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Internacional
Quarta - 16 de Novembro de 2005 às 21:50

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Milhares de iraquianos que vivem na Jordânia sofreram agressões por parte de jordanianos nos últimos dias que, apesar de constituírem fatos possivelmente isolados, chamam a atenção para o receio crescente em relação à sua presença no país.

No dia 9 de novembro, quatro terroristas iraquianos da Al Qaeda vindos do Iraque cometeram três atentados suicidas contra hotéis de Amã, deixando 57 mortos e uma centena de feridos.

Uma mulher do grupo, que não conseguiu ativar seu cinto explosivo, foi detida pela Polícia. Ela confessou na televisão, vestida com o cinto que falhou, que o comando terrorista chegou do Iraque e realizou os atentados.

Desde o primeiro momento, as autoridades jordanianas multiplicaram os pedidos de calma e lembraram a "irmandade" entre iraquianos e jordanianos, assim como a hospitalidade que a Jordânia oferece aos iraquianos que buscam refúgio.

Segundo disse à EFE Hana Murad, assessora de imprensa na embaixada iraquiana em Amã, a missão diplomática enviou uma carta ao Ministério jordaniano de Assuntos Exteriores para pedir maior proteção aos iraquianos diante da denúncia de várias agressões e atos de assédio que, segundo ela, "continuam sendo isolados e não têm caráter grave".

De acordo com Murad, algumas crianças agrediram um colega em uma escola de Amã, e uma jovem também apanhou de outros alunos na Universidade. Também há outras denúncias feitas por telefone à embaixada que a assessora não detalhou.

Ninguém apresenta números exatos sobre os iraquianos estabelecidos na Jordânia, mas algumas fontes falam de 800 mil pessoas. Entretanto, Murad lembrou que essa população é muito variável, pois pode passar uma temporada na Jordânia para voltar ao Iraque e, depois, sair novamente do país se a situação piorar.

Entre os iraquianos, há vários simpatizantes do regime deposto de Saddam Hussein, como as duas filhas de Saddam com seus filhos, antigos diplomatas, professores e homens de negócios. Mas também há iraquianos humildes que fogem da violência.

Jawad al Ali, antigo diplomata da embaixada iraquiana em Amã que não esconde suas simpatias por Saddam, disse à EFE que se sente "extremamente incomodado" com os atentados, porque "prejudicam a posição e a reputação" de seu país.

No entanto, ele diz não se sentir em perigo na Jordânia, um país que, segundo o ex-diplomata, oferece a segurança que falta no Iraque.

Ahmed al Mufti, médico iraquiano que vive entre Londres e Amã, diz se sentir em seu "próprio país" na Jordânia e lamenta que a violência no Iraque se reflita na nação vizinha, onde garante que não sentiu nenhuma animosidade nos últimos dias.

Iraquianos em condições mais ou menos estáveis repetem que nada mudou após os atentados e agradecem várias vezes à hospitalidade dos jordanianos.

"É um pecado que venham de nosso país para atacar a Jordânia. Por que não vão atacar os judeus?", se pergunta a iraquiana Sabriya, vendedora ambulante de lenços de papel que perdeu quatro parentes no Iraque nos últimos meses por causa da violência.

O Iraque se tornou um assunto de muita preocupação para a Jordânia, transformada também em uma espécie de "retaguarda" das organizações internacionais e embaixadas que evitam instalar-se no país vizinho.

Os preços do setor imobiliário estão disparando, e muitos atribuem este fenômeno ao dinheiro que os iraquianos estão investindo na Jordânia diante da insegurança em seu país, segundo fontes diplomáticas européias.

Apesar do discurso oficial de "irmandade e hospitalidade", muitos jordanianos criticam a generosidade demonstrada por seu Governo em relação aos iraquianos.

O vendedor Abdelhamid afirma sem rodeios: "fomos muito generosos com eles, mas já está chegando a hora de varrer o lixo".

Mais diplomático, o jornalista Fayek lembra: "fizemos vista grossa durante muito tempo, mas acredito que o Governo terá que enfrentar este problema".





Fonte: EFE

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