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Politica Brasil
Segunda - 01 de Agosto de 2011 às 17:59
Por: ANTONIO DE SOUZA

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Agência Senado/Agência Brasil
Pagot teria deixado o Governo Dilma com a certeza de que não será investigado
Pagot teria deixado o Governo Dilma com a certeza de que não será investigado

A partir do momento em que a presidente Dilma Rousseff decidiu afastar Luiz Antonio Pagot (PR-MT) do comando do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o Governo estendeu "um macio e portentoso tapete vermelho" para que ele fosse embora de "cabeça erguida". O republicano saiu do Governo certo de que não será investigado.

A observação é do jornalista Ricardo Noblat, que, em seu blog, em O Globo, nesta segunda-feira (1º), aponta que Pagot foi cercado de cuidados pelo Palácio do Planalto, ao ameaçar detonar o PT, porque conhecia segredos dos Governos Lula e Dilma.

"Todo esse cuidado se justificava. Pagot arrecadou dinheiro para o 1º e o 2º turnos da eleição de Dilma. E ainda arrecadou mais para depois pagar dívidas de campanha", revela Noblat, em artigo no qual diz que o convite para o senador Blairo Maggi (PR) assumir o Ministério dos Transportes, foi, por assim dizer, "de mentirinha".

Confira a íntegra da análise do jornalista Ricardo Noblat:

"Saudades da Gilda

Jamais haverá uma mulher como Gilda! Quero dizer: Rita Hayworth, a estrela do filme de 1946 com o nome que a tornou o maior símbolo sexual da época.

Por aqui, jamais haverá outro inconfidente como Roberto Jefferson, ex-deputado federal e ex-presidente do PTB, que em 2005 denunciou o mensalão do PT.

Nós, jornalistas, sempre seremos órfãos dele.

Tem um inconfidente novinho na praça. Atende pelo nome de Oscar Jucá Neto, o Jucazinho. Por suspeita de ter prevaricado, foi demitido na semana passada da diretoria financeira da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Deu o troco: em entrevista à VEJA, disse que há corrupção grossa no ministério da Agricultura.

Jogou lama no ministro Wagner Rossi, indicado para o cargo pelo vice-presidente da República, Michel Temer.

Jogou no próprio Temer ao insinuar que ele tira vantagens do esquema.

Irmão de Romero Jucá, líder do governo no Senado, Jucazinho detonou uma briga interna no PMDB. É isso, por ora. Está longe de fazer sombra a Roberto Jefferson.

Quando algum detentor de segredos cabeludos se vê ameaçado de perder o emprego e de responder a processos, os jornalistas trocam olhares ansiosos e começam a cercá-lo.

Os mais ousados até se arriscam a escrever que a República irá abaixo caso o sujeito perca o controle e decida contar o que sabe.

Costuma ser mais torcida do que crença.

Torcemos, por exemplo, para que um dos aloprados abrisse o bico. Em vão.

O silêncio deles e o descaso das autoridades contribuíram para que ficasse sem punição o escândalo do dossiê fabricado pelo PT para atanazar a vida de Geraldo Alckmin e de José Serra, candidatos a presidente e a governador de São Paulo em 2006.

Torcemos para que Paulo Preto admitisse ter tomado dinheiro de empresários para financiar no ano passado a campanha de Serra a presidente. Em vão.

Paulo Vieira de Souza, vulgo Paulo Preto, havia sido diretor de engenharia da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa). Conhecia o caminho dos cofres gordos.

Tucanos emplumados confidenciaram que ele sumira com R$ 4 milhões doados por empreiteiras para a campanha de Serra.

No que Paulo Preto avisou que ninguém abandona amigos no meio do caminho, os tucanos eriçaram as penas em sinal de nervosismo, Serra logo saiu em defesa dele e o episódio se esgotou rapidamente.

Luiz Antonio Pagot, demitido pela presidente Dilma Rousseff da direção-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes (DNIT), tinha munição suficiente para produzir um estrago maior do que o protagonizado por Roberto Jefferson. Preferiu não usá-la. Por quê?

Porque o Governo Dilma aprendeu com os governos que o antecederam a não incorrer no mesmo erro cometido por Lula em relação a Roberto Jefferson.

José Sarney tinha horror a demitir, mas quando era obrigado a fazê-lo não deixava demitidos em apuros. FH também não deixava, embora demitisse com mais facilidade.

Roberto Jefferson fez tudo para não pagar sozinho pela roubalheira descoberta na Empresa de Correios e Telégrafos, entregue aos cuidados do PTB.

Quanto mais pedia ajuda a auxiliares de Lula, mais a corda apertava em torno do seu pescoço. Convencido de que estava condenado, concluiu: "Posso até morrer, mas outros morrerão comigo." E assim foi.

Desde que Dilma decidiu afastar Pagot do DNIT, o Governo estendeu um macio e portentoso tapete vermelho para que ele fosse embora, digamos, de cabeça erguida.

Tanto cuidado se justificava. Pagot arrecadou dinheiro para o 1º e o 2º turnos da eleição de Dilma. E ainda arrecadou mais para depois pagar dívidas de campanha.

De resto, vicejava a suspeita, alimentada por ele mesmo, de que assinara contratos e de que engolira aditivos somente para livrar o PT de sérias dificuldades financeiras.

Lula tinha Pagot na mais alta conta, essa é que é a verdade. O comando nacional do PT, então nem se fala. Perdeu um companheirão – eficiente, discreto e solidário.

O senador Blairo Maggi (PR-MT), padrinho político de Pagot, foi convidado para suceder Alfredo Nascimento no ministério dos Transportes.

O convite não era para valer – era só para amansar Pagot. Maggi jamais aceitaria ser ministro para não correr o risco de ver expostas e mal interpretadas as entranhas dos seus negócios com o Governo.

Pagot recusou o afastamento sumário e declarou-se em férias – exigência aceita. Ofereceu-se para depor duas vezes no Congresso – exigência aceita. Ali, repetiu que nada fizera sem o conhecimento dos seus superiores. O governo ouviu calado.

Por fim, despediu-se do DNIT com um comício para 500 servidores. E certo de que não será investigado.

Saudades de Gilda! Jamais haverá uma mulher como ela".






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