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Politica Brasil
Quarta - 11 de Janeiro de 2006 às 04:54
Por: Dra. Lou de Olivier

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Freqüentemente presenciamos cenas e acontecimentos em que pessoas negras são desacatadas, discriminadas por sua cor. Algumas situações são bastante constrangedoras em que as pessoas chegam até a ser confundidas com ladrões ou seqüestradores somente por sua cor. Isso é, sem dúvida, bem desagradável, chocante e precisa ser combatido. Mas existe, como em todas as situações, um outro lado, vários ângulos de uma mesma questão que não podemos ignorar. Trata-se da essência do racismo e das diversas formas como ele pode manifestar-se.

Na verdade, racismo, em sua definição é uma doutrina ou pensamento que defende a superioridade de certas raças. E, nesta superioridade, podemos estender a arrogância diante de um individuo considerado inferior seja por sua condição seja pela situação enfrentada e isso independe de cor de pele. É possível ser vítima de racismo até mesmo sendo muito claro em meio a pessoas mais morenas, por exemplo.

Cada vez que me deparo com alguma manifestação contra o racismo envolvendo negros, me vem à mente uma cena, na qual, sem querer, servi como figurante, há muitos anos, mas nunca esqueci pela profunda mágoa que me causou. Entrei numa loja, onde sempre fazia compras e escolhi as mercadorias. Ao parar no balcão para somar e pagar minha compra, não pude deixar de ouvir a proprietária da loja conversando com uma cliente ou amiga, sei lá, ambas negras, falando de uma pessoa branca. Em certo momento, a cliente disse:

- Esses brancos não valem nada, nenhum deles. - Essa de quem falo é branca, mas é honesta...

Respondeu a proprietária da loja sem preocupar-se em reparar que eu também era branca e não gostei nada de ouvir aquele comentário... Pensei em dizer algo, mas dizer o quê? Se, para ela, todos os brancos são desonestos e somente essa branca escolhida a dedo merece confiança, o que eu teria a fazer senão retirar-me da loja e não mais voltar lá?

Como eu estava com muita pressa, sem tempo para comprar em outro lugar, resisti a vontade de largar tudo no balcão ou atirar tudo ao chão e roubar a cena, apenas limitei-me a pagar minha compra e sair para nunca mais retornar àquela loja.

Sai tão magoada que fiquei pensando que deveria fazer algo para mudar isso, mas fazer o quê? Prestar queixa numa delegacia? Procurar um advogado? Chorar escondida no quarto? Ou assumir que tive o desprazer de deparar-me com uma criatura que não gosta de brancos? O que os tribunais têm a ver com isso?

Isso já aconteceu há muitos anos, uns dez aproximadamente, mas a cada nova discussão sobre racismo, lembro-me nitidamente da cena. E esse tipo de racismo? Tem algum respaldo? Alguém pode mover uma ação neste caso e ganha-la? Aliás, seja qual for a vitima de racismo, branca ou negra, se ganhar uma ação dessas, verá mesmo seu “agressor” ser preso, pelos até três anos prometidos? Os presídios já não estão abarrotados de presos que cometeram crimes tão mais graves, para onde irão os praticantes do racismo?

Indo mais além, o que se pode dizer das pessoas apelidadas em escolas, escritórios e comunidades, por muitas vezes de forma pejorativa, chamados constantemente de “japonês”, “china”, “alemão”, “índio”, “branquelo”, “nego-aça” ou “sarará”, (forma popular de se chamar os albinos) e o que dizer de termos “loira burra”, “é bonita mas é inteligente” ou, “além de feia ainda é burra e mora longe” e tantas outras formas de humilhação diante de uma condição de beleza ou cor de pele. E todo esse racismo e preconceito não se equiparam aos termos “negróide” ou “negão” ou ao nome daquele doce delicioso que devorávamos na infância chamado “preto de alma branca” e que, de tanta polêmica, acabou apelidado de “brigadeiro branco” ?

A grande verdade é que entre brancos e negros há uma disputa em que os próprios negros se rebaixam, já ouvi muitas pessoas negras dizendo que têm essa cor de pele, mas a mãe era branca, é que “puxou ao pai”, ou vice-versa. Ora, se uma pessoa faz um comentário desses, o que pode esperar das pessoas a sua volta? Se uma pessoa não se aceita como é, quem mais poderá aceita-la? Ai, ao primeiro sinal de “discriminação” sai reclamando, movendo processos, aparecendo em programas sensacionalistas e por ai vai...

Eu poderia escrever indefinidamente e teria continuidade por ser um assunto muito rico e repleto de ângulos, mas o espaço não me permite, então, concluindo, digo apenas que, já passa da hora de todos os habitantes do planeta enxergarem fatos muito mais relevantes e entenderem que a pele apenas recobre uma máquina chamada corpo humano. E é essa máquina que realmente diferencia uns dos outros, principalmente, a máquina chamada “cérebro”, que muitos andam usando apenas para criar e polemizar questões irrelevantes, desprezando a grande capacidade de raciocínio de que são capazes.

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Dra. Lou de Olivier – Psicopedagoga e Multiterapeuta




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