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Politica Brasil
Domingo - 17 de Abril de 2005 às 08:59
Por: Márcia Raquel

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Com um discurso voltado para o Social, o médico e vereador de primeiro mandato, Guilherme Maluf, admite que vai trocar o PFL pelo PP visando uma candidatura a deputado estadual em 2006. Líder do prefeito Wilson Santos (PSDB) na Câmara de Cuiabá, Maluf não teme que a mudança partidária, que deve ser oficializada no dia 25 de abril, possa mudar a sua relação com o chefe do Executivo municipal.

Cuiabano, casado, pai de três filhos, Maluf afirma que as insatisfações geradas pelas dificuldades de prestar serviço na área de saúde é que o motivaram a entrar na política. Sob esse ponto de vista, o vereador chama a atenção para a necessidade de fazer com que a riqueza gerada pelo agronegócio no Estado se transforme em benefícios para a população.

Além de exercer a liderança do prefeito na Câmara, o novato é também presidente da Comissão de Economia e Finanças, que tem agora a missão de emitir o parecer sobre as contas da prefeitura de Cuiabá, referente a administração de 2003, gestão do prefeito Roberto França (PPS). Sobre isso ele nega que esteja articulando um movimento para a reprovação das contas e avisa: “meu voto vai ser técnico”. Porém, admite que há pressões políticas e uma tendência de rejeição em função das controvérsias detectadas na prestação de contas, uma vez que relatório do Tribunal de Contas apontou 73 irregularidades.

Diário de Cuiabá – O que motivou o senhor a entrar na política?

Guilherme Maluf - Meu principal empreendimento em Cuiabá e em Mato Grosso é o hospital Santa Rosa. Esse foi um dos motivos pelos quais eu entrei na política. Eu não admitia a gente querer prestar um atendimento em saúde de qualidade e o segmento não permitir, tanto a nível de retorno financeiro quanto de dificuldades políticas de credenciamento. Nós construímos um segmento dentro do Santa Rosa que visava fazer cirurgias cardíacas, chegamos a fazer uma ou duas, pelo SUS, esse serviço foi desmontado. Nós éramos os maiores transplantadores de rins do Centro-oeste e esse serviço também foi desmontado. Então foi somando uma série de insatisfações no segmento de saúde que fez com que eu e meu grupo nos articulássemos e concorrêssemos a alguma coisa. Concorremos pela Unimed, mudamos a diretoria da Unimed. Eu entrei na área da política partidária, fui eleito vereador, foi a primeira eleição. Senti na minha disputa também que havia uma exigência muito grande principalmente dos cuiabanos em ter representações na Câmara Municipal e na política e isso eu vi muito na campanha. Eu acho que me identificaram com esses anseios e eu acabei me beneficiando.

Diário de Cuiabá – O PFL é o seu primeiro partido?

Maluf – Não, eu já participei do PL. Havia um projeto de grupo do PL, mas o projeto se esvaziou e eu acabei saindo há uns três anos atrás. Na época havia até uma chance do Bosaipo (deputado Humberto Bosaipo) ser governador, ou fazer um projeto para isso, mas o projeto político não se desenvolveu e eu achei melhor procurar outro partido.

Diário de Cuiabá – O senhor entrou no PFL a convite de quem? Quais são líderes com os quais o senhor tem mais proximidade dentro do partido?

Maluf – No PFL eu tenho mais proximidade com Jaime Campos, Oscar Ribeiro e Joaquim Sucena. São as três pessoas que eu tenho uma proximidade maior.

Diário de Cuiabá – Como estão as conversações para a sua filiação ao PP? O que existe de concreto?

Maluf – Existe um convite feito pelo deputado Pedro Henry (federal) e pelo deputado Chico Daltro (estadual), avalizado também pelo deputado Riva (estadual). O PP pretende desenvolver um programa social para Mato Grosso. Eu já tive acesso a alguns desses dados, é um programa que me atraiu muito. É um programa que não fala só de infra-estrutura, fala de fome, educação, lazer, cidadania. Para isso eles estão montando um grupo. Lógico que há também interesses políticos. E nesse trabalho que eu tenho feito na Câmara eu tive afinidade muito grande com os dois vereadores do PP, o Marcus Fabrício e o Lutero Ponce. Nos damos bem na forma de trabalhar aqui e as coisas foram casando. Eu sou muito motivado por projetos, a política tem que ter sentido, a gente tem que buscar alguma realização social, senão não tem sentido. Não tenho nada contra a soja, não tenho nada contra ferrovia, mas a minha preocupação é o social e eu acho que o PP está encarando isso. Precisamos ter um estado com infra-estrutura, precisamos ter um estado referência em alguma coisa, que eu acho que é o agronegócio, mas não podemos esquecer esse lado social.

Diário de Cuiabá – Quando o senhor deve oficializar a sua filiação?

Maluf – Nós estamos terminando essas conversas, eu acho que até a semana que vem a gente está oficializando.

Diário de Cuiabá – Mas será que o senhor filia junto com o deputado Riva e os demais no dia 25?

Maluf – Há essa possibilidade.

Diário de Cuiabá – Essa migração sua para o PP não pode criar algumas arestas com o ex-governador Jaime Campos, tendo em vista toda essa discussão a respeito de possíveis cooptações?

Maluf – Olha, toda ação pode ter reação. Mas eu não vou ser o único a mudar de partido. Vão haver várias mudanças. Até setembro, que é a data limite, você vai ver que a classe política vai se mobilizar muito em questão de espaço e de projetos. Eu não tenho esse receio não. Eu acho que quando a gente tem um projeto e a gente acredita nesse projeto, se houver algum desgaste não acredito que seja grande não.

Diário de Cuiabá – O senhor já conversou com Jaime Campos?

Maluf – Já conversei com o prefeito Jaime Campos, ele está aguardando uma decisão minha. Já expliquei que eu estava tendo estas conversas com o deputado Pedro Henry, então é isso.

Diário de Cuiabá – Esse projeto do PP voltado para o social atinge justamente a área mais criticada na administração do governo Blairo Maggi (PPS), o senhor acha que seria um contraponto em relação a administração estadual?

Maluf – Olha, eu encaro isso como o que está faltando para Mato Grosso, é um aclame da sociedade. Eu já visitei alguns pólos de Mato e nós percebemos que o Estado é o maior produtor de grãos, tem o maior rebanho bovino, e o que falta aqui é esse tipo de produtividade dê efetivamente alguma melhoria na condição de vida do cidadão, isso tem que chegar na ponta. O partido está fazendo uma pesquisa e isso deve ser apresentado pelo deputado Pedro Henry como uma projeto partidário.

Diário de Cuiabá – Qual é o seu projeto para 2006? O senhor pretende disputar uma vaga para a Assembléia ou para a Câmara Federal?

Maluf – Efetivando esta vinda para o PP eu pretende construir uma candidatura a deputado estadual. Principalmente porque eu estou vindo a convite do deputado Chico Daltro, que é candidato a federal. O deputado Riva acha que essa discussão pode ser até postergada porque ele acha que primeiro eu preciso fazer uma base e aí analisar qual é a melhor opção de campanha, federal ou estadual. Mas eu acredito que deve ser realmente a de estadual.

Diário de Cuiabá – O senhor não teme que o fato de deixar o seu mandato de vereador pela metade possa ser mal entendido pelos seu eleitores?

Maluf – Eu acho que sim, mas eu julgo que estou sendo um vereador atuante. O maior número de indicações, tenho seis ou sete projetos de leis correndo na Casa, e eu acho que eu posso fazer muito mais como deputado estadual. Então os meus eleitores não precisam ficar preocupados porque se eu já faço alguma coisa como vereador, como deputado estadual eu posso fazer muito mais. Tenho certeza disso. O ruim é quando a pessoa não faz nada e chega para o eleitor e quer mais um voto de confiança. E isso não está acontecendo comigo.

Diário de Cuiabá – Como está sendo essa experiência do senhor como líder do prefeito, tendo em vista que o senhor é um vereador de primeiro mandato e normalmente essa função é delegada para parlamentares mais experientes?

Maluf – Tive algumas dificuldades no começo em função da minha inexperiência, mas a gente vem aprendendo muita coisa. Vários vereadores vêm colaborando. A credibilidade do prefeito Wilson Santos é muito importante. O que ele está desenvolvendo por Cuiabá é muito importante porque facilita o meu trabalho junto aos vereadores. Ele é um prefeito que exige transparência nas suas ações. Haja visto que entraram com uma solicitação de CPI e ele foi o primeiro a endossar essa CPI para investigar o transporte urbano. Então ele quer transparência na sua gestão e administração que eu julgo ser um pequena revolução.

Diário de Cuiabá – O senhor já conversou com ele sobre essa sua migração para o PP?

Maluf – O prefeito sabe que eu estou conversando com o PP, ele me convidou também para ingressar no PSDB, mas dentro do projeto do PP eu não vislumbrei o projeto do PSDB. Então, recentemente ele está viajando, mas a hora que eu terminar essas conversas eu tenho que sentar e conversar com ele.

Diário de Cuiabá – O senhor acha que a sua mudança partidária poder ter alguma interferência na questão da liderança?

Maluf – Eu acredito que não porque o deputado Pedro Henry foi o parlamentar que mais trouxe emenda para Cuiabá. É o parlamentar que, apesar de não ter ajudado diretamente o prefeito Wilson Santos, ele ajudou a compor a Mesa Diretora da Câmara Municipal em favor do PSDB. Então o PP hoje faz parte da base de apoio do prefeito Wilson Santos. Não acredito que isso vai mudar alguma coisa não.

Diário de Cuiabá - Em relação ao julgamento das contas do ex-prefeito Roberto França, referente ao ano de 2003, como está a discussão na Câmara? Quando o relatório deve ficar pronto?

Maluf – Nós temos uma data limite de votar terça-feira em plenário. Existem várias tendências na Câmara, uns vereadores pela aprovação, outros pela reprovação, em função da conta não ser muito fácil. É uma conta que tem 73 ressalvas e então fica muito difícil de analisar. Se você pegar um ou dois itens você acha que tem que reprovar, aí você vê a justificativa você se convence que não. Então, é realmente uma conta difícil de ser votada. Agora, o relator está concluindo esse relatório, ele está me passando o relatório e eu vou fazer uma análise final para eu dar o meu voto. Esse final de semana eu vou estar lendo esse relatório, vou dar o meu voto e levar esse parecer para o plenário na terça-feira.

Diário de Cuiabá – Houve alguns comentários recentes que o senhor estaria articulando junto a alguns vereadores a reprovação dessas contas, que o senhor pessoalmente estaria fazendo um trabalho de convencimento para que eles reprovassem as contas do ex-prefeito. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Maluf – Muitas vezes, por eu ser um empresário, eu sou muito crítico na análise de contas. Mas isso não existe. Inclusive várias vezes me perguntaram se o prefeito Wilson Santos tem interesse ou se mobilizou politicamente a bancada para aprovar ou rejeitar as contas, vocês vão ver que isso não vai acontecer, porque dentro da bancada tem gente que é favor e tem gente que é contra. Ele foi categórico ao solicitar a mim que não fizesse nenhum movimento político em favor de rejeição ou aprovação das contas. Então eu realmente já ouvi várias vezes esse comentário mas isso não procede. O que todo mundo esquece que essa Casa tem 13 vereadores novos e isso faz com que os vereadores tenham mais cuidado ainda por essa falta de experiência.

Diário de Cuiabá – O voto do senhor vai ser técnico ou vai considerar o contesto político.

Maluf – Meu voto vai ser técnico. Eu vou analisar o parecer. Eu também tenho a minha avaliação que está sendo feita independente do relator.

Diário de Cuiabá – Mas o senhor mesmo já afirmou que há uma tendência de reprovação.

Maluf – Em função dessas coisas que eu estou colocando. Eu pessoalmente acho que há uma tendência, eu não gostaria de declarar o meu voto agora porque ainda tenho que acabar de ler este relatório. Mas já fiz a minha análise, eu quero ver a análise do relator e segunda-feira devo proferir meu voto.

Diário de Cuiabá – O vereador Domingos Sávio (PT) falou que no ano passado ele se absteve porque em 2002 ele não estava no Legislativo. O senhor acha que essa justificativa também pode ser adotada este ano, tendo em vista que são 13 os vereadores novos na Câmara?

Maluf – Eu discordo do vereador Domingos Sávio. Eu acho que nós vereadores temos que ter competência para fazer essa análise, nós fomos eleitos pelo povo para fazer a análise dessas contas e eu vou fazer. No poder Judiciário um juiz pode se omitir quando ele se considerar impedido, mas eu vejo que no Poder Legislativo isso não procede. O único momento em que o legislador Julga é quando ele vota a conta do prefeito. Quer dizer, no único momento você se abster eu acho muito complicado.

Diário de Cuiabá – E por que essa demora na entrega do relatório pela Comissão de Economia e Finanças?

Maluf – Porque os autos são enormes, cada item dessas ressalvas foram justificadas, cada voto de cada conselheiro é justificado, então foi uma conta muito controversa, tanto é que foi aprovada por quatro a três.

Diário de Cuiabá – Mas o senhor não acha que deveria haver uma agilidade na Comissão de Finanças justamente para que os vereadores pudessem analisar com mais cautela este relatório?

Maluf – Concordo com você. Mas a Comissão de Finanças não tem uma estrutura para fazer essa análise, é algo que eu como presidente vou desenvolver um trabalho aqui para deixar uma estrutura mínima para fazer essas análises. Eu contratei auditor por minha conta e o vereador Éden já tem uma auditor da equipe dele. A Câmara não dispõe de estrutura, ou se dispõe é muito pequena.




Fonte: Diário de Cuiabá

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