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Politica Brasil
Quarta - 10 de Maio de 2006 às 07:37

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O preso mais bem guardado de Mato Grosso é irônico, sagaz e está confiante. João Arcanjo Ribeiro, acusado e condenado por chefiar o crime organizado em Mato Grosso, vai tentando desmontar aos poucos a fama de homem mal, criminoso cruel e cobrador implacável que ganhou ao longo dos anos em que comandou o jogo do bicho, empresas de factorings, cassino e empreendimentos agropecuários. Nesta terça-feira, no tão esperado depoimento à CPI dos Bingos, o “comendador” ganhou mais um “round” da batalha pública: falou muito, mas negou tudo que pesa contra si.

No início da audiência, o presidente da subcomissão, Romeu Tuma, leu o habeas corpus de Arcanjo e deixou a palavra com o depoente, que abriu mão do direito. Respondendo ao relator, Juvêncio da Fonseca, o "comendador" afirmou nunca ter trabalhado com casas de bingos nem com máquinas de caça-níqueis. “Já tive oportunidade de ter bingos no Mato Grosso, mas não quis. Jogo de bicho sim, desde 1980. Tive também cassino” - esclareceu Arcanjo.

Arcanjo afirmou nunca ter feito doações para campanhas eleitorais e disse não conhecer o ex-governador Dante de Oliveira. Nilson Teixeira vem sendo colocado como nome de desvio para questões mais intrincadas como essa ligação política. Arcanjo diz quem administrava os “fomentos” das factorings era o ex-gerente de banco. “Ninguém ia lá me procurar” – frisou. Arcanjo também rechaçou a acusação de ter influência no meio político do Mato Grosso. “Influência nem na minha casa eu tinha, minha mulher que mandava” - brincou.

Em verdade, a cada necessidade de aparição pública Arcanjo vai obtendo mais e mais desenvoltura e vai ganhando confiança. Foi assim na entrevista de 1 hora e 10 minutos com a imprensa de Mato Grosso. Algemado, Arcanjo foi escoltado por 20 policiais federais até o auditório onde aconteceu a sessão da CPI. O local já havia sido revistado pelos agentes em busca de explosivos e outros artefatos. A proteção de Arcanjo envolveu aproximadamente 80 policiais civis e federais.

Pouco antes do pouso do helicóptero, o advogado de Arcanjo, Zaid Arbid, preveniu a imprensa de que, apesar do habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a seu cliente, Arcanjo iria "se desviar apenas das respostas" que envolvessem os crimes aos quais já está condenado a 37 anos de prisão: evasão de divisas e lavagem de dinheiro. “No mais ele deve falar” - garantiu o advogado, que confessou receio de que o depoimento fosse utilizado como "palanque eleitoral".

Apesar de falar muito, e com segurança e desenvoltura, o "comendador" negou ter praticado inclusive os dois crimes em que foi condenado. O foco da reunião primeiramente se voltou para o suposto envolvimento de Arcanjo com Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva, o "sombra", cujos nomes são citados quando se discute o assassinato do prefeito de Santo André (SP), o petista Celso Daniel.

Ronan é dono de empresas de transporte coletivo tanto no município paulista quanto na capital mato-grossense. O "sombra" é o ex-segurança de Celso Daniel, apontado como o mandante do assassinato, acontecido em janeiro de 2002. Arcanjo negou conhecer Ronan e Sérgio Gomes da Silva mais de quatro vezes e disse também nunca ter sido sócio do empresário paulista e de nenhuma empresa de transporte. O depoente afirmou ser absurda a suspeita de que teria participado do crime contra o prefeito.




Fonte: 24 Horas News

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