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Cultura
Quarta - 29 de Março de 2006 às 10:19
Por: Luiz Carlos Merten

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SÃO PAULO - Em 1945, Fritz Lang associou-se de novo ao trio de intérpretes do seu cultuado Um Retrato de Mulher - Joan Bennett, Edward G. Robinson e Dan Duryea - e fez Almas Perversas (Scarlet Street). O filme retoma até o tema da pintura do anterior, mas o curioso é que se trata do remake de um clássico do francês Jean Renoir nos anos 1930. Jean, filho do grande pintor impressionista Auguste Renoir, havia feito La Chienne, com Michel Simon e Janie Marese, em 1931. Ernst Lubitsch, grande admirador do filme, queria refazê-lo nos EUA e convenceu a Paramount a comprar os direitos, mas desistiu do projeto.

Lang levou-o adiante e trabalhou no roteiro com Dudley Nichols. Veio dele a idéia de transpor a trama que se passava em Montmartre para o (então) bairro boêmio de Nova York, Greenwich Village. Mas Lang não conseguiu manter o título de Renoir, como queria. Um filme norte-americano chamado A Cadela era inviável, ontem como hoje. Na trama, Edward G. Robinson faz funcionário medíocre que tem a pintura como hobby, mas a mulher megera o força a pintar no banheiro. Ele se envolve com Joan Bennett, que o convence a alugar um loft para ela, sob a alegação de que poderá ser usado como estúdio.

Joan tem um amante (gigolô?). Dan Duryea leva um desses quadros a um marchand, que o avaliza como grande obra de arte e diz que vale ouro. A dupla convence Robinson de que Joan deve assinar a obra. O resto você pode imaginar - Robinson comete um assassinato, vira mendigo que dorme no Central Park e, na noite de Natal, vê o quadro que foi motivo de seu infortúnio sair da galeria para ornamentar a parede de algum milionário, enquanto ele está ali jogado, na rua.

Todo Lang está presente neste clássico noir. A fotografia em preto-e-branco cria um universo de sombras no qual o (anti)herói do diretor se bate, para perder, contra as forças muito mais poderosas do destino. Muitos críticos sempre estranharam que o Código Hays, que regia o uso do sexo e da violência na tela, tenha deixado Robinson impune no fim de Almas Perversas. Impune, o próprio diretor perguntava? Uma ruína humana como Robinson, no fim de Almas Perversas, sofre a pior condenação, ele dizia. Lang, vale lembrar, assinou outro remake de Renoir. Desejo Humano, de 1954, baseia-se em A Besta Humana, de 1938.

Almas Perversas (Scarlet Street). EUA, 1945. Direção de Fritz Lang. DVD da Aurora. Nas lojas, R$ 35,90.





Fonte: Agência Estado

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