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Educação/Vestibular
Quarta - 18 de Julho de 2007 às 15:44
Por: Laura Beil

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Quando Jami Waite se formou no segundo grau, este ano, em Hallsville, nordeste do Texas, seus pais assistiram com os olhos repletos de lágrimas, das arquibancadas do ginásio da escola, orgulhosos por tudo que a filha conseguiu. A mais jovem das pessoas da família estava concluindo a infância com um diploma de honra ao mérito, com posição garantida na banda da escola, acompanhada de muitos amigos fiéis, liderando a equipe de cheerleaders, e firmemente decidida a preservar a virgindade.

"As pessoas podem ser abstinentes, isso não é esquisito", declarou Waite. O rosto dela enfeita outdoors e comerciais de televisão, já que Jamie é um símbolo de abstinência sexual para a Virginity Rules, uma organização que começou pequena na vizinha Longview mas agora opera em oito condados do Estado, em defesa da abstinência.

No entanto, a Virginity Rules e outros 700 programas semelhantes de educação para a abstinência terão de enfrentar pela primeira vez ameaças sérias ao seu futuro. Os departamentos de saúde de 11 Estados rejeitaram a educação para a abstinência, este ano, enquanto os legislativos estaduais do Colorado, Washington e Iowa aprovaram leis que podem eliminar, ou ao menos restringir, a presença desse tipo de organização nas escolas.

Os oponentes desse tipo de programa receberam munição mais pesada para seus ataques recentemente, quando o mais abrangente estudo dos programas de promoção da abstinência já conduzido não encontrou provas de que eles retardassem o início da atividade sexual. E, depois de desfrutar de uma elevação de 500% nas verbas a eles destinadas pelo governo federal, os programas de abstinência receberam em junho o seu primeiro corte de verbas desde 2001, por obra do Comitê Orçamentário do Senado.

Mas o corte de verbas continua em aberto. Cerca de US$ 176 milhões em dotações federais sobreviveram a diversas manobras na Câmara dos Deputados, e o plenário da Câmara deve debater a questão em 18 de julho como parte do projeto de lei orçamentária para a saúde e os serviços humanos.

Perdido em meio ao rancor político, porém, está o fato de que adolescentes em todo o país vêm praticando mais abstinência, e, especialmente entre os adolescentes mais velhos, têm usado mais os anticoncepcionais, quando optam por não se abster.

Embora os motivos da tendência não sejam plenamente compreendidos, dados do governo demonstram que a tendência surgiu anos antes que a educação para a abstinência se tornasse a empreitada multimilionária em que se transformou hoje. Por meio de uma combinação entre menos sexo e maior uso de anticoncepcionais, as gestações e a natalidade vêm caindo desde 1991, entre os adolescentes dos Estados Unidos. O Texas, porém, registra o menor declínio do país, apesar de ter recebido US$ 17 milhões em verbas para promover a abstinência.

Ao abandonar a educação para a abstinência, os Estados em larga medida alegaram que programas mais abrangentes de educação sexual, que discutem medidas anticoncepcionais de maneira mais profunda do que a simples concentração em seus índices de ineficiência, têm fundamentos científicos mais sólidos. As novas leis do Colorado, Washington e Iowa dispõem que a educação sexual deve se basear em "pesquisas" ou "ciência", termos que muitas vezes são interpretados como código para designar discussões de métodos mais seguros de fazer sexo.

Boa parte dos dados mencionados em apoio à eficácia dos programas de abstinência derivam de diversos levantamentos conduzidos antes e depois da implementação desses programas. Os levantamentos freqüentemente constatam que a intenção de se manter abstinente ganha força, mas isso não necessariamente significa que, um ano mais tarde, os adolescentes continuem a respeitar essa intenção.

A maior parte dos estudos conduzidos até o momento não constatou impacto significativo sobre o comportamento, e os poucos que o fizeram registraram mudanças no máximo modestas. Em abril, a Mathematica Policy Research divulgou um estudo que foi conduzido durante nove anos, ao custo de US$ 8 milhões. Os pesquisadores acompanharam durante cinco anos alunos de primeiro e segundo grau que se inscreveram em quatro programas de abstinência separados, e não constataram diferença na idade média do primeiro intercurso entre eles e seus colegas que não haviam se inscrito em programas do tipo.

Parafraseando Carl Sagan, não se sabe se a ausência de prova é prova de ausência, nesses casos. Um dos principais especialistas em programas de educação sexual, o Dr. John Jemmott, da Escola Annenberg de Comunicação, parte da Universidade da Pensilvânia, diz que alguns programas de promoção da abstinência são promissores. Ele tem esperanças quanto a um currículo de abstinência que desenvolveu e que, ao contrário de muitos, tenta levar os adolescentes a refletir sobre as conseqüências de seus atos, questionando, por exemplo, se um namorado realmente amaria mais a namorada caso ela faça sexo com ele. Muitos dos programas existentes se concentram demais nos riscos do sexo, e não nos motivos para que as pessoas o façam.

Jemmott sabe que muitos de seus colegas consideram a educação para a abstinência como experiência fracassada. "Isso é injusto. Eles deveriam dizer que os dados não determinam se os programas são ou não eficazes". Por outro lado, ele também considera injusto dizer que os programas de educação sexual que discutem o uso de camisinhas sem estigmatizá-lo encorajam o sexo. Os dados obtidos em muitos deles, de fato, indicam o oposto.

Embora o futuro da educação para a abstinência seja incerto, em Longview, Eric Love, do Programa de Abstinência do Leste do Texas, acredita que "a mensagem continuará a ser transmitida, quer o governo conceda verbas, quer não". Pergunta a Jami Waite. A ex-cheerleader está decidida a se manter virgem na faculdade, onde estudará enfermagem. Ela planeja se casar, um dia. Até lá, a virgindade continuará a comandar.





Fonte: The New York Times

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