para cirurgias e internações.

“Nós do Ministério Público estamos fazendo a nossa parte e se cada um fizer o que lhe cabe, com certeza a situação melhora. A solução foge das nossas mãos”, afirmou o promotor, que também tem o apoio do defensor público Marcelo Rodrigues Leirião. Ambos propuseram uma ação em fevereiro de 2011cobrando melhorias, mas até agora não foi julgada.

Além deste processo que tramita na Vara de Fazenda Pública, outra ação foi proposta há mais de três e também não foi julgada ainda. Diante da lentidão do Poder Judiciário, as pessoas padecem com o caos na saúde.

Mesmo com o aumento de 50% no atendimento, Cuiabá parece não estar sendo muito parceira com o vizinho e não tem enviado materiais e equipamentos para ajudar o pronto-socorro de Várzea Grande.

A farmacêutica Sumaia Leite de Almeida, responsável também por controlar os medicamentos, equipamentos e materiais, conta que os funcionários estão fazendo até vaquinha para conseguir comprar alguns produtos de mais urgências para conseguir atender a demanda.

“A situação é assustadora e não aparece ninguém do Poder Público aqui. Estamos abrindo mais ala, conseguimos que cedessem algumas macas para gente e uma empresa doou um ar condicionado, para conseguirmos tirar pelos menos 15 pessoas dos corredores, mas isto não resolve, porque saem 15 e entram mais 15”, relatou.

A presidente do Sindmed, Elza Queiroz, informou ter entregue um dossiê sobre o pronto-socorro de Várzea Grande na Casa Civil, encaminhado ao governador Silval Barbosa, na semana passada. Porém, até o momento não obteve resposta. O estado é responsável pelo repasse R$ 1,2 milhão por mês para o pronto-socorro.






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