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Nacional
Sexta - 28 de Março de 2008 às 07:57
Por: Raphael Prado

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Duzentas e cinqüenta e uma lâmpadas iluminam Fernando Henrique Cardoso na noite da quinta-feira, 27. O ex-presidente está na sala Topázio Imperial, do Hotel Crowne Plaza, em São Paulo, a proferir uma palestra e dividir a atenção de seu partido, da Social Democracia Brasileira.

Durante a palestra, uma crítica direta - e dura - ao presidente da República, o atual, Lula, que arranca risos da platéia. Refere-se ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC):

- O PAC não é nada. O PAC é dinheiro do Orçamento que Lula fica falando: "PAC, PAC, PAC..."

Em outro ponto da cidade, não muito distante dali, alguns militantes do PSDB realizam um ato pela candidatura própria à Prefeitura de São Paulo. Geraldo Alckmin, o nome do partido para o cargo, não comparece. Ele também está a palestrar, em Ribeirão Preto - este sim, um ponto distante da cidade. Trezentos e dezesseis quilômetros.

De olhos e ouvidos voltados para FHC, uma platéia de cerca de 600 pessoas. Entre elas, o candidato derrotado ao Senado, Afif Domingos, o ex-ministro da Justiça José Gregori e o ex-ministro da Educação, hoje deputado, Paulo Renato de Souza. Junto de FHC, o presidente estadual do partido, deputado Mendes Thame, que faz a abertura do encontro.

Ele destaca os feitos do ex-presidente. Diz que a inflação controlada em sua gestão como ministro da Fazenda de Itamar Franco proporcionou aos pobres a recuperação do poder de compra. Que à frente do Palácio do Planalto, Fernando Henrique fez a "reforma agrária mais democrática da História do planeta, distribuindo terras num total equivalente ao tamanho do Uruguai". Mendes Thame destaca ainda o programa de combate à aids, a universalização da educação.

Já de microfone em punho, FHC diz que ele foi "generoso".

Fernando Henrique faz um breve histórico de sua carreira. Lembra os tempos em que foi ministro da Fazenda e aproveita para cutucar Delfim Netto - que em entrevista a Terra Magazine afirmou que o ex-presidente entregou o país "falido":

- A inflação é fruto do endividamento de outras épocas, sobretudo de Delfim Netto com suas obras faraônicas.

O ex-presidente faz o que pouca gente no PSDB fez por ele (queixa do próprio), sobretudo na derrotada campanha eleitoral de 2006: defende seu governo. A privatização da Vale do Rio Doce, da telefonia.

É aplaudido. Ovacionado após um grito de: "muito bem!"

Ele elogia o sistema de concessão para a exploração de petróleo. Elogia o ex-presidente da Petrobras, Henri Phillipe Reichstul. "Um técnico":

- Antigamente, os presidentes da Petrobras eram os próprios militares. Geisel presidiu a Petrobras ao mesmo tempo que (presidiu) a República. Depois, passaram a ser políticos. Depois, técnicos. Hoje são meio políticos, meio técnicos e outras coisas que eu não quero nem qualificar...

José Sergio Gabrielli, o atual presidente da estatal, é político, petista. E também professor de economia na Universidade Federal da Bahia. FHC continua, agora nas estatais:

- A ANP (Agência Nacional de Petróleo) está submetida à Petrobras. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)... bom, vocês viram o que aconteceu por falta de técnicos... - referindo-se à crise aérea.

David Zylberstein, ex-presidente da ANP, é técnico, engenheiro. E também era genro de Fernando Henrique Cardoso quando assumiu o cargo.

Finalizando, porque "alguém me diz que estourei o tempo", o ex-presidente da República muda, legitimamente, para um tom de palanque. Talvez até como desabafo pela - já dita e reclamada - defesa que os tucanos não fazem de seu governo.

- O PSDB tem que defender com energia as bandeiras que desfraldou! Nós modernizamos o Brasil! Nós não queremos um Brasil de atraso! Esse é o partido da modernidade! Não precisa ter vergonha de privatização! Privatizamos sim, e privatizaremos quando for necessário.

Ressalva:

-... quando for de interesse popular, do público. Que é o nosso interesse.

Sobra para a China...:

- Temos que defender a democracia. A China pode crescer o quanto quiser, mas nós somos contra. Não contra a China, mas contra a falta de democracia que existe lá.

Enfático, defende o voto distrital misto. Alega que, assim, fica mais fácil a prestação de contas diretamente para a sociedade. Tem um motivo:

- Tudo (aqui no Brasil) vai para debaixo do tapete. Mas daqui a pouco esse tapete vai voar, de tanta coisa que tem embaixo.

Aplausos. De pé. Com exceção de uma foto ou outra de um repórter mais atrevido, FHC despista a todos por trás do auditório. Dá tempo de uma pergunta, sobre a popularidade de Lula, que atingiu 58%:

- Eu não me surpreendo com mais nada.

Retira-se. Segue um coquetel de água, chá, café e leite do lado de fora do Topázio Imperial. Fernando Henrique deixa seu legado: aos jornalistas, sobram os ex-ministros.





Fonte: Terra Magazine

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