Sanguessugas: MPF oferece mais uma denúncia contra Luiz Vedoin

O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu nesta semana mais uma denúncia (acusação formal) contra o empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin (foto), 33, apontado como um dos chefes da máfia das ambulâncias, e dois supostos laranjas usados no esquema de fraudes na venda de unidades móveis de saúde e equipamentos hospitalares para prefeituras a partir de recursos de emendas parlamentares ao Orçamento da União.

Caso a Justiça decida abrir ação penal, Vedoin, Luís Bernadino de Souza Neto, 25, e Éder Pereira de Souza, 39, devem responder por falsidade ideológica e crimes contra a ordem tributária. Investigações da Polícia Federal apontaram alterações no contrato social da Klass Comércio e Representações Ltda., de Cuiabá, feitas em 2003 a partir da apresentação de declarações falsas. Bernadino Neto e Souza passaram a figurar como sócios da empresa.

“Em representação fiscal para fins de inaptidão da sociedade em empresa investigada, a Receita Federal havia concluído pela existência de fortes indícios de que a mesma era integrada por ‘laranjas’, posto ter verificado a ausência de capacidade econômico-financeira de Luís Bernadino de Souza Neto e Éder Pereira de Souza para realizar os aportes financeiros indicados nas alterações feitas no contrato social, com o intuito de adquirirem cotas e ingressarem na sociedade”, escreveu a procuradora Ana Claudia de Sales Alencar.

Ainda conforme a procuradora, “a Receita constatou que os cheques da firma nos valores iguais ou superiores a R$ 10 mil eram assinados por Luiz Vedoin e favoreciam empresas dos Trevisan Vedoin, além de pessoas físicas do seu grupo familiar, e o sistema de fiscalização também concluiu que a conta bancária da sociedade estava sob controle da família”. Intimados pela Receita em 2004, os “sócios” deixaram de prestar os devidos esclarecimentos sobre o “real quadro societário da Klass”.

Em depoimento prestado à PF, Bernadino Neto disse ter aceitado a proposta de Vedoin para figurar como sócio em troca de sua efetivação na empresa, onde trabalhava como auxiliar administrativo. Ele teria continuado a exercer a mesma função e a receber o salário de R$ 500 mesmo após virar sócio.

“Em suas declarações, Bernadino afima que entregava os comunicados da Receita Federal ainda lacrados a Luiz Antonio e assinava os documentos por ele confeccionados para justificar o não comparecimento perante a autoridade fazendária”, consta de relatório elaborado pela polícia.

Sócio minoritário, o vendedor Éder Pereira de Souza teria sido “cooptado” da mesma forma. Ele relatou à PF que cedeu o nome para figurar no contrato da empresa em troca de sua contratação permanente e que foi usado por Vedoin “para assumir problemas pelos quais nunca teve responsabilidade”. Bernadino Neto e Souza disseram que não se conheciam.

A procuradora já arrolou como testemunha o auditor fiscal Maurício Ferraz. Procurada pela reportagem, a advogada do empresário, Amanda Barreto, informou que o seu cliente ainda não foi citado. Disse desconhecer a denúncia e preferiu não se manifestar sobre o tema.

Luiz Antonio Vedoin já responde a uma série de outros processos, sendo ao menos uma ação penal por formação de quadrilha, corrupção ativa, crimes contra a administração pública e fraude em licitações. Ele também aparece em ações de improbidade administrativa contra parlamentares.

A Klass era uma das empresas do grupo Vedoin. A PF iniciou as investigações em 2004 e, com o auxílio da Receita Federal, identificou 22 empresas fantasmas montadas para dar aparência de veracidade às concorrências para venda de ambulâncias. Deflagrou a Operação Sanguessuga em 2006. No total, a quadrilha teria movimentado R$ 110 milhões desde 2001 e entregue 1.000 veículos.