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Nacional
Quarta - 26 de Dezembro de 2007 às 13:02

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Voar em 2007 foi um verdadeiro pesadelo no Brasil, em cujos aeroportos imperaram o caos e o medo, agravados pelo segundo acidente aéreo em 10 meses, que causou a morte de 200 pessoas e custou o cargo do ministro de Defesa, Waldir Pires.

A severa crise aérea aberta pela tragédia de setembro de 2006, quando um avião da Gol caiu na Amazônia, se agravou este ano e chegou a limites impensáveis.

O desastre do ano passado, que matou 174 pessoas, era até então o pior na história da aviação civil brasileira. Mas em 17 de julho deste ano um Airbus A-320 da TAM aterrissou sob chuva fina no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, saiu da pista, bateu num depósito da subsidiária TAM Express e se incendiou, causando a morte de 199 pessoas.

Antes da segunda tragédia em menos de um ano, as filas nos aeroportos, os atrasos e cancelamentos de vôos e as constantes greves de controladores aéreos e do pessoal de terra eram o cotidiano nos aeroportos de todo o Brasil.

O Governo não encontrava solução, mas buscava desculpas. A situação foi ficando inaceitável para quem se via obrigado a viajar de avião. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a atribuir a crise ao "bom andamento da economia", que permitia "o luxo" de voar a um número crescente de pessoas.

Poucos dias antes do acidente do avião da TAM, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, chegou a recomendar aos passageiros que se viam obrigados a enfrentar filas que o melhor era "relaxar e gozar".

Ela opinou que "os transtornos sempre são esquecidos" e que o turista guarda na lembrança as maravilhas de suas férias.

Marta pediu desculpas pela "frase infeliz". Mas, logo depois, em meio a constantes ameaças de greve dos controladores de vôo, outro funcionário de alto nível provocou indignação.

José Carlos Pereira, então presidente da estatal Infraero, responsável pela administração dos aeroportos do país, explicou que uma possível greve de controladores não comprometeria a segurança.

"Os aviões não caem quando ficam em terra", disse.

Duas semanas depois das suas declarações, o avião da TAM bateu após tentar arremeter na pista de Congonhas. O acidente levantou dúvidas sobre o aeroporto, os sistemas de freio do Airbus e o trabalho de fiscalização das autoridades.

O acidente, que oposição e a imprensa chamaram de "tragédia anunciada", levou a paciência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao limite. Em março, ele tinha exigido um "diagnóstico preciso" da crise nos aeroportos e "um dia e uma hora" para anunciar "o fim dos problemas".

O presidente destituiu o até então intocável ministro da Defesa, Waldir Pires. Em seu lugar assumiu o jurista Nelson Jobim, com "carta branca" para encontrar uma saída da crise.

No dia da posse de Jobim, Lula admitiu publicamente que tem "medo de andar de avião" e que cada vez que precisa voar entrega seu destino a Deus.

Jobim encarou sua nova tarefa com firmeza e um compromisso que, por si só, deixou em evidência a gravidade da crise. "Queremos que os aviões decolem, voem e cheguem a seu destino", disse, ao assumir o Ministério.

A sua primeira medida foi redistribuir os planos de vôo, descongestionando o aeroporto de Congonhas. Construído há 70 anos com âmbito regional, o terminal tinha se transformado no de maior tráfego do Brasil.

Foi o suficiente para encurtar as filas e criar uma certa ordem nos aeroportos de todo o país, que vinham sendo prejudicados pelo "efeito dominó" causado a partir de Congonhas.

Além disso, Jobim iniciou um processo de degola da cúpula da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Um por um, os diretores da agência reguladora foram cedendo à pressão caindo: Denise Abreu, Jorge Luiz Brito Velozo, Leur Lomanto e Josef Barat.

O último a pedir demissão foi o presidente do órgão, Milton Zuanazzi, em 31 de outubro.

Na Câmara, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi aberta para investigar as causas do caos aéreo. Para irritação da oposição, o relatório final do deputado Marco Maia (PT-RS) não pediu o indiciamento da cúpula da Anac.

Outra CPI, no Senado, concluiu seus trabalhos pedindo o indiciamento de 16 pessoas, entre elas a ex-diretora da Anac Denise Abreu e o ex-presidente da Infraero Carlos Wilson.

Já o inquérito policial sobre o acidente com o Airbus da TAM continua, enquanto parentes das vítimas se irritam com a demora na apresentação de um diagnóstico e dos culpados pela tragédia.

Agora, no fim do ano, preocupado com a alta demanda no período de Natal e nas férias de verão, Jobim apertou as empresas de aviação, que se verão obrigadas a ressarcir os passageiros pelo atraso dos vôos.

Por enquanto, a receita está funcionando. A crise parece ter acabado e não muitos acham que Nelson Jobim reúne as credenciais necessárias para pensar numa possível candidatura presidencial em 2010.





Fonte: EFE

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