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Internacional
Terça - 26 de Abril de 2005 às 11:07

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Trinta anos depois do final da guerra, num quarto da antiga Saigon, hoje Ho Chi Minh, o velho general Pham Xuan An relembra à EFE sua época de jornalista e espião durante o combate.

Como o jornalista mais respeitado pelos correspondentes ocidentais durante a guerra do Vietnã, e ao mesmo tempo, um oficial do serviço de espionagem para as forças comunistas do Norte, An tem muitas histórias para contar.

Aos 77 anos e com uma doença que o levou a perder 30% de sua capacidade pulmonar, An cai em gargalhadas cada vez que lembra histórias sobre colegas jornalistas, agentes inimigos ou aliados.

Como jornalista vietnamita da agência de notícias Reuters e da revista Time, foi muito respeitado e conhecido pela imprensa durante a guerra. Suas opiniões eram sempre requisitadas por diplomatas, espiões e jornalistas.

Em 1945, com 17 anos, An se uniu à revolução e em 1954 começou a trabalhar no departamento psicológico de assuntos de guerra do Partido Comunista.

Em 1965 começou sua carreira de jornalista da Reuters e da Time, profissão que manteve até depois da reunificação do Vietnã.

Graças ao trabalho de repórter para a imprensa ocidental, teve acesso a altos cargos do exército vietnamita do Sul e a oficiais americanos, e, segundo vários historiadores vietnamitas, as informações estratégicas do general contribuíram para a vitória do norte comunista.

"Eu analisava a situação militar, política e econômica por um lado e, por outro, a atividade dos agentes secretos", explica o condecorado general.

An fotografava os documentos a que tinha tido acesso e os passava disfarçados de "rolinhos de primavera" ou escondidos em pães.

"Era muito fácil", diz num inglês impecável enquanto minimiza a importância de seu trabalho. "Você tem um documento de 36 páginas e bate 36 fotografias dele; passa o filme para um mensageiro que o leva para a selva para revelá-lo, e se estiver em perigo, puxa o filme e o vela, inutilizando-o".

Depois da guerra, seus esforços na luta contra o Sul foram premiados com quatro medalhas, o título de "herói do exército do povo" e a categoria de general.

"Muitas pessoas são famosas como grandes espiões só por um ou dois relatórios que ajudaram a mudar o curso da guerra, enquanto que Hai Trung (um dos muitos codinomes de An) fez dúzias deles", afirmou Muoi Nho, chefe de An na espionagem do norte, numa recente biografia publicada no Vietnã sobre o jornalista e espião.

An espera para o próximo 30 de abril, data do 30º aniversário do fim da guerra, uma grande quantidade de visitas de antigos colegas da imprensa.

Ao contrário de certos estudiosos nos Estados Unidos, o general An não vê nenhuma semelhança entre a guerra do Vietnã e o atual conflito no Iraque.

"Iraque e Vietnã são totalmente diferentes. A guerra do Vietnã foi uma guerra de independência durante a Guerra Fria, os americanos não gozavam do poder absoluto que têm agora. Hoje em dia podem derrubar qualquer regime, mas no Vietnã, tiveram de ser cuidadosos com a China e com a União Soviética", diz.

Mesmo comparando as 3 mil mortes do 11 de Setembro e os 1.500 militares americanos mortos no Iraque com os 58 mil soldados norte-americanos e 3 milhões de vietnamitas mortos na guerra do Vietnã, An acredita que a atual guerra de Washington contra o "terror" durará muito mais do que o conflito no país asiático.

"Os terroristas não têm mísseis e nem bombas atômicas, mas conseguiram atacar os Estados Unidos em seu coração. Os soviéticos, com todas suas armas, não se atreveram. Acho que a guerra contra o terror pode durar entre 20 e 50 anos", disse.

O general não guarda rancor de seus antigos inimigos, alguns dos quais seus amigos pessoais ainda hoje.

Mas An não vive no passado e nem na lembrança da morte e da destruição que a guerra trouxe desde a intervenção dos Estados Unidos no começo dos anos 60 até 1975.

"A guerra terminou. Temos de encarar o futuro. É preciso conhecer a história, não podemos nos enganar, mas também não devemos permitir que o passado nos envenene", afirma o general.





Fonte: EFE

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